Desde domingo que se especulava nos bastidores do PSD sobre quem poderia suceder a Feliciano Barreiras Duarte no lugar de secretário-geral. José Silvano nunca esteve nas listas de putativos candidatos ao lugar e talvez por isso mesmo foi sobre ele que recaiu a escolha de Rui Rio.
Como sempre, Rio escolheu dentro do seu círculo mais restrito. Silvano foi colega de Rio enquanto deputado, foi presidente da câmara quando Rio era autarca e foi ele quem apresentou Eliana Fraga ao líder do PSD.
“É um bocadinho mais do mesmo. Não aquece nem arrefece”, comentava um apoiante de Rio que se confessava “surpreendido” com a escolha, mas que acreditava que o nome era suficientemente pacífico para não causar uma revolta no conselho nacional, onde terá de ser aprovado e Rio não tem maioria.
“Foi uma surpresa”, concorda um dos opositores internos do líder, que acha que Silvano é um nome “inócuo”. A mesma fonte lamenta, contudo, que Rio tenha perdido a oportunidade de “fazer uma jogada de unidade”, saindo do seu círculo.
“Cada vez se fecha mais. Parece que não confia em ninguém abaixo de Coimbra”, ironiza.
Sentado na terceira fila, o deputado José Silvano – que construiu com Jorge Lacão a primeira versão da lei do financiamento dos partidos – é uma figura que não suscita grandes paixões nem grandes ódios.
O problema pode ser o facto de o deputado, apesar dos seus 61 anos, não ter grande estatuto nem conhecimento profundo do partido.
“Ninguém olha para Silvano e pensa que ele pode ser o porta–voz político do partido”, reconhece um apoiante de Rio, dizendo esperar para ver que papel poderá ter o novo secretário- -geral do PSD: se será mais um gestor do partido, como Matos Rosa, ou alguém com um perfil mais político, como era tradição até aí.
Fora do baralho Pedro Alves, Adão Silva e Emídio Guerreiro eram os nomes de que mais se falava. Mas Rui Rio tinha razões para não escolher nenhum deles.
A relação entre Alves e Rio azedou antes do congresso e ficou ainda pior quando o presidente não pôs o nome do líder da distrital de Viseu nas listas e este não se coibiu de se queixar disso em público.
Rio valoriza a confiança pessoal acima de tudo e isso afastava não só Alves, mas também Emídio Guerreiro. O homem que chegou a ser falado como hipótese para secretário-geral antes do congresso já não está no núcleo mais próximo do presidente social-democrata. E Adão Silva não se mostrou disponível para assumir o lugar.
Ontem, ao final da tarde, um conselheiro de Rio confessava ao i que a escolha estaria entre José Silvano e Carvalho Martins, outro dos mais próximos do líder, que chegou a ser um dos homens fortes do aparelho social-democrata no tempo do cavaquismo. “Não está muito atualizado, mas tem a escola toda”, apontava a mesma fonte.
Silvano parecia menos provável, mas o líder do PSD gosta de surpreender e fugir às lógicas do partido. “Rui Rio pensa pela sua própria cabeça e as pessoas valorizam isso”, garante um apoiante.
José Silvano tem um currículo no PSD que começou na juventude e que o fez passar pela liderança da distrital de Bragança e da concelhia de Mirandela. Mas dificilmente se poderá dizer que se trata de um homem do aparelho. E se Rio parece até apreciar esse traço, o mesmo talvez não se aplique às estruturas partidárias.
Um mês depois de Rui Rio chegar à presidência do PSD, as estruturas locais sentem a falta de um canal de acesso direto ao líder e esse é dos principais papéis de um secretário- -geral no partido. Feliciano Barreiras Duarte, às voltas com as polémicas que o levaram à demissão, estava longe de constituir esse elo de ligação e no partido não faltava quem tivesse a expetativa de ver no seu lugar alguém com esse perfil.
“Há um sentimento de orfandade nas estruturas locais”, confessava um apoiante de Rio, que diz que um mês depois da eleição do sucessor de Passos ainda não é claro “a quem se pode ligar” para chegar ao líder.
Nem entre apoiantes nem entre críticos se arrisca vaticinar se Silvano conseguirá cumprir essa lacuna. Agora, todos esperam para ver se o novo secretário- -geral proposto será aceite pelo conselho nacional ou se protagonizará um episódio como aquele que levou Fernando Negrão a não conseguir mais do que 39% dos votos para liderar a bancada parlamentar.
“Vai haver muitos brancos e nulos [no conselho nacional de dia 28], que terá de ratificar o nome do próximo secretário- -geral do PSD”, admite um dos apoiantes de Rui Rio. “Há pessoas que não estavam à espera de perder”, aponta.
Do lado dos detratores do líder, não se quer, contudo, começar novas guerras. “Vamos esperar e agir por reação”, diz um dos desalinhados, explicando que quem está contra a direção não quer ficar com o ónus de estar a prejudicar o partido.