Caso Lex. Suspeita de burla continua à frente dos serviços sob protesto dos funcionários

A diretora dos serviços hoteleiros do Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, Natércia Pina, apesar de ser suspeita de burla no setor e constituída arguida, continua em funções. E os seus funcionários dizem-se vítimas de maus tratos. 

Natércia Pina – funcionária hospitalar que, como o SOL noticiou na semana passada, é arguida no processo do juiz Rui Rangel – mantém-se em funções no Centro Hospitalar Lisboa Ocidental, como diretora dos Serviços Hoteleiros. 

Isto apesar de, juntamente com o marido, Manuel Cleto, ser arguida numa outra investigação criminal, a Operação Pratos Limpos, por suspeita de crimes de corrupção, burla e tráfico de influência nos concursos para o fornecimento de bares e cafetarias em hospitais de Lisboa, Setúbal, Portimão e Faro, que terão lesado o Estado em dois milhões de euros. 

Ora, segundo fontes contactadas pelo SOL, Natércia Pina, no lugar que ocupa, continua a ter acesso «a todo o tipo de concursos públicos», com possibilidade de prosseguir a atividade fraudulenta. Por outro lado, é acusada pelas mesmas fontes de «maltratar os funcionários [sob a suas ordens], rebaixando-os e ofendendo-os com palavras ofensivas».

Natércia pagava despesas ao juiz

Na investigação a Rangel, Natércia Pina é uma das pessoas que o Ministério Público suspeita que pagaram despesas pessoais do juiz, a troco de decisões favoráveis na Justiça. 

E o MP considera que o juiz ter-se-á comprometido, por intermédio do seu testa-de-ferro, o advogado José Santos Martins, a diligenciar num sentido que fosse favorável à dirigente hospitalar, precisamente na Operação Pratos Limpos. 

Nesta Operação, a investigação descobriu que Natércia Pina teria acesso, através de dois elementos do Conselho de Administração do Centro Hospitalar Lisboa Ocidental (hospitais S. Francisco Xavier, Egas Moniz e Santa Cruz), às propostas apresentadas nos concursos por empresas concorrentes – informação que depois passaria ao marido, de quem era sócia. Deste modo, o casal conseguia ganhar as concessões para a exploração de diversas cafetarias, bem como o fornecimento de refeições aos referidos hospitais públicos.

Mas a atividade fraudulenta de Natércia e do marido não ficaria por aí, pois além da ‘viciação’ dos concursos não pagava depois aos fornecedores. E, para contornar o problema, Manuel Cleto ia deslocando os bens das empresas para novas sociedades, pedindo a insolvência das primeiras. De seguida, reformulava os contratos com o Estado já com as novas empresas. 

Suspeita tinha ambições políticas

Natércia tinha mais cautelas, pois alimentava ambições políticas (sempre fora próxima de Isaltino Morais, por exemplo, e um dos contratos suspeitos na Operação Pratos Limpos relaciona-se precisamente com serviços de catering que a Câmara de Oeiras adjudicou, em 2012, a empresas de Manuel Cleto). 

De origens modestas, e com o ordenado de funcionária pública, Natércia chegou a viver num bairro social na Ajuda. Mas só em seu nome tem hoje 16 imóveis, avaliados com um valor tributário superior a um milhão e meio de euros. Foi dirigente do PSD de Oeiras e candidata a deputada nas últimas legislativas, em 2015. Nas recentes eleições para a liderança do PSD foi apoiante de Rui Rio.