O PSD vai chamar Manuel Pinho ao parlamento para dar explicações sobre a notícia de que recebeu meio milhão de euros do Grupo Espírito Santo quando era ministro. “O PSD vai tomar a iniciativa de chamar o ex-ministro Manuel Pinho ao parlamento no sentido de ele poder dar, do ponto de vista político, as explicações que ache que deve dar ao país”, revelou, na Guarda, o presidente do PSD.
Rui Rio defendeu que “este silêncio é muito pesado” e Pinho deve explicar aos portugueses se “é verdade ou não é verdade que enquanto ministro recebia um salário paralelo de 15 mil euros por mês, que é muito dinheiro, do Grupo Espírito Santo”. Para Rui Rio, há “explicações a dar, porque a democracia portuguesa não pode continuar com estes sucessivos casos de suspeitas corrupção e de compadrio”.
“Um caso político”
O deputado do PSD Duarte Marques estranha o silêncio da esquerda em relação ao caso Manuel Pinho. “Não vejo a esquerda, que tanto se indignou com o atraso de um ex primeiro-ministro [Passos Coelho] no pagamento à Segurança Social, revoltada com os ‘subornos’ ao ex-ministro da Economia”, escreveu, nas redes sociais, o ex-líder da JSD.
Ao i, o deputado social-democrata defende que este caso não pode ser tratado apenas como um “problema” da justiça. “Se um político em funções comete infrações como estas ou recebe dinheiro para tomar determinadas decisões, isso deixa de ser um problema apenas da justiça, é um caso político porque alguém eleito usou a política para fazer negócios. Dizer sempre que se deve separar a justiça da política é também uma forma de tentar camuflar as consequências políticas. O PS é perito nisso”, afirma.
Para Duarte Marques, a suspeita de que Manuel Pinho recebeu meio milhão de euros do Grupo Espírito Santo quando era ministro de José Sócrates revela que “há uma linha de conduta do Partido Socialista que confunde o Estado com os negócios que cada um faz. Muitos desses que foram coniventes estão hoje no governo. Contam até com a conivência do BE e do PCP. A corrupção é um problema instalado e os conflitos de interesses também”, diz.
Ana Gomes foi a primeira socialista a reagir à notícia sobre Pinho. A eurodeputada socialista escreveu no Twitter que o PS não pode “continuar a esconder a cabeça na carapaça da tartaruga” e deve aproveitar o próximo congresso, que vai realizar-se no final de maio, para “escalpelizar como se prestou a ser instrumento de corruptos e criminosos”.
A estratégia de António Costa é outra e está fora de questão abrir uma discussão interna sobre o período em que José Sócrates governou o país. O presidente do PS, Carlos César, deixou claro que “essa questão” não deve fazer parte do congresso. Arons de Carvalho, fundador do PS e mandatário nacional de António Costa, também defendeu, em entrevista ao i, que seria “um erro colossal” abrir uma discussão sobre estes casos. “O PS deve aguardar serenamente aquilo que a justiça vai dizer. Temos de esperar pela decisão da justiça e só nessa altura é que se pode dizer alguma coisa”.
Pinho não reage
O silêncio de Manuel Pinho não agradou a alguns socialistas. Jorge Coelho defendeu, no “Quadratura do Círculo”, que o ex-ministro da Economia tem “obrigação de explicar se é verdade ou não é verdade”. Pedro Adão e Silva, ex-dirigente socialista, defendeu, na RTP, que “o PS tem a obrigação de pedir explicações a esse senhor”.
Carlos César foi, até agora, o único dirigente socialista a comentar o caso Manuel Pinho. No programa de comentário que partilha com Santana Lopes, na SIC, o presidente do PS afirmou que, ”se isso aconteceu, é uma situação incompreensível e lamentável”. Manuel Pinho foi ministro da Economia no primeiro governo de José Sócrates. Demitiu-se por ter feito o gesto de uns cornos ao líder parlamentar do PCP, Bernardino Soares. Pinho não é militante do PS, mas já tinha colaborado com o partido na elaboração do programa de governo e foi o cabeça de lista por Aveiro nas eleições legislativas de 2005.