João Galamba diz que a “vergonha” admitida por Carlos César em relação aos casos que envolvem Manuel Pinho e José Sócrates “é o sentimento de qualquer socialista”. E diz mesmo que “o partido está muito incomodado”.
“É algo que envergonha qualquer socialista”, afirmou esta noite João Galamba na SIC Notícias num comentário sobre os casos que envolvem José Sócrates e Manuel Pinho. Depois de Carlos César ter admitido sentir “vergonha” pelas suspeitas que envolvem Pinho e Sócrates, Galamba vem agora dizer que esse “é o sentimento de qualquer socialista” perante os processos que envolvem estes ex-governantes socialistas.
Apesar de esta ser a primeira vez que dois destacados socialistas vêm criticar de forma pública e frontal José Sócrates, João Galamba tentou justificar a forma como o PS tem estado em silêncio sobre estes casos. O deputado do PS diz que o seu partido se manteve sempre afastado da defesa de Sócrates, “ao contrário do que muita gente pretendia” e explica que as declarações feitas agora são a expressão de sentimentos dos militantes.
“É evidente que o partido está muito incomodado”, assumiu pela primeira vez João Galamba, que acha que não se trata de algo novo, mas de algo que agora é assumido. “Eu acho que o PS sempre esteve incomodado”, disse.
“Não constitui nenhuma novidade o facto de o PS não estar agradado com esta situação”, afirmou João Galamba, defendendo que esse sentimento “em nada interfere com presunções de inocência nem com autonomia proporia da investigação judicial”.
Para Galamba o que mudou foram as revelações em torno de Manuel Pinho e as notícias do Observador que dão conta de que o ex-governante recebia dinheiro do GES enquanto era ministro da Economia de José Sócrates. “É um caso verdadeiramente insólito se for verdadeiro”, comentou o deputado socialista.
“Estamos perplexos com a revelação de que houve um ministro que recebia dinheiro”, declarou, defendendo que até hoje não se tinha posto a hipótese de levar a Operação Marquês a uma comissão parlamentar.
“Até agora nenhum partido pediu para Sócrates ir ao Parlamento”, justificou-se o deputado.
Até agora e desde o momento da prisão de José Sócrates, a atitude do PS tinha sido sempre a de não comentar o caso judicial que envolvia o ex-primeiro-ministro.
“Estamos todos por certo chocados com a noticia da detenção de José Sócrates.Os sentimentos de solidariedade e amizade pessoais não devem confundir a ação política do PS, que é essencial preservar , envolvendo o partido na apreciação de um processo que, como é próprio de um Estado de Direito, só à Justiça cabe conduzir com plena independência, que respeitamos. Ao PS cabe concentrar-se na sua ação de mobilizar Portugal na afirmação da alternativa ao governo e à sua política”, escreveu António Costa num sms enviado aos militantes socialistas em novembro de 2014, mal se soube da detenção do ex-primeiro-ministro e enquanto decorria o Congresso do PS no qual se tornou líder do partido.
Essa separação entre política e Justiça foi sempre a regra, mas isso mudou hoje. Carlos César, em declarações na TSF assumir estar “envergonhado” com as notícias sobre Manuel Pinho “e até mais” com as que envolvem suspeitas de corrupção de José Sócrates.
Apesar disso, César acabou por, ao final da tarde de hoje, fazer chegar às redações as declarações que fez no final de uma reunião com o vice-presidente do Governo Regional dos Açores, nas quais frisava que os casos de corrupção são “exceções” e não se deve “tomar a nuvem por Juno”.
Recorde-se que a comissão de inquérito às rendas no setor da energia – pedida a propósito das notícias sobre Manuel Pinho – vai analisar as decisões políticas nesta área dos governos de Durão Barroso, Pedro Santana Lopes, José Sócrates e Pedro Passos Coelho. E os bloquistas não excluem chamar os ex-primeiros-ministros. “Não vamos deixar ninguém de fora”, disse hoje o líder parlamentar do BE, Pedro Filipe Soares.
A comissão de inquérito só vai ser debatida no dia 11, mas PS e PCP já fizeram saber que a apoiam e PSD e CDS não se opõem, pelo que deve mesmo ser aprovada.
Partiu de Rui Rio a iniciativa de chamar Manuel Pinho a prestar esclarecimentos ao Parlamento, numa audição. Mas a iniciativa do BE, ao pedir a criação de uma comissão de inquérito, assegura que a sua comparência é obrigatória, que se prestar falsas declarações estará a incorrer num crime e que todas as conclusões com relevância criminal serão enviadas para o Ministério Público.