O primeiro-ministro de Israel chegou ontem à Europa com o Irão na agenda. Benjamim Netanyahu quer ajuda dos aliados europeus para expulsar as forças iranianas da Síria e no Iémen, bem como discutir o que fazer com o acordo nuclear assinado com o governo iraniano e que Donald Trump rejeitou.
A primeira escala da visita de Benjamin Netanyahu foi Berlim, para um encontro com a chanceler Angela Merkel, uma das principias críticas da política israelita, nomeadamente em relação aos colonatos na Cisjordânia e Jerusalém Oriental.
No final da reunião, o líder do executivo de Israel afirmou que as atividades do Irão no Médio Oriente ameaçam dar origem a uma nova vaga de refugiados para a Europa. O Irão quer basicamente “conduzir uma campanha religiosa na Síria maioritariamente sunita, mas tentando converter os sunitas”, disse Netanyahu, numa conferência de imprensa conjunta com Merkel. “Isso vai inflamar uma nova guerra religiosa – desta vez uma guerra religiosa na Síria – e as consequências serão muitos, muitos mais refugiados e sabemos exatamente para onde virão”, acrescentou.
Por seu lado, Merkel, compreendeu a “preocupação” de Israel, referindo estar de “acordo na necessidade de instar o Irão a restringir as suas ações na região”. A chanceler frisou que Berlim “condena com a maior severidade qualquer ataque a Israel” e assegurou que também se questiona sobre “a melhor maneira de impedir que o Irão obtenha armas nucleares”, considerando que ela passa por manter o acordo nuclear.
O governo israelita de Netanyahu sempre foi contra o Acordo Nuclear com o Irão, assinado em 2015, mas que em maio sofreu um forte abalo com o anúncio da retirada dos Estados Unidos do grupo de signatários.
O objetivo do primeiro-ministro israelita na sua visita – que além da Alemanha o vai levar a França e ao Reino Unido – é mostrar as fragilidades do acordo e encontrar aliados para as sanções que sempre defendeu, de forma a impedir as aspirações nucleares de Teerão.
Netanyahu rejeita a tese de que o acordo nuclear de 2015 era o que impedia o Irão de desenvolver uma bomba nuclear, e argumenta que o fim das sanções económicas permitiu que mais dinheiro fosse para o Irão, o que levou que este aumentasse o seu poderio militar, em especial na Síria, mas também no Iémen.
Para além dos EUA, o acordo foi negociado pela França, Alemanha, Reino Unido, Rússia e China, que já se afirmaram comprometidos com o documento. Para já, o Irão diz-se disposto a honrar o acordo, mas alguns responsáveis já insinuaram que Teerão poderá voltar a enriquecer urânio ou desenvolver mísseis balísticos de longo alcance.
Tanto a Alemanha, como a França e o Reino Unido insistem em trabalhar no atual acordo, argumentando que é a melhor forma de controlar a atividade nuclear iraniana. Um antigo embaixador de Israel junto da União Europeia (UE) disse à agência Reuters que será difícil a Netanyahu mudar o pensamento europeu sobre o acordo.
O Irão defende que o seu programa nuclear tem apenas fins pacíficos, mas há pouco tempo Israel revelou dezenas de milhares de documentos que alegadamente mostravam que Teerão desenvolveu uma bomba nuclear, no entanto, a Agência Internacional de Energia Económica garantiu que os documentos eram antigos e reiteraram que o país não está a desenvolver nenhuma arma nuclear.
Netanyahu insiste na ameaça nuclear iraniana bem como na necessidade de expulsar os militares iranianos da Síria. Desde há muito que Netanyahu considera o Irão como a principal ameaça de Israel, por apoiar o Hezzbollah no Líbano e o Hamas palestiniano. Israel receia que com a menor intensidade da guerra na Síria, o Irão, cujas forças e aliados xiitas têm apoiado Bashar al-Assad, se volte para Telavive.
França concorda que é preciso lidar com a influência iraniana na Síria e que a presença militar é uma ameaça à segurança de Israel. A expectativa é que o presidente francês seja informado sobre as conversas de Israel com a Rússia – outro apoiante de Assad – sobre o Irão.
Além de Teerão, os europeus deverão questionar Netanhyau sobre os acontecimentos recentes em Gaza, durante os quais morreram 110 palestinianos, a maioria desarmados. A UE acusou Israel de uso excessivo da força e Telavive diz que o Hamas é o responsável pelo massacre.
Em França, Macron e Netanyahu participam numa cerimónia de celebração dos 70 anos de Israel. Depois, o líder do executivo israelita vai a Londres para se encontrar com Theresa May.