A solidez da geringonça faz parte do passado. O Presidente da República já usa a expressão “crise política” para avisar que o país não está em condições de antecipar as eleições. A esquerda aumenta a pressão a pensar nas negociações do Orçamento do Estado para 2019. António Costa desdramatiza e até acha que este orçamento pode ser mais fácil de negociar do que os anteriores.
“Se à primeira era muito difícil, porque ninguém tinha experiência, à segunda foi mais fácil, à terceira foi mais fácil ainda e à quarta, mesmo que as questões sejam muitas, é mais fácil, porque ganhamos, entretanto, confiança, conhecimento e hábitos de trabalho que ajudarão”, afirmou ontem o primeiro-ministro, em Ponta Delgada, após o discurso do Presidente da República nas comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas.
O primeiro-ministro não quer “antecipar discussões que terão lugar no momento próprio”, mas Marcelo Rebelo de Sousa alertou, neste fim de semana, mais do que uma vez, para os riscos de uma crise política. “O pior que podia existir era uma crise política. Uma crise política significaria um poder político enfraquecido nas negociações europeias. Só quem esteja muito distraído é que não percebe isso”, afirmou, em declarações à RTP, o chefe de Estado. No curto discurso que fez nas comemorações do Dia de Portugal, nos Açores, Marcelo voltou a avisar que Portugal prefere “a paciência dos acordos, mesmo se difíceis, à volúpia das ruturas, mesmo se tentadoras”.
PCP e Bloco de Esquerda não partilham o otimismo de António Costa de que “à quarta é mais fácil”. Mariana Mortágua admitiu que “este é um ano mais tenso para negociações para o Orçamento do Estado, até porque tem sido precedido de algumas ações do governo que mostram uma certa tendência para o PS pensar que governa em maioria absoluta”. Ontem, numa visita à Feira do Livro, Catarina Martins disse esperar que “todos cumpram, como o BE cumpre, a sua palavra”. Jerónimo de Sousa avisou: “Escusam de pressionar porque o PCP, de uma forma autónoma, com as suas propostas, com a sua opção política, naturalmente, decidirá com essa independência”.
O clima de tensão entre o governo e os partidos de esquerda agudizou-se nos últimos tempos, principalmente devido às leis laborais e ao descongelamento das carreiras dos professores. As divergências são mais difíceis de gerir com a aproximação das eleições legislativas.
Direita pede tranquilidade À direita, o líder parlamentar do PSD viu no discurso de Marcelo “uma mensagem de calma, de tranquilidade, da necessidade de cumprir o que está acordado, da necessidade dos calendários serem respeitados”. Fernando Negrão afirmou, em Ponta Delgada, a seguir ao discurso do chefe de Estado, que é “expectável” que continuem a ser os partidos de esquerda a aprovar o orçamento. “Tem sido assim e é expectável que continue a ser assim. E, portanto, o que leio da mensagem do senhor Presidente da República é isso mesmo. A expectativa é essa, que seja negociado pelo PS com os partidos à sua esquerda”.
A presidente do CDS também comentou o apelo do Presidente da República ao “bom senso” e e pensa que “esse comentário, porventura, terá a ver com os partidos da maioria que apoiam o governo”. Assunção Cristas já tinha esclarecido que não será com o apoio dos centristas que o próximo orçamento será aprovado. “Desde o primeiro Orçamento do Estado, passando por todos os programas de Estabilidade, o CDS tem sinalizado que os orçamentos não servem ao país e creio que o tempo está a dar-nos razão”, disse a líder do CDS, em Paris, em declarações à agência Lusa.