Em 2017, ano de autárquicas, os cinco maiores partidos aumentaram a despesa e endividaram-se ainda mais do que já estavam. Bloco de Esquerda (BE), PCP, CDS, PS e PSD abriram os cordões à bolsa para pagarem propaganda e convívios e as contas pioraram. De tal forma que, esta semana, o PSD teve de avançar com cativações de quotas às distritais para tentar baixar o passivo.
De acordo com os balanços anuais de contas publicados no site do Tribunal Constitucional (TC), a dívida global dos cinco principais partidos chega quase aos 50 milhões de euros (47,5 milhões). E mais de metade do valor diz respeito só ao passivo do PS, que ascende aos 25,6 milhões. Em 2016, a dívida socialista já ia nos 20,73 milhões, tendo aumentado mais cinco milhões em 2017.
Muito do dinheiro foi aplicado em convívios: só dois jantares com militantes de Vila Real e de Guimarães custaram mais de sete mil euros e o aluguer do espaço para as comemorações dos dois anos do PS no Governo ficou em 13 mil euros. Também o funeral de Mário Soares teve custos, com o partido a gastar 20 mil euros (parte da verba foi usada para pagar autocarros).
Mesmo assim, quem mais viu as contas piorar foi o PSD, cuja dívida subiu de 8,4 milhões em 2016 para 14,4 milhões em 2017 (mais seis milhões). Esta semana, a direção do partido viu-se obrigada a avançar com medidas de controlo orçamental e enviou um despacho às distritais e às concelhias, avisando que parte das verbas transferidas para as estruturas locais, resultantes do pagamento das quotas dos militantes, serão cativadas em 50%. O despacho, assinado pelo secretário-geral José Silvano, admite que o partido «tem sido alvo de injunções e execuções, tendo, inclusivamente, sucedido já a penhora de saldos bancários». E, no final do texto, a direção de Rui Rio deixa um aviso: «Para governarmos o país, temos de cumprir dentro de casa aquilo a que estamos obrigados».
Em 2017, o PSD aplicou boa parte do orçamento nos convívios históricos do partido. O do Pontal, que marca a rentrée política, custou cerca de 70 mil euros e na Universidade de Verão foram gastos cerca de 80 mil. Já o aniversário custou 20 mil euros, enquanto a conta de um almoço de Natal para 130 pessoas ultrapassou os quatro mil euros. Outro dos grandes beneficiários dos dinheiros dos sociais-democratas foi o publicitário André Gustavo Vieira – envolvido no processo Lava Jato no Brasil -, que recebeu, num ano, pelo menos 75 mil euros.
Proporcionalmente, o PCP foi o partido que mais aumentou o passivo: em 2016 os comunistas deviam 1,99 milhões e, em 2017, ficaram a dever 6,3 milhões, ou seja, o valor da dívida mais do que triplicou. O evento mais caro do ano passado foram as comemorações da Revolução de Outubro, cuja despesa ascendeu aos 40 mil euros. Quanto ao CDS, viu a dívida aumentar em 250 mil euros (passou de 762 mil euros para um milhão), com muito do orçamento aplicado em propaganda. Foram, por exemplo, gastos 150 mil euros em canetas e 18 mil euros em outdoors.
O Bloco de Esquerda também não escapou à tendência gastadora e fechou o ano com dívidas de 183 mil euros (mais 40 mil euros do que no ano anterior). Só em rendas das sedes, o partido gastou 160 mil, enquanto os salários levaram a maior fatia do orçamento (200 mil euros).
Em ano de autárquicas, e apesar das dívidas crescentes, os donativos de mecenas e militantes também aumentaram. O PSD recebeu 881 mil euros em ofertas, 14 vezes mais do que tinha encaixado em 2016; o PS angariou um total de 206 mil euros. Já o CDS conseguiu 131 mil euros, enquanto o Bloco de Esquerda recebeu 7720. Quanto ao PCP, conseguiu recolher 6680 euros em donativos.
Todos devem ao Estado e à banca
Fornecedores, bancos e o Estado são os principais credores dos cinco maiores partidos. No caso do PSD, o partido de Rui Rio deve 1,43 milhões de euros à banca e mais de oito milhões a fornecedores. E o Estado também tem a receber mais de 85 mil euros. Já o PCP está a dever 120.735 euros ao Estado, sendo que esta dívida aumentou mais de 25% entre 2016 e 2017. A este passivo soma-se um milhão de euros devidos a fornecedores e uns misteriosos quatro milhões inscritos no balanço anual de contas como «outras contas a pagar».
O CDS deve igualmente ao Estado: mais de 31 mil euros, que se juntam à dívida de 400 mil euros à banca.
Em pior condição financeira está o PS, cuja dívida à banca é da ordem dos 16 milhões de euros, a que se somam dívidas de quase dois milhões de euros a fornecedores e de mais de 100 mil euros ao Estado. O Bloco de Esquerda, cujas contas são mais modestas e aparentemente mais controladas, também tem contas a prestar ao Estado: deve 20.343 a estruturas públicas, sendo que durante o ano de 2017 conseguiu baixar este passivo – que, em 2016, era de mais de 46 mil euros. Quanto à banca, o partido deve 17.418 euros, mais cerca de mil euros comparativamente com o ano anterior. Já a dívida aos fornecedores mais do que duplicou entre 2016 e 2017, tendo passado de 14.257 euros para 39.342 euros.
Apesar de as dívidas terem aumentado entre 2016 e 2017, só o CDS e o PSD apresentaram prejuízos no exercício de contas referente a 2017. O CDS fechou o ano com mais de 377 mil euros negativos, enquanto que no PSD o ano foi de descalabro: 2,4 milhões de prejuízo em apenas 12 meses. Quanto ao Bloco, lucrou 492 mil euros, enquanto o PCP teve um resultado positivo de 268 mil euros. O PS também fechou o ano de 2017 com resultados positivos da ordem dos 723 mil euros.