Andar de comboio não é uma tarefa fácil por estes dias, mas o PS pagou 13 mil euros e fretou um para levar os militantes socialistas à Festa de Verão, em Caminha, que se realiza hoje e representa a reabertura do ano político, o último antes da campanha eleitoral para as Legislativas. Os socialistas garantem que pouparam dinheiro, mas não dizem quanto e desvalorizam a polémica, depois da CP – Comboios de Portugal ter aceite que existirão «atrasos resultantes a outros comboios». A frase consta da ordem de serviço com os horários do comboio do PS de seis carruagens, paragem em vinte estações, sete horas de viagem e mais de 500 quilómetros de distância.
Ao contrário do PS, o PCP optou por não fretar qualquer comboio para a Festa do Avante de 7, 8 e 9 de Setembro, contrariando uma tradição de anos de transportar os camaradas de partido até aos Foros de Amora, Seixal, a paragem mais próxima da rentrée.
A viagem do PS acabou por entrar na luta político-partidária. O Bloco não comentou o caso, o PCP desvalorizou a polémica, mas o PSD e o CDS a contestarem a opção do PS face aos atrasos sucessivos no serviço prestado pela CP aos demais utentes. O primeiro foi o democrata-cristão Telmo Correia: «É normal e natural que quem tem comboios especiais, não sei se com catering ou sem, provavelmente, com ar condicionado, não esteja preocupado com a situação dos portugueses, que é de comboios que não existem, que não funcionam em condições”.
A seguir foi o PSD a considerar «inaceitável» o «frete» da CP. Mas, António Costa, líder socialista e primeiro-ministro, relativizou a polémica. Afinal é um «serviço normal comercial» e o PS já tem esta prática de viajar de comboio para a festa da rentrée desde 2015. A novidade são os atrasos ou supressões de serviços pelo desgaste do material já reconhecido pelo Governo, apesar de remeter responsabilidades para o «desinvestimento» do anterior Executivo PSD/CDS-PP.
A contestação não se ficou pelas forças políticas. Entre maquinistas, o caso também está a causar mal-estar e gerar comentários nas redes sociais, pelos atrasos e transtornos acrescidos que podem provocar aos passageiros, habituais ou turistas. Além disso, outras entidades terão pedido serviços especiais para fretar comboios e os processos foram recusados. Uma das situações reporta-se às Casas do Benfica, com serviços recusados tanto na Linha da Beira Baixa como da Beira Alta para transportar adeptos na nova época de futebol. De qualquer forma, o número de carruagens necessárias seria sempre superior ao do PS: nove composições contra seis dos socialistas.
A rentrée socialista começou com uma polémica que pode afetar o serviço dos utentes este fim de semana, apesar da CP garantir que não. «A circulação é programada e, portanto, não afeta a realização de outros comboios». Assim, os socialistas lá estarão hoje mobilizados às 09h35 da manhã para apanhar o comboio, com partida no Pinhal Novo para quem vem do sul. Entre as federações do PS também se fretaram autocarros para garantir o acesso ao comboio.
O guião de mobilização foi dado pelo próprio secretário-geral por SMS: «Caras e caros camaradas, conto com todos na Festa de Verão do PS, dia 25 de Agosto, em Caminha. Venham dar força ao PS, um abraço do António Costa». A frase foi difundida aos militantes socialistas durante esta semana pelo menos duas vezes. As federações também enviaram mensagens para garantir a participação e a representatividade de cada distrito na festa e a expectativa entre socialistas, segundo apurou o SOL, é a de que Costa faça hoje um discurso a pensar já nas Legislativas, a pedir mais votos para os socialistas, mas também a dar sinais de tranquilidade aos parceiros da esquerda. Uma espécie de quadratura do círculo para antecipar o debate político orçamental.
O silêncio de Rui Rio
Os socialistas não revelaram os custos da Festa de Verão em Caminha, mas apenas os gastos de serviço de comboio, de 13 mil euros. No PSD a ordem é para poupar, por isso, a Festa do Pontal, a primeira etapa do regresso de férias, foi reduzida a mínimos. A expectativa baixou de tal forma que são esperadas apenas algumas centenas de pessoas, ao contrário das edições anteriores.
O líder dos sociais democratas, Rui Rio, tem estado de férias e em silêncio, uma atitude que começa a incomodar muitos dentro do partido. Já a líder do CDS, Assunção Cristas, tem andado na estrada, ou melhor, de comboio para assinalar a nova bandeira dos centristas: o caminho de ferro.