A classe política portuguesa está apreensiva com o resultado das eleições presidenciais do Brasil. Para Paulo Rangel, a situação é “extremamente preocupante”. O eurodeputado do PSD afirma ao i que o eleitorado brasileiro é contra os dois candidatos que vão disputar a segunda volta: Bolsonaro e Haddad. “Por isso, escolhem o mal menor, ou seja, não escolhem por convicção”, alerta.
O social-democrata sublinha que Bolsonaro defende uma “linha preocupante do ponto de vista dos valores das democracias liberais”. Contudo, destaca-se pelo seu discurso sobre a questão da segurança. “Fez um discurso muito populista sobre o crescimento da segurança, uma matéria essencial para o brasileiros, e esse é o principal fator que o diferencia dos outros candidatos”, afirma.
Mas não é apenas o candidato do Partido Social Liberal (PSL) que preocupa Paulo Rangel. A reputação do Partido Trabalhista (PT), representado nestas eleições por Fernando Haddad – escolhido para substituir Lula da Silva, depois do antigo presidente ter sido preso por corrupção -, também merece atenção. “O PT está intrinsecamente ligado a uma rede de corrupção que envolveu os nomes mais relevantes do partido”, lembra.
Para o eurodeputado do PSD, outro dos problemas foi a falta de uma “alternativa moderada central”. “As pessoas de uma ala mais moderada não souberam encontrar uma resposta. Agora estão neste dilema e correm o risco de que um candidato com um programa extremamente preocupante, que é Bolsonaro, ganhe as eleições. E há uma probabilidade muito alta de isso acontecer”, defende Paulo Rangel.
A segunda volta das eleições presidenciais do Brasil realiza-se a 28 de outubro e, para Marisa Matias, as forças políticas brasileiras que estão contra Bolsonaro vão ter de se esforçar muito para conseguirem uma vitória. “É difícil, mas não é impossível. Exige é um trabalho gigante das outras forças políticas”, destaca a eurodeputada ao i. Para a bloquista, o candidato do PSL representa o “não respeito pelo estado de direito, a apologia da violência e o ódio aos mais pobres e desfavorecidos” e, por isso, uma vitória de Bolsonaro seria um “retrocesso gigante para a democracia”.
Marisa Matias reconhece que o descrédito das forças políticas brasileiras, incluindo do PT, influenciou o resultado das eleições. Contudo, sublinha que as elites que estão mais associadas à corrupção no Brasil são apoiantes de Bolsonaro. “Não estiveram com os outros candidatos”.
Do lado do CDS, Nuno Melo afirma ao i que o Brasil repetiu o “fenómeno” que aconteceu nos Estados Unidos com a eleição de Donald Trump. Para o eurodeputado centrista, o resultado alcançado por Bolsonaro deve-se envolvimento do PT “em casos múltiplos de corrupção” e à consequente vontade do povo brasileiro de que haja uma mudança. “Os brasileiros querem que o país regresse a valores que são relevantes do ponto de vista do serviço público, como a seriedade e o cumprimento de promessas feitas, com o combate à corrupção no topo das motivações”, defendeu.
A deputada do PS Isabel Moreira mostrou-se surpreendida com o resultado alcançado por Bolsonaro na primeira volta das eleições presidenciais. “Nunca pensei que na minha vida fosse presenciar isto”, escreveu no Facebook, acrescentando que com o candidato do PSL ganha o “ódio profundo à democracia, aos direitos humanos e à separação dos poderes”, “o racismo social” e o ”desrespeito pelo outro”.
A socialista lembrou ainda que o crescimento da extrema-direita está também a acontecer na Europa e afirmou que é preciso “vigilância” para que o fenómeno não chegue a Portugal.
O PCP reagiu através de um comunicado e defendeu que o resultado alcançado por Bolsonaro foi o reflexo dos “gravíssimos problemas sociais” que afetam os trabalhadores brasileiros. Para os comunistas, o candidato de extrema-direita constitui um “perigo que não pode ser subestimado” e que exige a “unidade de todas as forças democráticas” do Brasil.