Há muito que se falava numa remodelação governamental, principalmente para mudar os ministros mais fragilizados, como era o caso da Saúde, Defesa e Economia, mas António Costa resistiu até ao dia em que a situação de Azeredo Lopes se tornou insustentável politicamente. A demissão do ministro da Defesa, devido ao caso de Tancos, conduziu à maior remodelação feita neste Governo com a entrada de João Gomes Cravinho para a Defesa, Marta Temido para a Saúde e Graça Fonseca para a Cultura. Pedro Siza Vieira transitou para a Economia e Matos Fernandes passou a ser ministro do Ambiente e da Transição Energética (ver texto ao lado).
Os novos ministros não só tem mais peso político como são, em geral, mais próximos de António Costa. A intenção é partir com para o novo ciclo eleitoral com um Executivo refrescado e menos desgastado. As eleições europeias são já em maio e as legislativas daqui a um ano. O primeiro-ministro justificou a remodelação com a necessidade de dar «uma dinâmica renovada à execução do programa do Governo» e «uma nova centralidade à política económica».
Jorge Coelho foi mais claro num comentário às mudanças no Governo e admitiu que era necessário «um ajustamento no sentido de resolver alguns problemas complicados (…) do ponto de vista da imagem pública do governo». No programa Quadratura do Círculo, o socialista falou num «novo ciclo para entrar neste último ano com maior capacidade de dar a volta a alguns problemas que têm desgastado a imagem pública do Governo».
País apanhado ‘desprevenido’
Os parceiros do Governo não foram avisados. A coordenadora do BE considerou que as remodelações nos governos «são normais», mas admitiu que o país foi apanhado «um bocadinho desprevenido». Apesar da surpresa, Catarina Martins sublinhou que agora o importante é discutir «as decisões que aí vêm», desvalorizando as polémicas com os nomes escolhidos. «Há preocupações que nós temos e que não posso esconder, como a preocupação com a Saúde e o caminho da Lei da Bases da Saúde. Veremos se a remodelação corresponde a um esforço de fazer avançar dossiês que são tão importantes como esse», referiu a bloquista.
Jerónimo de Sousa também desvalorizou «o perfil pessoal de qualquer ministro», salientando que o essencial são as políticas do Governo.
CDS e PSD ao ataque
Ao contrário da esquerda, Assunção Cristas criticou os nomes escolhidos por António Costa. A líder do CDS sublinhou que as alterações foram feitas com «prata da casa» e «sem rasgo», dando exemplos de ex-membros do Governo de José Sócrates, como João Gomes Cravinho, o novo ministro da Defesa.
A centrista defendeu ainda que António Costa sai fragilizado com esta remodelação governamental. «Não é um reforço nem um exercício de autoridade, é a prova dos nove da extraordinária fragilidade do primeiro-ministro», afirmou Cristas, concluindo que «quem precisa ser remodelado é António Costa».
Do lado do PSD, Rui Rio defendeu que «convinha esclarecer» se os ministros saíram pelo próprio pé – descontentes com o Orçamento do Estado – ou por vontade exclusiva de António Costa. Na tomada de posse dos novos ministros, o chefe do Governo respondeu à pergunta do líder social-democrata, explicando que os ministros saíram porque pediram.
O presidente do PSD afirmou ainda que as mudanças no Governo são a prova de que António Costa concorda com as críticas dos sociais-democratas.
Contudo, para Rio, fica a faltar uma alteração: a saída do ministro da Educação. «Das áreas que nós mais temos criticado e feito oposição ao Governo falta a Educação», defendeu.
Galamba critica Galamba
João Galamba e António Galamba são figuras do PS. O primeiro foi para secretário de Estado da Energia. O segundo foi um dos homens fortes de António José Seguro e crítico da ‘geringonça’ desde o primeiro dia. António tem ainda a particularidade de ser próximo de Jorge Seguro Sanches, que saiu do Governo nesta remodelação para dar lugar ao ex-porta-voz do PS.
Num artigo no jornal i, António Galamba, numa referência a Pedro Siza Vieira, começa por criticar um «modelo de organização do Governo enformado pelos impedimentos pessoais dos seus membros, em que a energia não está na economia, mas é parte da opção estrutural da mudança de paradigma energético». A seguir, refere-se à saída de Jorge Seguro Sanches e lamenta que tenha sido «removido o governante da energia com trabalho em curso, enfrentamento dos lóbis do setor e obtenção de resultados para os portugueses e para o país».
O ex-dirigente socialista dispara contra João Galamba e considera que o novo secretário de Estado «apresenta um profundo défice de convergência com a realidade do país além dos limites territoriais de Lisboa».