A meta da Autoeuropa de produzir 250 mil veículos – a maioria dos quais o modelo T-Roc – até ao final do ano está comprometida. O SOL sabe que, até agora, foram produzidos cerca de 200 mil, mas com as paragens previstas até ao final do ano devido à falta de motores a gasolina será ‘missão impossível’ fabricar os 50 mil que faltam durante o mês de dezembro.
Esta falta de stock já obrigou a fábrica de Palmela a abrandar e a reduzir a sua laboração nos dia 9 e 22 de dezembro – ao eliminar dois turnos na primeira data e o turno da tarde na segunda – e a uma paragem coletiva de 23 de dezembro até 3 de janeiro de 2019, pois esses componentes vêm de dois fornecedores europeus, um na Polónia e outro na Alemanha, e esse material não está a chegar a Portugal.
A Autoeuropa garante que estas paragens se devem à dificuldade de alguns fornecedores em responderem a um maior volume de encomendas de motores a gasolina, situação que afeta várias fábricas do grupo Volkswagen e não apenas a fábrica de Palmela.
Esta nova decisão de paragem surgiu depois de a fábrica ter parado no dia 22 de novembro também devido à falta de peças, que ficaram bloqueadas em França, devido aos protestos dos coletes amarelos. Nesse dia, a opção foi suspender o turno da noite para que o das sete da manhã pudesse decorrer sem perturbações. O episódio repetiu-se no dia 29 devido devido a atrasos no fornecimento de alguns componentes, que ficaram temporariamente retidos no bloqueio de estradas.
A empresa esclareceu ainda que a opção de férias coletivas deve ser aplicada aos dias 24 e 31 de dezembro, mas também a 2 e 3 de janeiro. Já se os trabalhadores tiverem férias marcadas para dias que são abrangidos pelas paragens podem gozá-las em alternativa aos downdays (dias sem produção). «No caso de dias de férias individuais já aprovados para o período abrangido pelos downdays coletivos, ou caso os colaboradores tencionem tirar dias de férias nesse mesmo período, poderão fazê-lo em alternativa aos downdays», diz a fábrica.
Problemas de escoamento
Além da falta de peças, a empresa está ainda a braços com dificuldades no escoamento dos veículos que são produzidos em Portugal. Isto porque, a grande maioria dos carros são enviados para a Volkswagen em Emden, na Alemanha, que fica encarregue de distribuir o que é produzido no mercado nacional.
O SOL sabe que do lado dos estivadores alemães houve alguma resistência em descarregar os veículos que foram transportados no ‘navio fantasma’, depois de a Federação Internacional dos Trabalhadores de Transporte ter apelado aos seus congéneres alemães para se mobilizarem em favor da luta dos estivadores de Setúbal contra a precariedade.
Recorde-se que o Paglia foi o navio que se deslocou ao porto de Setúbal para embarcar mais de dois mil veículos produzidos na Autoeuropa, em Palmela, destinados ao porto de Emden, e que estavam parqueados no terminal ro-ro do porto de Setúbal, acumulados por falta do normal escoamento para exportação devido à paralisação dos estivadores. Este embarque foi feito com recurso a trabalhadores externos ao porto de Setúbal.
Com estas dificuldades de escoamento a partir de Setúbal, a Autoeuropa tem recorrido ao porto de Leixões, de onde já foram enviados 700 veículos. «Este novo serviço será uma mais-valia para Leixões e para o país, que verá reforçada a sua capacidade exportadora, como para a Autoeuropa, que encontra no nosso porto uma opção eficiente para escoar os seus automóveis», chegou a referir a administração portuária.
Segundo a mesma, a infraestrutura portuária «estará até ao final de 2018 capacitada para parquear cinco mil automóveis», um reforço que visa dar «resposta às necessidades de exportação de automóveis». Leixões é o principal porto do país em movimentação de carga roll-on/roll-off, «serviço necessário à movimentação de veículos na área portuária», explicou.
Ainda esta semana, a ministra do Mar, admitiu que Portugal já está a perder quota para os portos espanhóis e se o diferendo continuar por muito mais tempo, o Porto de Setúbal corre o risco de deixar de ser viável.
«Se continuarmos por este caminho, o Porto de Setúbal deixará de ser viável e ficarão postos de trabalho em causa, empregos diretos e indiretos. Estamos a fazer o nosso melhor para mediar. Mas estamos a tomar as medidas necessárias para que os outros portos nacionais possam receber todas as cargas que eram até agora movimentadas em Setúbal», disse, em entrevista ao Público e à Renascença.
A relação entre a Autoeuropa e o Porto de Setúbal tem 20 anos e há um acordo assinado até 2021 para a concessão de um terminal exclusivo e a expectativa de uma relação duradoura, o que levou o porto a anunciar um investimento de mais de 30 milhões para poder responder ao crescimento das exportações com o T-Roc.