O secretário-geral do PSD, José Silvano, foi ontem o orador convidado do International Club of Portugal, em Lisboa, e escolheu o tema «organização e funcionamento dos partidos políticos», usando como lema a «política como exemplo». O dirigente, que se viu envolvido na polémica das falsas presenças na Assembleia da República, não abordou o seu caso pessoal no discurso de 30 minutos, nem foi confrontado por ninguém da plateia com a polémica. Mas, no final do encontro acabou por admitir aos jornalistas que devem ser feitas alterações ao regulamento interno do seu grupo parlamentar, com direito a sanções, incluindo a expulsão.
José Silvano impôs, contudo, uma condição: novas regras no sistema de presenças do Parlamento. E afirmou que se podem aplicar «todas as sanções, inclusive a expulsão» desde que existam dois registos: um para entrada no computador e outro para o acesso ao plenário.
Ora, o secretário-geral ‘laranja’ teve duas presenças registadas em plenário quando estava a quilómetros de distância do Parlamento. A sua colega de partido Emília Cerqueira usou a sua password e registou a presença. Contudo a visada disse aos jornalistas que o fez inadvertidamente. Ontem também esteve entre os deputados presentes para o ouvir.
Silvano voltou, por seu turno, a defender que é «um homem honrado» e fez um discurso sobre a importância do PSD ser credível internamente para ser credível, também, no País.
«Um homem honrado e credível como eu quer que as instituições da justiça, digam em concreto o que têm sobre o meu caso», defendeu José Silvano aos jornalistas quando confrontado com o seu discurso de credibilidade na conferência. O seu caso está no Ministério Público, sob investigação.
Na sua intervenção, José Silvano quis focar os seus argumentos sobre o divórcio entre partidos e eleitores, o papel da abstenção, e os riscos de populismo, uma palavra muito utilizada na última reunião da bancada do PSD. «Só podemos passar para fora uma mensagem de credibilidade ou propostas concretas credíveis, se também dentro da nossa casa, onde estamos primeiro, tivermos credibilidade. Isso chama-se política pelo exemplo. Chama-se política feita contra o vento e as marés», argumentou o dirigente sob o olhar atento do seu líder parlamentar, Fernando Negrão. A palavra credibilidade surgiu vezes sem conta e Silvano ainda lançou um desafio aos partidos para reverem a lei de financiamento das forças políticas. O PSD quer introduzir mudanças na lei, designadamente a criação de «uma identificação fiscal própria para cada candidatura eleitoral» à margem da identificação fiscal dos partidos, para que cada um seja responsabilizado pelos gastos. A medida encaixa como uma luva nos casos em que o PSD teve de assumir gastos das autárquicas e avançou com processos em tribunal. Os candidatos independentes também ficaram na mira do PSD, porque os donativos destas candidaturas devem ser deduzidos à subvenção do Estado, tal como acontece com os partidos.