Energia. Pinho garante nunca ter recebido avenças do BES

Ex-ministro diz que quando assumiu o cargo no governo encontrou um “cocktail explosivo” no setor com as empresas a viverem num “pântano”

Manuel Pinho nega que tenha sido corrompido ou que tenha recebido alguma avença do Banco Espírito Santo (BES) enquanto desempenhava o cargo de ministro da Economia no governo de José Sócrates, revelou na comissão parlamentar de inquérito às rendas excessivas na energia.

Mas numa declaração prévia antes da sua intervenção inicial na audição da comissão de inquérito, Manuel Pinho deixou claro que não é arguido, mas sabe que é “considerado suspeito”, considerando por isso ter “o direito ao silêncio relativamente a essa matéria alegadamente delituosa”.

Ainda assim, o antigo ministro não ignora que tem “responsabilidades políticas e enquanto cidadão”, prometendo que em “momento próprio” irá “prestar esclarecimentos sobre as matérias em causa, não só às autoridades judiciárias, mas também ao país”.

E foi mais longe: “enquanto ministro da economia agi sempre e exclusivamente em prol do interesse público, não tendo favorecido quaisquer interesses particulares, não tendo sido corrompido, nem recebido de ninguém pagamentos ou convites indevidos, sendo falso aquilo que tem sido propalado de que eu receberia uma remuneração ou uma avença do Banco Espírito Santo enquanto fui governante”, garantiu. 

Uma declaração que não caiu bem a todos os grupos parlamentares que se manifestaram contra essa intenção de silêncio. A opinião foi unânime entre os deputados ao lembrarem que a comissão de inquérito tem outro enquadramento legal, não havendo justificação para a recusa a responder às perguntas.

Resistência aos lóbi O ex-ministro disse também que, quando tomou posse, encontrou um “cocktail explosivo” no setor elétrico, com as empresas a viverem num “pântano”, em resultado da situação criada pelo cruzamento dos interesses políticos e económicos e que só “não se demitiu” para “resistir aos ‘lóbis’” existentes. E, que nessa altura, o país tinha um elevado défice na sua balança de eletricidade com Espanha e importava a quase totalidade dos combustíveis fósseis que consumia.

“Foram tempos muito difíceis, mas passados dois anos tudo tinha mudado”, revelou e deu como exemplo algumas decisões que foram tomadas, como não aceitar a entrada de capital estrangeiro na Galp e na EDP, não dar aval ao projeto nuclear, que iria “criar um monstro energético”, e estipular “metas de eficiência energética ambiciosas”.

E aos deputados deixou uma garantia: “não teria ficado no governo nem mais um dia se estes projetos contra o interesse nacional tivessem ido avante”.

Já em relação ao cargo que exerceu, Manuel Pinho deixou a garantia que nunca foi político. “Apenas exerci um cargo com prejuízo para a minha família e para mim”, disse. Quanto ao convite para lecionar para a universidade de Columbia salienta que não sabia da existência de um acordo entre a instituição e a EDP e que o convite o convite partiu dos responsáveis da universidade.