O Presidente da República Portuguesa iniciou esta quarta-feira a sua visita oficial a Angola, que além de Luanda o levará às cidades do Lubango, Benguela, Catumbela e Lobito.
Em entrevista ao Jornal de Angola, Marcelo falou com otimismo das relações entre os dois países, fez questão de sublinhar o respeito pela soberania angolana e voltou a explicar a sua ida ao Bairro da Jamaica, no Seixal.
“Respeitamos a soberania angolana e, portanto, o que o poder político angolano decidir, decide no âmbito, naturalmente, da sua soberania própria. Não temos de nos imiscuir nessa soberania, nem formular juízos acerca daquilo que se passa nesse país irmão”, afirmou Marcelo, quando questionado sobre a forma como Portugal via a “cruzada contra a corrupção e a impunidade” levada a cabo pelo Presidente João Lourenço.
Para o chefe de Estado Português, “a teia de poderes à escala global é muito mais intricada e, por isso, maior é a necessidade de afirmar a independência, a isenção daqueles que exercem responsabilidades a todos os níveis, políticos, cívicos, administrativos. Por outro lado, o grau de exigência, e bem, das opiniões públicas é crescente.
Marcelo foi também confrontado a suspeita de que empresas portuguesas estariam envolvidas em processos de branqueamento de capitais em Angola e sobre o assunto explicou que a sua opinião “é de princípio”.
“Os envolvidos em situações dessas, não podem deixar de ser sujeitos a controlo ou fiscalização, apuramento das responsabilidades e punição, se for caso disso. Quem quer que seja, e tenho dito isso no plano interno. Podem ser as pessoas ou instituições, mais próximas que se possa imaginar”, afirmou.
Sobre o facto de Portugal ser alegadamente um dos “países hóspedes” desse dinheiro retirado ilicitamente de Angola, o Presidente foi cauteloso, adiantando que não podia, nem devia “formular juízos específicos sobre essa matéria”.
Por outro lado, sublinhou que a existência de procedimentos criminais previstos para os ‘crimes de colarinho branco’ “só é bom para a sanidade do Estado de Direito Democrático, só é bom à sanidade das instituições”.
Por último, Marcelo não podia fugir à questão do Bairro da Jamaica, que tanta polémica gerou e continua a gerar.
O chefe de Estado explicou que “há situações relativamente às quais o Presidente da República de Portugal entende que deve estar próximo. Como são os casos de certas comunidades que vivem em condições económicas e sociais que merecem especial atenção e a única maneira de perceber e compreender é estar próximo, ver, partilhar, ir lá, observar, os desejos de mudanças”.
No entanto, Marcelo referiu que não houve apenas uma razão para a sua ida ao bairro no Seixal, após uma intervenção policial que motivou um inquérito interno na PSP. “Devo dizer que o fiz por uma segunda razão cumulativa”, adiantou, acrescentando que a primeira foi no sentido “de proximidade, compreensão, acompanhamento da situação vivida por aquelas comunidades. A angolana, maioritária, mas também são-tomense, cabo-verdiana, de pequena expressão e cigana, que partilhavam o mesmo espaço de vida”.
Já a segunda, teve o objetivo de “dar o sinal de que o Presidente da República Portuguesa não tolera qualquer tipo de criação de um clima radical, que significa a introdução de clivagens de raça, etnia, cultura, religião, civilização numa sociedade que deve ser de integração, inclusão multicultural, multiétnica, compreensiva e ecuménica”.
O primeiro dia oficial da visita de Marcelo Rebelo de Sousa a Angola fica ainda marcado pela distinção que o Presidente português recebeu de João Lourenço que o agraciou com a Ordem Agostinho Neto, a mais alta do Estado angolano.
Seguem-se agora mais três dias de visita, marcada por um grande simbolismo político, como reconhece o próprio visitante.