A TVI anunciou, esta sexta-feira, que dispensou a colaboração de Pedro Proença, advogado e comentador habitual da estação de Queluz, na sequência dos seus argumentos num processo de recurso num caso de violação.
O advogado terá pedido a troca da juíza responsável pelo caso de um pai que terá violado a filha, por um magistrado do sexo masculino. Pedro Proença alegava que poderia haver "oscilação na neutralidade" por esta ser "mulher e certamente mãe", pedindo então um juiz homem.
Os argumentos do recurso apresentado pelo advogado foram conhecidos quinta-feira. Esta manhã, a reação do canal não se fez esperar. "Esta decisão editorial resulta do recurso apresentado por este advogado na defesa de um seu constituinte condenado a oito anos de prisão por um crime de violação da sua filha", explica a TVI, através de um comunicado.
"As razões evocadas pela Defesa são contrárias aos valores e princípios que orientam a TVI na abordagem a um dos problemas mais sensíveis e gritantes da nossa sociedade: a violência doméstica. Porque assentam numa discriminação inaceitável, da condição de mulher e de mãe, que no entender do criminoso e do seu advogado compromete a isenção da Juíza", lê-se no mesmo texto.
A TVI adianta ainda que "ao dispensá-lo do seu espaço de comentário semanal no programa 'Prolongamento' da TVI24 e das presenças regulares do programa 'A Tarde é Sua' no canal principal, as direções de Informação e de Programas da TVI estão a dar um sinal inequívoco: a recusa de, nesta ou em qualquer outra circunstância, permitir que as suas antenas promovam colaboradores que se vinculem a princípios que repudiamos e consideramos nocivos à sociedade que queremos".
Pedro Proença também já reagiu à decisão da estação televisiva: "Lamento profundamente que a TVI tenha utilizado uma questão do foro da minha vida profissional para justificar o meu afastamento e que não tenha comunicado publicamente esta situação de forma a preservar quem tanto deu pela estação de mais uma diabolização pública da sua pessoa, contribuindo para o julgamento público e desfocado que se gerou em torno desta situação (…)", refere o comunicado do ex-comentador.
O advogado contesta ainda "a adjetivação como criminoso de um arguido que ainda beneficia da presunção da inocência por não ter havido ainda decisão transitada em julgado".
"Nos quatro anos de colaboração com a TVI, pautei a minha participação semanal na antena daquela estação pela defesa intransigente dos direitos de cidadania, da igualdade de géneros, tendo, com risco próprio e de forma frontal, denunciando centenas de situações em que os direitos dos cidadãos foram colocados em causa, sendo dos comentadores que mais casos de violência doméstica denunciou e que mais se insurgiu contra a passividade do sistema judicial em defesa das vítimas", acrescentou Pedro Proença.