Pedro Nuno Santos salvou António Costa de crise eleitoral

A crise dos combustíveis fez soar os alarmes em S. Bento e no Largo do Rato. Em ano eleitoral, António Costa tinha de evitar a todo o custo o risco (enorme) de uma Páscoa estragada aos eleitores. A meio da crise, o PM chamou Pedro Nuno Santos, o negociador-mor do PS, primeiro para garantir junto…

Os sinos tocaram a rebate no inner circle de António Costa: tudo menos estragar as férias da Páscoa aos portugueses, em vésperas de eleições europeias e a menos de meio ano de legislativas.

E quando os ministros – ainda verdes nas lides políticas – do Ambiente e da Economia, Matos Fernandes e Siza Vieira, se depararam com as posições radicalizadas dos representantes da ANTRAM e do Sindicato dos Motoristas de Materiais Perigosos, o primeiro-ministro não hesitou em determinar a requisição civil para cumprimento dos serviços mínimos e chamar Pedro Nuno Santos.

Tinham já soado todos os alarmes no Palácio de S. Bento e no Largo do Rato: António Costa tinha de enfrentar o debate quinzenal em plena crise, mas havia que fazer tudo para evitar que a situação de impasse se arrastasse e que pudesse manter-se até às férias de Páscoa dos portugueses, marcadas pela tradicional ‘ida à terra’ – como veio, aliás, avisar o Presidente Marcelo.

 

Bombeiros e militares de prevenção

Daí o recurso de António Costa a Pedro Nuno Santos. O ministro das Infraestruturas, não tendo a tutela do setor, é reconhecidamente o negociador-mor do PS e do Governo – cabendo-lhe grande parte dos louros dos quatro orçamentos de Estado aprovados nesta Legislatura, já que foi ele o responsável pela coordenação da ‘geringonça’, com o PCP e o BE, e pela permanente articulação da maioria parlamentar que sustentou o Governo de António Costa.

Primeira missão de Pedro Nuno Santos: garantir que os motoristas assegurariam o cumprimento dos serviços mínimos, que foram requisitados e não estavam a ser cumpridos. O ministro das Infraestruturas reuniu com os representantes da associação patronal e do sindicato e fechou o acordo para pontos estratégicos (aeroportos, hospitais, alguns pontos de abastecimento dos grandes centros urbanos).

Mas com o país a paralisar e a crise dos combustíveis a atingir a rutura na esmagadora maioria dos postos de abastecimento, com as longas filas de trânsito e a tensão a aumentar nas bombas de gasolina consideradas pelos serviços mínimos, António Costa deu carta branca a Pedro Nuno Santos para resolver a situação e encontrar uma plataforma de entendimento entre patrões e trabalhadores desavindos.

E, como alternativa a um falhanço nas negociações mediadas por Pedro Nuno, chegou a ter tudo preparado para a requisição de bombeiros e militares para substituírem os motoristas em greve.

Foi por isso com um suspiro de alívio que António Costa recebeu o telefonema de Pedro Nuno Santos, pouco depois das sete horas da manhã de ontem, a dar-lhe conta do compromisso alcançado após uma maratona de 10 horas de negociações com a ANTRAM e o sindicato dos motoristas.

A mediação do Governo, através do ministro das Infraestruturas, permitiu chegar a um acordo de princípios que deixou o líder socialista descansado, pelo menos, até ao final do ano: ou seja, já depois do ciclo eleitoral em que estamos a entrar.

 

Sondagem confirma receios

Não tendo ficado resolvida a questão de fundo – as questões salariais reclamadas pelos motoristas e recusadas pela ANTRAM –, ficou definido um programa e um calendário de negociação de um acordo coletivo de trabalho que as partes, e o Governo, se comprometeram assinar até ao final do corrente ano contemplando todas as questões do setor (ver pág. 9).

Curiosamente, o PS já tinha em seu poder os resultados de uma sondagem entretanto realizada junto do eleitorado e que foi ontem divulgada – o Jornal de Negócios fez manchete com a sondagem da Aximage que dá um empate técnico entre PS e PSD, titulando: PSD apanha PS nas eleições europeias.

A sondagem veio apenas confirmar o que já se temia em S. Bento e no Largo do Rato: o impacto negativo que esta crise já estava a ter para o PS e para o Governo de António Costa.

Daí que o líder socialista e do Executivo tenha posto em cima da mesa todos os cenários. A única forma de evitar um preço demasiado elevado em termos eleitorais era mesmo evitar a todo o custo que o fim de semana de Páscoa chegasse com o país ainda mergulhado num caos.