Preços no mercado imobiliário a abrandar

O Banco de Portugal alerta que pode haver uma ‘interrupção brusca’ no dinamismo do mercado imobiliário. Também inquérito revela que as subidas de preços vão ser mais moderadas.

O dinamismo do mercado imobiliário pode sofrer uma «interrupção brusca», alertou esta semana o Banco de Portugal (BdP). «O abrandamento mais acentuado da atividade económica a nível global, decorrente em particular da materialização de eventos de tensão geopolítica, aumentos dos prémios de risco e eventuais alterações no quadro regulamentar nacional sobre o mercado imobiliário poderão vir a traduzir-se numa interrupção brusca do dinamismo do imobiliário e, consequentemente, num ajustamento em baixa dos preços», referiu o comunicado do regulador, que acompanhou o relatório de estabilidade financeira.

Mas existem outros riscos: o turismo e o investimento estrangeiro continuam a ser um ponto fulcral do setor, explicou o supervisor. «O mercado imobiliário português continua a estar particularmente dependente da intervenção de não residentes, seja por via do turismo, seja por via do investimento direto», refere o documento. Ora, «uma eventual redução acentuada e brusca da procura de imóveis por não residentes» poderia colocar em risco a estabilidade financeira do mercado, disse o BdP.

«No último ano, o mercado imobiliário português manteve um dinamismo elevado, com um reflexo direto no volume de transações e crescimento dos preços. Esta dinâmica tem sido justificada pelo crescimento económico, (…) mas também pelo ambiente de baixas taxas de juro e elevada liquidez, o qual induz comportamentos de procura por rendibilidade por parte dos agentes económicos», refere. Por isso, o BdP pediu aos bancos portugueses que continuem a «concentrar uma parte significativa das suas exposições no mercado imobiliário – essencialmente por via do crédito à habitação -, apesar da ligeira redução observada desde 2016».

«A dinâmica dos preços pode representar um risco para a estabilidade financeira se introduzir pró ciclicidade no crescimento do crédito, nomeadamente num contexto de valorização excessiva dos preços», acrescentou.

Mercado perde dinâmica

Esta visão vai ao encontro do inquérito da RICS/Ci Portugueses Housing Market Survey (PHMS), realizado pela Confidencial Imobiliário e pelo RICS, ao alertar que o mercado residencial começa a «perder dinâmica», numa altura, em que, a procura está mais fraca e começam a ser notados sinais de abrandamento. 

O inquérito de abril – que juntou cerca de 150 profissionais do setor imobiliário – revela uma descida nas consultas por potenciais clientes, sendo já o sétimo mês de variações negativas.

«As vendas acordadas desceram pelo segundo mês consecutivo a nível nacional, apresentando, quando desagregadas a nível regional, uma tendência de queda em Lisboa e no Algarve, mas mantendo-se estáveis no Porto», refere o comunicado. A mesma nota garante que, no que diz respeito às «perspetivas de vendas para os próximos três meses, os inquiridos apresentam expectativas apenas marginalmente positivas para as três regiões», diz o Idealista.

«O mercado de habitação parece estar a perder dinâmica», refere Simon Rubinsohn, Chief Economist do RICS, acrescentando que «a capacidade financeira de acesso à habitação e a falta de oferta podem estar a fazer-se sentir sobre a procura».

A oferta voltou a cair em abril mas «o crescimento dos preços continuou a suavizar e nível nacional» e apenas «um saldo líquido de +7% dos inquiridos reportou uma subida dos preços no período em análise».

Também para Ricardo Guimarães, diretor da Confidencial Imobiliário, «os vendedores estão a rever as expectativas em baixa, e alguns estão já a baixar os preços pedidos pelos imóveis», revela. Ainda assim «apesar da descida nos novos créditos concedidos, os operadores sentem que as restrições de acesso ao crédito estão a limitar a procura potencial», acrescenta.

Já o mercado do arrendamento também deverá mostrar algum alívio na subida das rendas.