BE vs PAN. “O grande erro político de António Costa chama-se hipotecar as gerações futuras”

Os líderes do BE e do PAN debateram temas como as alterações climáticas, a hipotética “essência social-democrata” do BE e a possibilidade do crescimento do partido de André Silva impedir a evolução do de Catarina Martins.

No âmbito da rubrica "Debates Eleições Legislativas 2019", André Silva do PAN e Catarina Martins do BE estiveram à conversa, na SIC Notícias. Catarina Martins foi a primeira interveniente e deixou claro que o seu partido tem "uma enorme convergência" com o PAN em temas como as alterações climáticas ou o bem-estar animal, realçando igualmente que "foram feitas coisas pioneiras como o projeto-lei conjunto para parar a prospeção de petróleo". De seguida, Clara de Sousa, moderadora do debate, questionou a necessidade de definição dos partidos e Martins foi assertiva: "para nós é importante e, julgo que é uma definição de esquerda, de que o Estado social é igual para todos" exemplificando essa constatação com o pagamento de impostos: "quem tem mais paga mais e quem tem menos paga menos. O PAN não valoriza esta questão da mesma maneira" e adiantou: "No que diz respeito à relação entre a democracia e o sistema financeiro, reparei que o PAN propõe uma espécie de plafonamento da Seguranca Social (SS) e esse é um projeto da direita há 30 anos" que "nunca foi para a frente". A deputada adicionou: "quando dizemos que quem ganha mais vai deixar de descontar, a partir de um certo montante, estamos a dizer que uma parte das receitas da SS vai deixar de ir para o sistema de todos e vai para o financeiro".

Respondendo a Martins, Silva declarou que o PAN converge com o BE em temas como a matéria climática ou a igualdade dos direitos de acesso – "não somos todos iguais mas devemos ter os mesmos direitos" -, porém, afirmou que o BE está a fazer "alguma confusão" naquilo que diz respeito à interpretação da proposta eleitoral: "há o plafonamento na contribuição e no recebimento das reformas e aquilo que queremos é que haja um tecto e que o Estado não pague reformas milionárias" sendo que esta medida não pode ser criticada pela esquerda porque o PAN defende "que deve haver um tecto máximo de pensões, no entanto, porque as pessoas que têm grandes carreiras contributivas podem sentir-se prejudicadas" é aberta a possibilidade da recapitalização.

"Será que o PAN é o único partido que dá resposta à emergência climática?" questionou a jornalista da SIC, apontando que o BE também se foca nesta temática no primeiro capítulo do seu programa eleitoral. Silva explicitou que o BE responde, no entanto, há que frisar que "o PAN conseguiu impor o campo ambiental como campo político autónomo pois não perdeu oportunidade para marcar posição nessa matéria no reduzido tempo que tinha no Parlamento". Mas aquela que foi considerada a mulher mais influente em Portugal, em 2017, pelo Jornal Económico contrapôs: "achamos naturalmente que se queremos uma transformação da forma como vivemos para tentar travar o caos climático e ter um país mais forte para resistir a fenómenos imparaveis, precisamos de ligar essa proposta à economia. Queremos tirar carros das cidades, colocar as ferrovias a ligar todo o país, reconverter a indústria e transformar o território seja nas florestas, na agricultura, e nas pescas". No entanto, Silva deixou claro que o PAN tem um "plano de mobilidade inscrito mas quando se fala em retirar os carros das cidades, há que fazê-lo de forma faseada".

Naquilo que concerne à produção de energia, Martins realçou que "é preciso que o controlo da produção de energia deixe de ser feito através do monopólio de produção para que haja autoconsumo e as pessoas produzam a sua própria energia". Assim, a entrevistadora conduziu os participantes para um tema quente: a construção de mais barragens. Na perspetiva dos dois líderes partidários, não é desejável construir mais nenhuma: Silva acredita que "não passam de negócios em que a EDP emprestou dinheiro ao Estado e precisamos de pequenas barragens para retenção de água mas nunca daquilo que fazemos no Alentejo, que se torna num olival intensivo que engole os nossos solos". Já Martins foi clara: "há barragens a mais em Portugal e está comprovado cientificamente que as grandes barragens são um problema. O próprio governo concorda nisto. Ou alteramos a forma como fazemos produção agrícola ou vamos ter uma seca grave", disse.

O programa do BE é, na sua essência, social-democrata? Terá sido esta uma afirmação falhada? Para Martins, "há momentos diferentes. por exemplo, houve uma altura em que as horas extraordinárias serem pagas em dobro era uma construção da social-democracia histórica que hoje já não existe". Mas há demagogia tanto num partido como noutro? A conclusão a que se chegou através da visualização do debate é que, de acordo com Martins, "o BE é um partido socialista, ecosocialista e recupera mecanismos da construção do direito do trabalho" enquanto, segundo Silva,  o PAN "não se situa nem à esquerda nem à direita" porque "o modelo económico vigente não é o capitalismo mas sim o produtivismo, o extrativismo. Vivemos numa economia de mercado que o PAN não diaboliza mas somos contra a mercantilização da vida dos trabalhadores, das pessoas e dos ecossistemas".

O crescimento do PAN pode impedir a evolução do BE? "Tem-se verificado precisamente o contrário. Convergimos muito. Acho que o Bloco tem um programa sobre solidaridade de que é feita uma democracia e temos escola, saúde para todos, SS para todos e o PAN parece que não partilha disso" esclareceu Martins, enquanto Silva fechou o debate partilhando que "o principal erro de António Costa tem que ver com a falta de visão pela preservação dos ecossistemas e a dissonância completa entre a narrativa e a prática" na medida em que "alguém que não trava as estufas na Costa Vicentina ou o olival intensivo, no fundo, comete o grande erro politico que se chama hipotecar as gerações futuras".