PSD e PS disputam voto ‘venezuelano’ na Madeira

Mais de 250 mil eleitores vão decidir quem vai governar a Madeira nos próximos quatro anos. E o voto da comunidade emigrante na Venezuela, desta vez, pode fazer diferença. 

Desde as primeiras eleições livres na Madeira, depois do 25 de abril, que o PSD governa a região autónoma com maioria absoluta. Pela primeira vez na História, o cenário pode ser diferente após as eleições do próximo fim de semana. 

E, a dias das eleições legislativas regionais, todos os votos são preciosos. Daí que não seja de estranhar a disputa entre PSD e PS pela conquista do eleitorado da comunidade luso-venezuelana. 

Apesar de não haver dados oficiais, o SOL sabe que se estima que haja entre mil a quatro mil cidadãos desta comunidade em condições de ir às urnas no dia 22 de setembro. É de recordar que a Madeira recebeu, desde 2016, cerca de sete mil emigrantes e lusodescendentes venezuelanos – segundo dados divulgados este ano pelo Governo Regional -, que fugiram da crise política, económica e social do país liderado por Nicolás Maduro.  

Contactado pelo SOL, o coordenador de campanha e vice-presidente do PS Madeira, Miguel Iglésias, começou por dizer que os socialistas «têm tido um feedback muito positivo» e que estão numa «posição confortável com o eleitorado luso-venezuelano». O socialista destacou também que, quando o candidato Paulo Cafôfo era presidente da Câmara do Funchal, «sempre teve uma relação muito próxima com a comunidade», recordando que «essa proximidade foi notória» numa manifestação contra o Governo de Maduro, na qual Cafôfo colocou a bandeira da Venezuela na varanda da sede da autarquia, no início deste ano para apoiar a causa venezuelana. Miguel Iglésias lembrou ainda que o candidato independente do PS «chegou mesmo a ir à Venezuela» demonstrar o seu apoio. 

Mas a verdade é que Miguel Albuquerque – enquanto presidente do Governo Regional da Madeira – foi dos primeiros a anunciar formalmente o apoio a Juan Gaidó e ao seu movimento por eleições livres, antes mesmo de o Governo da República e da União Europeia reconhecerem a legitimidade do auto-proclamado Presidente interino da Venezuela, contra Nicólas Maduro. 

Ao SOL, o antigo líder parlamentar social-democrata Guilherme Silva reconheceu a importância do eleitorado luso-venuzuelano – «pode ter influência» nos resultados destas regionais. 

«É natural que pessoas que regressam de um país socialista, vítimas de uma posição socialista, não vão aderir em massa a candidatos que são portadores de uma mensagem dessa área ideologia política. Creio que o PSD está melhor colocado para recolher o apoio desses votos», argumentou o histórico do PSD. 

O ex-vice-presidente da Assembleia da República acrescentou que não acredita que a conquista deste eleitorado se consiga «através de ações de campanha» e sublinhou que, na sua opinião, os luso-venezuelanos já têm um «relacionamento normal e natural com o Governo do PSD e com próprio partido», recordando que «se constata uma integração muito positiva desta comunidade na sociedade madeirense». 

Programas não esquecem ‘comunidades’

Ao que o SOL apurou, não está prevista nenhuma ação de campanha junto, exclusivamente, da comunidade luso-venezuelana. Ainda assim, tanto o PS como o PSD apresentam bandeiras, nos seus programas eleitorais, pensadas para as «comunidade madeirenses».

Nas «7 prioridades para o futuro» dos sociais-democratas, o partido liderado por Miguel Albuquerque promete a «criação de um círculo eleitoral das Comunidades Madeirenses para a Assembleia Regional» e o «reforço das condições de integração sociolaboral dos emigrantes, no seu regresso, em  igualdade com os demais conterrâneos», entre outras medidas.

O PS também tem um conjunto de propostas pensadas para os «lusodescendentes que regressam ao arquipélago», destacando-se medidas como a agilização  da «integração das pessoas no mercado de trabalho através de um regime de equivalências profissionais e escolares mais eficiente e célere» e a criação de «um gabinete de apoio para múltiplos serviços [aconselhamento, tradução, acompanhamento dos processos]». 

PSD pede maioria confortável

Se em relação ao eleitorado venezuelano, apesar das expectativas dos socialistas, os sociais-democratas parecem levar vantagem, outras questões que contribuem para a confiança de Miguel Albuquerque numa vitória, ainda que sem maioria absoluta, nas eleições de dia 22 é o elevado preço das passagens de avião entre as ilhas da Madeira e de Porto Santo e o Continente (mesmo subsidiadas, são incomparavelmente mais caras do que, por exemplo, de Espanha para as Canárias) e ainda as escolhas do PS para as Europeias de maio (que ditaram uma amarga derrota dos socialistas madeirenses).

Em relação aos preços dos bilhetes dos voos da TAP entre Funchal e Lisboa, os madeirenses tendem a responsabilizar os socialistas pelo facto de no conselho de administração da companhia se encontrar o madeirense e antigo secretário de Estado do Turismo e destacado militante do PS Bernardo Trindade, nomeado pelo Governo de António Costa, que acusam de nada ter feito para reverter aquela situação.

Já relativamente às Europeias, não só a lista do PS foi encabeçada pelo então ministro Pedro Marques (que tinha, precisamente, a tutela da TAP), como a candidata madeirense nomeada para a lista de eurodeputados não colhe a simpatia dos madeirenses. 

Recorde-se que, em recente entrevista ao SOL, Miguel Albuquerque mostrou-se convicto de que irá ter «uma maioria confortável para governar». Já Paulo Cafôfo, também em  entrevista ao SOL neste verão, disse estar «mais preocupado em ganhar as eleições» do que pensar em coligações ou «arranjinhos eleitorais» (tipo ‘geringonça’ do Continente). 

Ao  todo, nestas regionais, concorrem 16 partidos e uma coligação para disputar os 47 lugares no Parlamento regional. Dados publicados no site da Secretaria Geral do Ministério Administração Interna, esta semana, avançam que, no total, estão registados 257.758 eleitores – 252.606 na ilha da Madeira e 5.152 na ilha de Porto Santo. Em comparação com 2015, estão inscritos mais 526 eleitores.

Campanha do PS é a mais cara

Tal como acontece nas legislativas do Continente, o PS é o partido que apresenta o orçamento mais elevado para a campanha às eleições regionais. E, também na Madeira, o PSD é o segundo partido que estima gastar mais. 

Os socialistas contam gastar 370 mil euros, de acordo com os orçamentos entregues pelos partidos à Entidade das Contas e Financiamentos Político. Mais 25 mil euros do que na campanha para as regionais de 2015, quando foram gastos 345 mil euros. E mais 88 mil euros do total da despesa para a campanha de 2011, que não ultrapassou os 282 mil euros. Ainda assim, são valores que ficam bem abaixo da despesa feita pelo PS para a campanha de 2007, com valores que ultrapassaram os 967 mil euros.   O orçamento entregue pelo PS ao Tribunal Constitucional revela que a maior fatia da despesa total da campanha será canalizada para folhetos, comunicação na internet e em ações de propaganda. Para estas iniciativas, o PS prevê uma verba acima dos 120 mil euros. Somam-se 111 mil euros em comícios e espetáculos.  

O PSD prevê uma despesa de 360 mil euros para as regionais. Menos dez mil euros do que a despesa prevista pelo PS. O valor previsto pelos sociais-democratas para as eleições deste ano é menos de metade face aos  846 mil euros gastos pelo PSD nas regionais de 2015. Entre as várias rubricas do orçamento do PSD, os cartazes e telas é para onde vão ser canalizadas mais verbas, com uma despesa superior a 98 mil euros. Segue-se os comícios e espetáculos com um orçamento previsto na ordem dos 65 mil euros. 

No total, são 17 os partidos e coligações que se apresentam às urnas no dia 22 deste mês, disputando 47 lugares na Assembleia Regional da Madeira. Somando todos os orçamentos entregues no Tribunal Constitucional, a despesa prevista para a campanha ultrapassa 1.3 milhões de euros.