O anúncio do fim da carne de vaca, a partir de janeiro de 2020, nas cantinas da Universidade de Coimbra, lançou a discussão sobre as emissões de gases com efeito de estufa no setor na pecuária. No entanto, parece que não é a carne consumida pelo ser humano o maior desafio no combate às alterações climáticas, pelo menos de acordo com o mais recente estudo publicado pela revista científica PLOS ONE.
A investigação em causa, levada a cabo por Gregory S.Okin, da Universidade da Califórnia em Los Angeles (em inglês UCLA), concluiu que grande parte dos efeitos de estufa são provenientes da produção da alimentação de cães e gatos. De acordo com a pesquisa, a produção de carne para alimentar os 163 milhões de cães e gatos existente nos Estados Unidos – na média de um animal por cada duas pessoas – emite 64 milhões de toneladas de gases com efeito de estufa, tanto quanto 13,5 milhões de carros.
Além disso, só a alimentação destes animais de estimação corresponde a 25% a 30% dos efeitos ambientais da produção de carne no que diz respeito ao uso da terra, água, combustíveis fósseis, fosfatos e biocidas.
Segundo a Visão, que cita estatísticas de 2015, em Portugal existiam nesse ano cerca de 3,9 milhões de cães e gatos – pouco mais de um animal por três pessoas -, o que indica que 54% dos lares portugueses tinham pelo menos uma animal de estimação. Assim, de acordo com a revista, em Portugal, a ração para cães e gatos emitirá 1,53 milhões de toneladas de gases com efeito de estufa, o que representa tanto quanto emitido 212,5 mil pessoas.
Para o autor do estudo, a tendência é que o impacto ambiental causado pela alimentação destes animais aumente.
"À medida que a posse de animais de estimação aumenta em alguns países em desenvolvimento, especialmente na China, e as tendências continuam na direção de dar aos animais alimentos com maior conteúdo e qualidade de carne, globalmente, a propriedade de animais de estimação aumentará os impactos ambientais das escolhas alimentares humanas", refere Gregory Okin.
Assim, a solução para bem da Terra, mas também de outros animais, passa por diminuir a taxa de posse de cães e gatos.
“Reduzir a taxa de posse de cães e gatos, talvez a favor de outros animais de estimação que ofereçam benefícios emocionais e de saúde semelhantes, reduziria consideravelmente esses impactos. Esforços simultâneos em todo o setor para reduzir a sobrealimentação, reduzir o desperdício e encontrar fontes alternativas de proteína também reduzirão esses impactos", considerou.
"Esta análise não significa que devemos limitar a propriedade de cães e gatos. Mas também não podemos vê-la como um bem incontestável", defendeu.