Depois das primeiras projeções divulgadas pelas televisões terem deixado o Centro de Trabalhos do PCP em silêncio, o discurso de Jerónimo de Sousa, duas horas depois, encheu a sala de bandeiras e de promessas de que “a luta continua”.
O líder dos comunistas não quis começar o discurso pela prestação negativa da CDU, e vincou, antes de mais, que os “resultados conhecidos traduzem, ainda que com alterações de posicionamento e de expressão eleitoral entre as forças políticas com representação na Assembleia da República, um quadro semelhante ao de 2015”.
Jerónimo de Sousa quis deixar claro, desde início, que “será em função das opções do PS, dos instrumentais orçamentais que apresentar e do conteúdo do que legislar que a CDU determinará o seu posicionamento, vinculado aos compromissos que assumiu com os trabalhadores e com o povo”. Ou seja, para a repetição de uma ‘geringonça’, é necessário que as prioridades do PS vão ao encontro de medidas do PCP como o “aumento do Salário Mínimo Nacional para os 850 euros”, o “aumento das reformas e pensões”, a “dedicação de 1% do Orçamento do Estado para a Cultura” e “o reforço no SNS e nos serviços público”.
Confrontado pelos jornalistas se já tinham sido estabelecidos quaisquer contactos com os socialistas, Jerónimo de Sousa garantiu que ainda não tinha falado com o PS, mas deixou claro que não haverá acordo escrito. “Não haverá repetição da assinatura do papel”.
“Interesses dos trabalhadores saem enfraquecidos”
Quando Jerónimo falou, apesar de ainda não terem sido revelados os resultados oficiais, a derrota da CDU já era irreversível com a perda de deputados confirmada. O dirigente afirmou que a perda de “força” da coligação “constituiu um fator negativo para o futuro do país”, acrescentando ainda que “com estes resultados os interesses dos trabalhadores e do povo saem enfraquecidos”.
Para o líder, a razão por esta derrota deveu-se “a uma campanha de mentiras, de difamação, da promoção de preconceitos” que prejudicou a CDU, mas que “favoreceu outras forças polítcas”. Sobre este alegado ataque à CDU, o dirigente não quis adiantar mais pormenores e passou rapidamente para o compromisso para os próximos quatro anos: a defesa de políticas que “rompem com os interesses do grande capital, colando a valorização dos trabalhadores como objetivo central” e a luta contra “a submissão ao euro e às imposições da União Europeia” que permita “o direito do país a um desenvolvimento soberano que o PS não está em condições de assegurar”.
Jerónimo de Sousa terminou a intervenção este domingo garantindo que a bancada da CDU continuará no Parlamento a ter uma ação “combativa” e que não abandonará a liderança do PCP tão cedo. “Assim que a Assembleia da República abrir lá estarei (…) essa questão [de deixar o cargo de secretário-geral] não se coloca”.
Do lado dos Os Verdes não houve qualquer declaração, mesmo com a perda da deputada Heloísa Apolónia, eleita do partido ecologista desde 1995, que nestas eleições concorreu pelo círculo de Leiria.