Uma rede criminosa que se dedicava há quatro anos ao auxílio à emigração ilegal foi hoje desmantelada pela Unidade Nacional Contra Terrorismo – algumas das vítimas cairam em esquemas de tráfico humano. Esta manhã a Polícia Judiciária está a levar a cabo uma mega operação de 60 buscas domiciliárias e não domiciliárias, que envolve mais de duas centenas de inspetores e conta com mais de vinte mandados de detenção.
Dois dos envolvidos serão das Finanças, mas haverá também suspeitos da Segurança Social.
Ao que o SOL apurou, os cérebros do grupo serão advogados que criavam empresas fictícias, à frente das quais tinham testas-de-ferro, que forjavam contratos de trabalho para cidadãos oriundos da Península Indostânica, ou seja, de países como a Índia, o Paquistão e o Bangladesh, a troco de avultadas quantias. No entanto para estes imigrantes, que dominam na sua maioria a língua inglesa, o destino de eleição era a Grã-Bretanha e a Alemanha.
O esquema seria liderado pelo advogado moçambicano Sabirali Ali, de ascendência indiana, e que no passado já havia sido condenado por crimes idênticos envolvendo cidadãos brasileiros a uma pena suspensa de cinco anos. Do esquema, segundo a investigação, farão ainda parte os advogados Ana Bernardi e João Vaz.
Entre os detidos estará também uma mulher de nacionalidade portuguesa que terá aceitado casar com um destes imigrantes para concessão de nacionalidade europeia.
Portugal servia apenas como país de passagem onde nunca ficavam mais de dois meses, o tempo para obterem a autorização de residência e com ela poderem viajar para a Europa. Para agilizar o esquema, a rede contava com funcionários do SEF o que permitia não só escapar à fiscalização como obter, em processos geralmente morosos, a autorização de residência em tempo record.
Como funcionava o esquema?
Ao terem um contrato em Portugal, os imigrantes que pretendiam seguir para o Reino Unido conseguiam uma aparente legalidade da sua permanência em território europeu, descontando inclusivamente para a segurança social.
Para tal, a rede contaria com funcionários da segurança social, mas também das finanças e do SEF.
E, segundo as autoridades, facto de os imigrantes saírem quase de imediato do país permitiu que este esquema durasse anos uma vez que não deixava rasto.
Os preços pagos pela entrada na Europa
O pack pago pelos imigrantes variava entre os 700 euros (o mais básico) e os 15 mil euros (obtenção de nacionalidade através de casamento branco). Tudo era muito simples.
Segundo o SOL apurou a Portugal chegaram ao longo de anos diversas carrinhas com pessoas da Índia, Paquistão e Bangladesh, que viam os escritórios hoje alvo de buscas falsificarem documentos de trabalho. E o caso começou a dar nas vistas, uma vez que cada vez mais nacionais destes países estavam a chegar a outros países europeus com documentos falsos fabricados em Portugal.
Segundo fontes conhecedoras do processo, o principal risco desta porta de entrada ilegal é a possibilidade de haver mafiosos entre os que chegam, não sendo desta forma investigada as suas reais intenções.
Na prática, Portugal podeira estar a legalizar homens e mulheres que no limite poderiam pertencer a uma organização terrorista, uma vez que o esquema dispensava qualquer controlo.
Segundo o SOL apurou, a Europol já há muito que anda a apontar o dedo a Portugal pelo facto de em muitos países europeus estarem a aparecer pessoas com documentos portugueses.
Advogados e angariadores que actuam nas comunidades
Por trás deste esquema existem escritórios de advogados que atuam coordenados com as comunidades desses países.
Em causa neste inquérito estão crimes de associação criminosa, auxílio à imigração ilegal, corrupção e de falsificação de documentos.