Quase de uma forma impercetível fomos deixando de receber abundantes postais com os tradicionais votos de festas felizes e de próspero ano novo, os sucedâneos que passámos a utilizar, quiçá até mais profusamente por razões não só do alargamento das redes individuais de relacionamento mas também pela ilusão de baixo custo que a novas tecnologias proporcionaram, eliminaram praticamente as alusões a votos de prosperidades no ano vindouro. Quedamo-nos normalmente pelo desejo de Bom Ano.
Haverá certamente muitas razões para que tal aconteça, as quais, contudo, não nos arredam dos votos de que o próximo ano nos traga uma situação favorável, plena de êxito e ventura em que a abundância se expresse em riqueza e felicidade.
A prosperidade é um estado em que os seres humanos atingem padrões de vida que lhe garantem a contínua sensação de felicidade e estabilidade emocional, decorrente de um constante desenvolvimento e progresso pessoal.
O desejo de próspero ano novo que tínhamos o salutar hábito de desejar pressupunha e pressupõe uma forte crença em que a sociedade em que nos inserimos deveria tratar os seus membros de uma forma igualitária. Forma decorrente da ideia muito antiga de que os seres humanos são fundamentalmente iguais entre si, ideia que durante largos séculos encontrou expressão na crença religiosa de que todos somos iguais aos olhos de Deus.
Sendo muito controversa a ideia de igualdade, há pelo menos uma base que parece ser menos conflituante com as diversas ideologias que povoam as mentes humanas. Tal base aceita que todas as pessoas devem ser tratadas como iguais nas esferas institucionais que afetam diretamente as oportunidades que a vida proporciona a cada cidadão, ao mesmo tempo que cada um deve ter igual oportunidade para alcançar os vários benefícios e recompensas que a sociedade torna disponíveis através da intervenção do Estado na gestão e execução dos planos, programas e medidas que decide priorizar e implementar.
A ação do Estado, cujas intenções são vertidas no seu Orçamento, faz por isso também parte da nossa possibilidade individual de acedermos à prosperidade. Do ponto de vista económico a prosperidade corresponde a um período do ciclo económico caracterizado quer pela expansão das atividades económicas, quer pelo ambiente de otimismo dos diferentes agentes económicos. Nas fases de prosperidade a produção aumenta, observam-se investimentos relevantes, novas e promissoras empresas são criadas, expande-se o crédito, diminui a taxa de desemprego, aumentando a oferta e a procura de produtos.
Das teorias que explicam os ciclos económicos e consequentemente também a sua fase de prosperidade existem duas grandes categorias de teorias, as exógenas em que as causas são exteriores à própria economia e as endógenas cujas causas estão ligadas com a própria economia e a sua gestão.
Na perspetiva individualista tão na moda, que parece fazer acreditar em super – homens que não necessitam dos demais, e atento o particular momento politico que vivemos, esperemos que os detentores do poder político contribuam ativamente para a nossa prosperidade, utilizando todo o aparato da governação para conceber, implementar e financiar planos e programas destinados a promover de modo efetivo os interesses de prosperidade de todos os cidadãos, minimizando, em simultâneo, aquilo que William Beveridge classificava como os cinco males gigantes: a escassez, a doença, a ignorância, a miséria e a ociosidade.
Sendo certo que o Orçamento de Estado reflete escolhas transformadas numa declaração de intenções materializáveis ou não na sua execução. Desejo que, fruto duma combinação favorável das múltiplas condições que o determinam, o leitor tenha um bom e próspero ano novo.