António Costa afirmou que se identifica mais com o Livre do que com o PSD – tem até intenções de ampliar a base de entendimentos a este partido – , mas criticou o tempo de antena que tem sido dado ao partido da papoila e às restantes novas representações parlamentares.
“Não gostaria de acompanhar esta excitação mediática em torno da hipervalorização de novas representações parlamentares que têm a dimensão de representação que têm”, disse o primeiro-ministro, numa entrevista ao Jornal de Notícias (JN). “Acho incompreensível que, no dia em que o PSD disputa a segunda volta da eleição da sua liderança, tenha sido dado mais tempo mediático ao Livre do que ao PSD. Eu seguramente estou mais próximo politicamente do Livre do que do PSD, mas admitamos: não faz o menor sentido. E acho que esta subversão da representação democrática expressa na Assembleia da República por esta via mediática é um erro e involuntariamente só alimenta o populismo”, acrescentou, numa clara referência ao Chega.
Durante a entrevista, Costa falou sobre a liderança do PS e voltou a deixar o recado a quem possa ter ambições nesse sentido: “Não vejo nenhuma razão para a sucessão no PS começar a ser debatida em 2022”.
Uma história mal contada Na mesma entrevista, o primeiro-ministro aproveitou para esclarecer a história do acordo falhado entre o PS e o Bloco de Esquerda, para dar seguimento à geringonça. O primeiro-ministro nega que o PS tenha procurado, por sua vontade, fazer um acordo escrito com o Bloco de Esquerda no início desta legislatura – “Aí está uma história mal contada”, disse Costa.
“Logo na noite das eleições [legislativas], o PS fez uma interpretação muito clara dos resultados. O que os eleitores disseram foi que queriam a continuação da ‘geringonça’, agora com um PS fortalecido”, recorda o líder socialista. Segundo Costa, o PCP disse que não era necessário renovar a solução política com recurso a um documento escrito. “O BE manifestou publicamente a intenção de que pudesse haver um acordo escrito. Fomos negociar com o BE e, quando lá chegámos, foi-nos entregue um papel com pré-condições para negociar um acordo com o PS”, pré-condições essas que “assentavam todas fundamentalmente na revisão da legislação do trabalho”, conta o primeiro-ministro.
“Ora, tínhamos acabado de fazer essa revisão, que tinha entrado em vigor a 1 de outubro. Era sabido, à partida, que não poderiam ser aceites e informei a [coordenadora do Bloco de Esquerda] Catarina Martins de que isso não fazia sentido. Senti, da parte dela, total compreensão por essa posição e que não era obstáculo nenhum ao desenvolvimento dessa relação”, recorda. Agora, o primeiro-ministro diz que o programa eleitoral do PS acolhe sugestões destes partidos “como sinal de que se tenciona prosseguir a legislatura nas mesmas bases da anterior, agora alargada ao PAN e ao Livre”.