A ideia de um Governo de salvação nacional foi lançada por José Miguel Júdice, na última edição do SOL, mas está longe de ser consensual. Os partidos assumem todas as cautelas sobre o futuro numa altura em que ainda não é possível perceber a duração da pandemia e medir as consequências da crise económica.
Há, porém, várias questões a fazer sobre o impacto desta crise na política portuguesa: um Governo minoritário conseguirá enfrentar a crise? Os partidos à esquerda do PS, que já davam sinais de distanciamento, vão continuar a apoiar o Governo socialista?
O ex-dirigente socialista Henrique Neto considera que a melhor solução para resolver a crise seria uma aliança entre PS e PSD, mas não acredita que António Costa mude de estratégia. «Isso é irrealista. Ele nunca vai fazer isso. Vai manter esta solução depois da crise. OBE e o PCP vão fazer algumas exigências, mas não vão perturbar o Costa». O ex-deputado socialista acredita, porém, que seria «vantajoso» um Governo do Bloco Central para «combater a crise económica». Já o socialista Daniel Adrião considera que a prioridade, agora, é «salvar vidas», mas «quando o país sair da quarentena há muita coisa a repensar e há reformas que depois desta crise se tornaram ainda mais urgentes».
No PSD também surgiram vozes a contestar a ideia de que vai ser preciso um Governo de salvação nacional. «Tempos muito difíceis aguardam Portugal. Não tornemos tudo ainda mais difícil. Precisamos de pensar com sensatez e ousadia para remediar o que temos pela frente. Não precisamos de atirar para cima da proverbial mesa do regime as estafadas ideias de sempre. Não precisamos, por isso, de nenhum Bloco Central», escreveu, nas redes sociais, o ex-deputado do PSD Miguel Morgado. O antigo assessor do PSD defende que «há muitos meios de garantir estabilidade ao Governo do PS».
A verdade é que não é fácil prever quanto tempo vai durar esta pandemia e até que ponto vai afetar a economia. Ribeiro e Castro, ex-líder do CDS, desafiado a comentar os impactos da crise na vida política, considera que «é muito difícil, nesta altura, fazer previsões», mas admite que «a situação está a deteriorar-se do ponto de vista económico a cada semana que passa». Só no início do verão é que o ex-líder do CDS arriscará avaliar «a capacidade política que vai ser necessária para enfrentar» a crise.
O que se sabe é que a pandemia criou, para já, um clima de unidade nacional na necessidade de proteger a saúde dos portugueses. Rui Rio, desde o início que, praticamente interrompeu a oposição e, esta semana, voltou a garantir que o PSD está «com quem, democraticamente no exercício das funções, compete governar e dirigir o país».
BE e PCP têm exigido mais apoio à economia, principalmente às pequenas empresas e aos trabalhadores. João Teixeira Lopes defende que a ‘geringonça’ não deve morrer com esta crise, até porque «veio mostrar como os serviços públicos são essenciais». O ex-deputado bloquista defende que é preciso reforçar «uma convergência» que estava algo abalada. «Agora percebe-se que era necessário um acordo escrito. É fundamental uma contratualização robusta». Com Ana Teresa Banha