A escassos dias de terminar o período de estado de emergência, a expressão “Governo de salvação nacional” entrou no léxico da política. “Vamos ter tempos muito pesados e vai fazer sentido pensar nisso [no Governo de salvação nacional]”, afirmou Rui Rio, presidente do PSD, no passado domingo, numa entrevista à RTP.
Rui Rio não especificou como – e se – poderá ser necessária uma solução de bloco central (PS e PSD), optando apenas por não descartar a expressão “salvação nacional”.
O primeiro-ministro, António Costa, assegurou, por seu turno, que não ouviu a entrevista de Rui Rio e preferiu destacar “uma grande unidade nacional” entre órgãos de soberania, onde se incluem os partidos na Assembleia da República. Isto numa altura em que o “país vai entrar no mês mais crítico” de combate à covid-19.
Assim, António Costa arrumou o assunto: “Não devemos agora consumirmo-nos em fazer discussões sobre as formas políticas. Temos de nos concentrar na prioridade que é estancar a pandemia e responder às necessidades das pessoas que estão contaminadas ou que podem vir a estar contaminadas”.
Neste ponto, tanto São Bento como Belém estão alinhados. Marcelo Rebelo de Sousa, o Presidente da República, colocou a questão de um Governo de salvação nacional ao nível do debate sobre as presidenciais, ou seja, “especulativo.”
Mais, Marcelo foi questionado pelos jornalistas sobre se falar, nesta fase, de uma solução de salvação nacional seria colocar o carro à frente dos bois. E a resposta foi dada de forma clara e simples: “É isso. Falaremos oportunamente daquilo que é para depois e não é para já”. Antes, já tinha respondido que o tema não estava em cima da mesa: “´É congeminar sobre um futuro longínquo” ou um exercício “especulativo”, numa intervenção em direto nas televisões.
O Bloco de Esquerda acrescentou que, no momento de urgência em que se vive, é uma discussão “estranha”.
Ora, Rui Rio introduziu o tema como um cenário também ele longínquo, mas não passou despercebido. E, se é certo que o assunto não faz parte do debate interno na direção do PSD, a frase do líder do partido deve ficar para memória futura, quando a crise sanitária passar.
Por agora, os sociais-democratas adotaram a postura de que se deve ser “oposição ao vírus e não oposição uns aos outros”. Para o demonstrar o líder social-democrata garantiu que haverá “latitude” suficiente dos sociais-democratas para viabilizar ou aprovar um orçamento suplementar, muito mais de que um retificativo. A solução de um orçamento suplementar já tinha sido admitida ao i por fontes parlamentares. Mas, Rui Rio avisou, na mesma entrevista, que a posição do PSD não será um cheque em branco, ainda que haja “toda a solidariedade”.
Dentro do PSD as declarações de Rio foram elogiadas até por quem, há pouco mais de dois meses, apoiava o seu principal adversário, Luís Montenegro.
Rui Machete, antigo líder do PSD, e ex-ministro, diz ao i que “foi uma entrevista muito ponderada” e que Rio se limitou a abordar uma “ hipótese que não se punha, mas que não poderia excluir”. O que lhe pareceu razoável, até porque não se sabe o que vai acontecer, quanto tempo será necessário para combater a pandemia e qual será o estado da economia nacional. Ou seja, existem muito imponderáveis.
Na referida entrevista, Rio defendeu a extensão do lay-off para os gestores das pequenas empresas e mostrou-se favorável à renovação do estado de emergência por mais quinze dias. A decisão será tomada esta semana.