O mercado automóvel caiu 84,6% em abril. Já era expectável?
Infelizmente, já estávamos à espera, porque o setor automóvel é um barómetro da economia. Quando há uma crise desta dimensão é dos principais setores a ser afetado. Nesta crise falou-se muito e, justificadamente, dos setores do turismo e da restauração, mas constatamos que o setor automóvel está com quedas semelhantes. Há ainda um outro indicador que é o número de trabalhadores em layoff das empresas do comércio e reparação automóvel que também está próximo das empresas desses setores. São quedas assustadoras e históricas. Mas devido ao peso que tem acaba por ter uma repercussão muito negativa em termos de impostos.
A ACAP apresentou uma série de propostas ao Governo. Houve alguma resposta?
Apresentámos no início desta crise um plano de apoio ao nosso setor com um pacote de medidas e, entre elas, uma que acabou por se concretizar que era a reabertura dos estabelecimentos do setor automóvel, logo na primeira fase de desconfinamento. Uma medida que foi importante do ponto de vista simbólico, embora não tivesse representado um aumento de vendas, porque nos primeiros quinze dias do mês de maio as vendas registaram uma queda de 71% face ao período homólogo do ano passado. Ou seja, nestas duas primeiras semanas venderam-se 1.853 veículos ligeiros de passageiros contra 6.400 nos mesmos dias de maio de 2019. Em abril, a queda já tinha sido de 87%, com os estabelecimentos fechados com vendas que estavam programadas ou online. Isto significa que é preciso criar medidas de estímulo à procura e foi isso que a ACAP propôs ao Governo. Temos estado em contacto permanente com as associações congéneres de outros Estados-membros, designadamente Espanha, França e Itália, para ver o que estão a fazer e o que estão a equacionar com os vários Governos para que haja esse estímulo à procura e para que haja apoio quer nacional, quer europeu.
Falou de vendas online, mas os carros são um produto que, por norma, os compradores gostam de experimentar, de sentir…
Sem dúvida. Está provado que o carro, a seguir à aquisição de habitação, é um produto em que as pessoas gostam de ter contacto e que exige uma decisão a nível familiar. Não é a mesma coisa do que encomendarmos online, como aconteceu durante este período de confinamento, um ou outro objeto. Não é disso que se fala quando falamos de compra de um automóvel, pois é um bem de consumo duradouro, é uma despesa significativa para as famílias e qualquer decisão requer não só reflexão, mas também esse tipo de contacto com a viatura.
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