A deputada Cristina Rodrigues, eleita por Setúbal nas últimas eleições legislativas, desvinculou-se do PAN e passará a ter o estatuto de não inscrita. De saída do partido, a deputada que foi a surpresa das últimas legislativas, acusa a direção de a silenciar e condicionar a sua "capacidade de trabalho".
"Hoje, de coração extremamente apertado, decidi desvincular-me do PAN, após ter dado tanto de mim a este partido. Infelizmente, não consigo adiar mais esta decisão e apenas a tomo por não ver outra saída e por acreditar que, ao adiá-la, poderia vincar ainda mais as divergências existentes e ser mais prejudicial para o partido, para mim e para as causas com que continuo a identificar-me", lê-se numa nota da deputada, transcrita pela agência Lusa.
"Fui sentindo cada vez mais a minha voz silenciada e a minha capacidade de trabalho condicionada, o que culminou com o meu recente afastamento da Comissão Política Permanente do PAN, feito à minha revelia e sem aviso prévio", explicou.
Para Cristina Rodrigues, tornou-se impossível "lidar com a forma como o PAN tem sido orientado" e já não há forma de "inverter esse rumo através dos atuais mecanismos internos".
"Já há algum tempo que a estratégia definida pela direção tem primado por um afastamento face a princípios estruturais do PAN", afirmou, acusando o partido de exercer uma "clara centralização do poder" em que deixou de haver "tolerância para com a diferença" e em que "qualquer opinião divergente é rotulada de desleal".
"Passou-se de um discurso construtivo, positivo, imbuído da vontade de fazer pontes e de dialogar, para um discurso agressivo que chega a colocar em causa pessoas e não ideias, algo que contraria os estatutos do partido", acrescentou.
Na mesma nota, Cristina Rodrigues aproveitou para confirmar que se manterá na Assembleia da República, passando a adotar o estatuto de deputada não inscrita. Sublinhou ainda que acredita que pode "fazer a diferença", orientando-se daqui para a frente "pelos princípios e valores" que a levaram "à causa pública e ao desafio parlamentar".
Recorde-se que a saída de Cristina Rodrigues acontece depois de o PAN ter perdido a representação no Parlamento Europeu, com a desfiliação (na semana passada) do seu único eurodeputado, Francisco Guerreiro.
O PAN enfrenta assim uma crise interna sem precedentes. As demissões continuam devido a divergências com a direção. Além de Francisco Guerreiro e, ainda antes da saída de Cristina Rodrigues, também três membros que compunham a Comissão Política do PAN na Madeira baterem com a porta.
João Freitas, Ana Mendonça e Isabel Braz deixaram o PAN em rutura com a direção que acusam de assumir “o controlo total” do partido.
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