Tiago Mayan Gonçalves nasceu e vive no Porto, é advogado e tem 43 anos. Foi militante do PSD, mas só se envolveu na política ativa quando Rui Moreira se candidatou, pela primeira vez, à câmara do Porto. É o candidato dos liberais, mas espera conseguir apoios entre os militantes do PSD, CDS e da Aliança. Faz duras críticas a Marcelo por ter ajudado o Governo, mas também a Rui Rio e a André Ventura. O grande objetivo é aproveitar a campanha para passar a mensagem dos liberais.
O Presidente da República teve pouca intervenção no início da pandemia. A atuação de Marcelo Rebelo de Sousa merece-lhe críticas?
O Presidente desapareceu num determinado momento, mas depois voltou para ajudar a construir a narrativa do Governo nesta matéria. Foi o Presidente que importou o conceito do milagre português.
Não existiu?
Não existe um milagre português. Isso é evidente. OPresidente, no contexto da pandemia, aderiu a uma narrativa. O Presidente disse que é o primeiro responsável e garantiu que ninguém iria mentir aos portugueses e poucos dias depois António Costa estava a dizer-nos que nada faltava no Serviço Nacional de Saúde. E depois assistimos às conferencias de imprensa cada vez mais aberrantes da Direção-Geral da Saúde. A sensação que tenho é que a ministra da Saúde [Marta Temido] e a Diretora-Geral de Saúde [Graça Freitas] estão claramente perdidas e que são ultrapassadas pelos acontecimentos.
O que aconteceu nos lares…
É lamentável e inaceitável que isto possa acontecer. Há uma clara responsabilidade do Estado que tem de fiscalizar e que foi lá tardiamente. Mas mesmo tendo ido tardiamente nada fez. É inaceitável. Pedrógão é mais grave, mas a nível da atitude do Governo é comparável. É o Estado a abdicar de fazer o que realmente tem de fazer. Estas coisas é que o Governo tem de fazer.
Não tem receio de cair em contradição quando defende uma redução brutal de impostos e depois quer que o Estado assegure uma boa rede de lares…
O Estado não tem que ter uma boa rede de lares de idosos, mas deve ter capacidade para os fiscalizar. O Estado não tem que ter hospitais. Deve garantir o acesso universal aos cuidados de saúde e depois ter uma boa entidade reguladora que verifica se os hospitais públicos e privados estão a funcionar bem. O acesso universal aos cuidados de saúde, que deve ser garantido, não significa que o Estado tem de ser dono de quem presta o cuidado de saúde. Não existe nenhum motivo para que tenha de ser o dono. O mesmo com a Educação. Se o Estado puder gastar o mesmo ou menos dando um cheque ensino aos pais…
O Estado pagava na mesma.
Pagava menos. Está demonstrado. Temos exemplos por toda a Europa disso mesmo. Não é achismo, temos exemplos concretos. Mas no contexto da pandemia o Estado não recorrer aos privados por um preconceito ideológico é um problema e está a matar pessoas todos os dias. A pandemia levou a que fossem canceladas consultas e cirurgias. Tudo o resto foi esquecido pelo Serviço Nacional Saúde. O Estado devia estar a falar com os privados para garantir que uma consulta que tem de ser cancelada num hospital público possa ser realizada num hospital privado ao lado. Provavelmente teríamos muito melhor se isto estivesse a ser feito. Temos informação de que houve um pico de mortes e só uma pequena percentagem é explicada pela covid-19.
Como viu a declaração de António Costa, na Autoeuropa, a dar como certa a reeleição do atual Presidente da República?
Marcelo foi o primeiro candidato a ser apresentado. Foi apresentado, em plena Autoeuropa, pelo seu diretor de campanha António Costa. Mas ele já é recandidato desde o primeiro dia em que foi eleito. O registo mais coerente do seu mandato é ter iniciado a sua campanha nesse dia.
Ficou surpreendido com o apoio dado por António Costa e outros socialistas à recandidatura de Marcelo Rebelo de Sousa?
Não fiquei nada surpreendido. É António Costa a pagar o favor que Marcelo lhe fez. Marcelo assumiu essa posição de ser submisso ao Governo para garantir a sua reeleição. Ele percebe e sabe que garantir a reeleição implica ter esses apoios.
Não é bom para o país ter um Presidente da República e um Governo que conseguem entender-se quando estamos confrontados com uma pandemia e uma crise económica e social?
Não. É mau, porque é um Presidente a abdicar de o ser. Nós concebemos um sistema constitucional em que tem de haver um Presidente, mas ele não o foi. Isto está desequilibrado. Se temos um Governo que está a governar, mas também a meter a mão noutros assuntos, e se temos um Presidente que desaparece, isto é um sistema desequilibrado.
Marcelo Rebelo de Sousa está sempre a aparecer…
Desaparece das suas funções. Aparece muito nas televisões, mas não exerce as suas funções.
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