A esquerda não gostou de ouvir António Costa ameaçar com uma crise política se não houver acordo no Orçamento do Estado para 2021. O primeiro-ministro garantiu que só está disponível para negociar à esquerda e avisou que a ausência de acordo levará a eleições antecipadas. “Se não houver acordo, é simples: não há Orçamento e há uma crise política”, disse, numa entrevista ao Expresso.
O Bloco de Esquerda reagiu de imediato e deixou claro que este não é o caminho para conseguir um acordo. “Não é o primeiro ultimato sobre crise política. Não resolve nada e não mobiliza ninguém. Precisamos, isso sim, de respostas fortes à crise sanitária, social e económica. Desde logo, no OE2021. O Bloco concentra-se nas soluções para o país”, afirmou Catarina Martins.
Não foi a única a lamentar a ameaça do primeiro-ministro. José Manuel Pureza escreveu, na sua página do Facebook, que o Bloco de Esquerda rejeita “dramatizações vazias de proposta concreta” e prefere apostar no “trabalho em propostas concretas para responder às necessidades das pessoas”. José Gusmão, eurodeputado do BE, também criticou a “chantagem” feita por Costa. “Na realidade, António Costa está a anunciar que não quer negociar. A chantagem é o lema do Governo para o pós-geringonça. Foi, aliás, por isso que acabaram com ela”, escreveu, nas redes sociais.
O PCP também defendeu que “os problemas não se resolvem ameaçando com crises mas sim encontrando soluções para responder a questões inadiáveis que atingem a vida de milhares de pessoas e com opções que abram caminho a uma política desamarrada das imposições da União Europeia e dos compromissos com o grande capital”.
Os comunistas deixaram ainda um aviso ao Governo: “Não basta declarar que não se quer nada com o PSD, é preciso que não se façam as mesmas opções que este faria. Tanto mais quando se continuam a registar em diversas matérias relevantes convergências entre os dois partidos”.
António Costa garantiu que este Governo vai acabar “no dia em que a sua subsistência depender do PSD”. Rui Rio reagiu nas redes sociais e com uma curta análise à entrevista do primeiro-ministro. “Na mesma entrevista apaixonada em que se volta a declarar ao BE e ao PCP, dizendo que não consegue viver sem eles, e propondo um casamento em regime de comunhão geral”.
O histórico do PSD António Capucho foi mais longe e classificou a ameaça de uma crise política como “um gesto teatral e fútil, pois ele sabe que pelo menos o BE vai obter provavelmente alguns ganhos de causa nas exigências que apresentar e assim viabilizará o orçamento”. Mas, acrescenta o ex-líder parlamentar do PSD na sua página do Facebook, mesmo que as negociações falhem com a esquerda “haverá sempre solução alternativa no parlamento para viabilizar o orçamento: a abstenção do PSD”.
O Presidente da República aproveitou para voltar a alertar que a hipótese de uma crise política não pode estar em cima da mesa. Marcelo avisou que a crise económica provocada pela pandemia não deixa espaço para perturbações, porque “a pandemia está aí e pode conhecer agravamentos, “a crise económica vai conhecer agravamentos” e é preciso “pôr de pé um plano de recuperação” com os fundos que virão de Bruxelas. O Presidente só pode dissolver o Parlamento até ao dia 8 de setembro, mas já classificou esse cenário como “ficção”.