António Costa e Fernando Medina fazem parte da comissão de honra da candidatura de Luís Filipe Vieira às eleições no Benfica, noticiou este sábado o Expresso.
Ambos os gabinetes do primeiro-ministro e do presidente da maior câmara municipal do país sublinharam que o apoio à recandidatura era a título pessoas, ou seja enquanto sócios.
O PSD, o Bloco de Esquerda e o PAN já reagiram e criticam a proximidade que se pode criar entre o mundo da política e do futebol com a presença do nome do primeiro-ministro numa lista de um candidato à liderança de um clube.
Para o presidente do PSD, não faz qualquer sentido que António Costa integre a comissão de honra de Luís Filipe Vieira.
"O futebol é acima de tudo emoção e a política acima de tudo tem de ser racionalidade", afirmou Rui Rio, sublinhando os problemas judiciais que envolvem o atual presidente do Benfica. Recorde-se que Vieira é arguido na Operação Lex e que esta semana foi acusado pelo hacker Rui Pinto de estar envolvido num esquema com a Odebrecht.
Catarina Martins sublinhou que não deve haver cumplicidade entre política e negócios e criticou que António Costa ache normal fazer parte da lista de apoio ao dirigente dos encarnados.
"Saber hoje que o primeiro-ministro acha normal fazer parte de uma comissão de honra de alguém que é dos maiores devedores do Novo Banco e que está implicado no problema do BES (Banco Espírito Santo) não fica bem", disse a líder bloquista.
André Silva, do PAN, também não poupou críticas e problemas éticos. "Todas estas situações de ligação próxima da política ao futebol não são admissíveis do ponto de vista ético, porque abrem a porta a que o amor ao clube se possa sobrepor ao compromisso para com o interesse público, que deverá sempre nortear qualquer titular de um cargo político no exercício do cargo", lê-se no comunicado do partido, citado pela agência Lusa.
João Noronha Lopes, candidato às eleições no Benfica e por isso adversário de Luís Filipe Vieira, foi mais vago nas suas críticas. “Cada um tirará as suas conclusões acerca da presença do primeiro-ministro na comissão de honra de Luís Filipe Vieira, mas aproveitamos a oportunidade para assegurar que esta candidatura será sempre pela separação escrupulosa entre a política e o futebol”, escreveu no Twitter.
O presidente da Associação Transparência e Integridade, João Paulo Batalha, considera mesmo que há violação do código de conduta, que o próprio Governo de António Costa mandou fazer e aprovou.
“Estamos a falar de regras éticas em primeiro lugar mas que são regras que, no caso de António Costa, estão codificadas num Código de Conduta que mandou fazer, que aprovou no seu governo e que diz explicitamente que os membros do governo, onde se inclui o primeiro-ministro, não devem aceitar convites e envolver-se em questões que ponham em causa a sua imparcialidade no tratamento de pessoas ou instituições ou que podem dar benefícios diretos ou indiretos a pessoas e instituições”, disse à Rádio Observador.
João Paulo Batalha vai mais longe e disse que aconselharia a que “estes dois responsáveis políticos não se intrometessem publicamente na gestão interna de qualquer clube de futebol, muito menos o fizessem no âmbito de uma eleição que está a ser disputada por vários candidatos em apoio a um desses candidatos.
O responsável fez ainda questão de lembrar que o candidato em causa está “particularmente envolvido em várias investigações de corrupção e de outro tipo de crimes e que é publicamente identificado como o autor de um dos maiores buracos do Novo Banco, de centenas de milhões de euros, um banco que está a ser intervencionado com dinheiros públicos”.
“Tudo isso é algo perfeitamente incompreensível e um retrato infeliz da rede de promiscuidade entre política e futebol e de relações perigosas”, conclui.
Por outro lado, o antigo deputado do PSD e ex-autarca de Sintra – que também faz parte da comissão de honra de Vieira – saiu em defesa de Costa.
“A liberdade de expressão e de adesão não estão confinadas nem congeladas”, afirmou Fernando Seara numa declaração escrita enviada ao Expresso.
“A pandemia é perturbante”, disse, e acrescentou: “de repente não é possível ter opinião, dar apoio ou integrar movimentos de apoio”.