O PS ainda não assumiu uma posição oficial sobre as presidenciais, mas já há, pelo menos, um destacado socialista a assumir publicamente o apoio à recandidatura de Marcelo Rebelo de Sousa. João Soares, ex-ministro da Cultura e dirigente socialista, declarou «apoio à futura candidatura de Marcelo Rebelo de Sousa», por considerar que o atual Presidente da República «tem tido um trabalho positivo, por vezes mesmo muito positivo, no exercício das suas funções como Presidente». «Quero que continue», afirmou o antigo presidente da Câmara de Lisboa.
João Soares assume-se como «um homem de esquerda», mas tem «a convicção e o desejo» de que um segundo mandato de Marcelo Rebelo de Sousa «possa ser ainda melhor do que o que está a terminar».
A declaração foi feita nas redes sociais e surpreendeu alguns socialistas numa altura em que muitos estão à espera que o partido assuma uma posição oficial, agendada para a próxima reunião da Comissão Nacional, para se pronunciarem. O encontro estava marcado para dia 24, mas foi adiado para dia 31, para não coincidir com o dia de reflexão das eleições regionais dos Açores.
A reunião, prevista para o cineteatro Capitólio, no Parque Mayer, em Lisboa, tem como ponto único da ordem de trabalhos «a análise da situação política e as eleições presidenciais».
Nas últimas eleições, em 2015, o PS decidiu quase um mês mais cedo que daria liberdade de voto aos militantes na primeira volta das presidenciais. Nessa altura, existiam duas candidaturas da área socialista: Sampaio da Nóvoa e Maria de Belém.
O mais provável é que o PS decida voltar a dar liberdade de voto aos seus miulitantes.
Marcelo Rebelo de Sousa poderá vir a ter o apoio de destacados socialistas – como Carlos César, presidente do partido, Ferro Rodrigues, presidente da Assembleia da República, ou Augusto Santos Silva, ministro dos Negócios Estrangeiros (todos já se pronunciaram implícita ou explicitamente a favor da continuidade de Marcelo). Para estes, está fora de questão apoiar a candidatura de Ana Gomes.
Carlos César deixou claro muito cedo que não estaria disponível para apoiar uma candidatura «distante das pessoas, rude e divisionista».
Santos Silva assumiu recentemente que o PS não deve apoiar a ex-eurodeputada. Uma posição que provocou tensões dentro do Governo, com Pedro Nuno Santos a lembrar que «quem decide quem o PS apoia são os órgãos do partido» e «não nenhum membro do Governo».
Ana Gomes à espera de mais apoios do PS
Ana Gomes voltou a garantir esta semana que não lhe faltam apoios dentro do partido em que milita.
A candidata garantiu, numa entrevista ao Público e à Rádio Renascença, que «vários membros do Governo» já lhe disseram que a apoiarão, mas «estão à espera que o PS tome uma decisão sobre esta questão».
Fonte oficial da candidatura de Ana Gomes prefere não reagir directamente ao apoio dado por João Soares à recandidatura de Marcelo Rebelo de Sousa, mas lembra que a ex-eurodeputada «é apoiada por muitos socialistas».
Vera Jardim, ex-ministro da Justiça, Daniel Adrião, que pertence à Comissão Política Nacional, Bacelar Vasconcelos, deputado socialista, e Luís Filipe Castro Mendes, ex-ministro da Cultura de António Costa, já lhe declararam publicamente o apoio.
Isabel Soares, diretora do Colégio Moderno, filha de Mário Soares e irmã de João Soares, também está ao lado da diplomata socialista desde a primeira hora.
«Muitos autarcas, presidentes de câmara e membros do governo de António Costa apoiam Ana Gomes. Por uma questão de disciplina partidária a maioria reservará a sua posição para depois da reunião da Comissão Nacional do PS marcada para daqui a três semanas», garante ao SOL uma fonte oficial da candidatura.
O PAN e o Livre também declararam apoio à candidatura de Ana Gomes.
A pré-campanha de Ana Gomes arrancou no dia 5 de outubro com um apelo aos jovens para que votem nas próximas eleições presidenciais. A candidata, numa iniciativa no Teatro da Trindade, em Lisboa, disse compreender aqueles que estão desencantados com a política, mas deixou um «apelo aos jovens a que combatam a apatia, não se abstenham, não deixem de se indignar, não desistam de Portugal».
Apesar das sondagens apontarem para uma vitória de Marcelo Rebelo de Sousa à primeira volta, a canditada garantiu que «numa República, não há coroações nem vitórias antecipadas, é o povo quem decide».
César rejeita discutir referendo interno
Entretanto, 22 elementos da Comissão Nacional do PS, da tendência minoritária liderada por Daniel Adrião, avançaram com uma proposta para que os militantes sejam consultados sobre a posição que o partido deve assumir em relação às presidenciais.
O objetivo seria discutir na reunião da Comissão Nacional do PS a «realização de uma consulta direta aos militantes e simpatizantes, por via eletrónica, sobre a posição a assumir pelo partido nas eleições presidenciais».
O presidente do partido já respondeu à solicitação deste grupo de socialistas desalinhados e recusou incluir a discussão de uma consulta interna na ordem de trabalhos. Carlos César, apurou o SOL, argumenta que a proposta choca com os estatutos do partido.
Marcelo só anuncia candidatura em novembro
Por outro lado, e para além da declaração de João Soares, Marcelo Rebelo de Sousa está a receber muitos outros apoios, nomeadamente do PSD, apesar de ainda não ter confirmado a sua recandidatura. O que, diga-se, só deverá acontecer no final de novembro ou mesmo em dezembro. Marcelo quer fazer uma campanha curta e adaptada à pandemia.
O atual Presidente da República já garantiu que, quando decidir recandidatar-se ao cargo, estará disponível para realizar debates com todos os candidatos.
À direita, André Ventura, do Chega, e Tiago Mayan Gonçalves, da Iniciativa Liberal, já anunciaram que entram na corrida.
Do lado da esquerda, Marisa Matias volta a candidatar-se com o apoio do Bloco de Esquerda e João Ferreira é o candidato dos comunistas. A Aliança também poderá apresentar um candidato próprio.
Ninguém espera surpresas e até hoje todos os Presidentes foram reeleitos à primeira volta. Foi assim com Ramalho Eanes, Mário Soares, Jorge Sampaio e Cavaco Silva.
O melhor resultado de sempre foi conseguido por Mário Soares: foi reeleito, em 1991, com mais de 70% dos votos contra Basílio Horta, Carlos Carvalhas e Carlos Marques. OPSD optou, nessas eleições, por dar apoio implícito ao fundador do PS.