Está desfeito o tabu alimentado durante algumas semanas entre dirigentes do CDS e do PSD. Paulo Portas, antigo líder do CDS e ex-vice-primeiro-ministro, não será candidato à câmara de Lisboa nas autárquicas de 2021. A ideia tinha sido acalentada depois de algumas pessoas o terem sondado para tal hipótese. Portas ouviu e não disse logo que não. Agora, numa entrevista ao Público, o antigo governante assegura: “Não! Lisboa, não“.
Numa rara entrevista sobre a atividade política, Portas desfaz assim o sonho de alguns que já apostavam no seu nome para uma coligação PSD/CDS em Lisboa para derrotar Fernando Medina nas autárquicas de 2021.
Mas há outras eleições à espreita e Paulo Portas quis clarificar o que pensa sobre Marcelo Rebelo de Sousa, o atual presidente da República. Que ainda não disse que será recandidato ( só o deve dizer algures na última semana de novembro ou na primeira de dezembro). “As eleições presidenciais estão à porta e achei que talvez fosse relevante — para lá da espuma dos dias e de alguma gritaria — fazer uma interpretação, como me pediu, do mandato do atual Presidente, que apoiei e em quem votarei”, esclareceu Paulo Portas de uma assentada: votou em 2016 no nome de Marcelo e votará em janeiro de 2021. O anúncio foi feito na primeira pessoa numa altura em que o CDS ainda não tomou posição, ao contrário do PSD. Que quis arrumar o assunto há um mês.
Para Portas, Marcelo não está isento de críticas, como no caso do Tribunal de Contas, mas o atual presidente “está do lado certo das coisas”.
O antigo líder do CDS considera que Marcelo “preparou-se durante muitos anos para ser Presidente. Ou seja, preparou-se para ser uma instituição. É um fato que se veste. Diria que é uma pessoa informada, excecionalmente inteligente, obviamente hiperativa; e que tendo uma flexibilidade tática, nas questões fundamentais que para ele são relevantes, é não só uma pessoa previsível como uma pessoa… confiável”, acrescenta o ex-vice-primeiro-ministro.
E para quem tem dúvidas à direita se deve votar em Marcelo Rebelo de Sousa ( ou usar um voto de protesto, por exemplo, em André Ventura, do Chega), Paulo Portas quis dar o seu contributo: “[Marcelo ] é essencialmente um unificador e de longe, de entre os que se irão apresentar agora, o único interessado em unificar o país. Algumas das pessoas que agora criticam o Presidente – legitimamente e às vezes com pertinência – nem lhes passa pela cabeça que Marcelo não seja eleito, verdade?”.
Mas o ex-dirigente centrista quis também deixar pistas sobre o segundo mandato de Marcelo Rebelo de Sousa e usou, para o efeito, a teoria dos ciclos.
“Segundo a teoria dos ciclos políticos, é muito provável que no segundo mandato venha a ocorrer o declínio do ciclo da esquerda política em Portugal. E ele terá de estar atento”, advertiu Portas, dizendo, de outra forma, que o centro -direita ganhará em ter um chefe de Estado da sua família política.
Sobre o seu futuro político, Portas também foi questionado se, daqui a cinco anos, quererá ser candidato a Presidente da República. A resposta não foi fechada:“Não sei, não sei. Essa pergunta fica para daqui a uns anos.”. Ou seja, está em aberto, uma ideia que também ganhou forma entre dirigentes centristas nas últimas semanas. Se Portas não quiser Lisboa, talvez aposte nas presidenciais de 2026. O tempo o dirá.
Agora, PSD e CDS terão de procurar outro rosto para defrontar Fernando Medina. Dois nomes surgem nos bastidores dos dois partidos: Assunção Cristas, ex-líder do CDS, e Miguel Poiares Maduro, ex-ministro -adjunto do PSD, que, curiosamente, lançou o nome de Paulo Portas para a corrida autárquica de 2021. Os dois partidos só irão tratar deste dossiê a partir de janeiro, apesar de o líder do PSD, Rui Rio, e Francisco Rodrigues dos Santos, líder do CDS, já se terem reunido este mês.