Governo e os partidos de esquerda voltaram a sentar-se à mesa, mas esta terça-feira ficou marcada pela tensão entre o PS e os bloquistas. A uma semana do início do debate sobre o Orçamento do Estado para 2021, no Parlamento, os socialistas não gostaram de ouvir Catarina Martins colocar em cima da mesa a hipótese de o Governo apresentar “outro” Orçamento no caso de não haver acordo.
A sugestão foi feita pela líder do Bloco de Esquerda numa entrevista ao Observador da parte da manhã. A meio da tarde, Ana Catarina Mendes acusou os bloquistas de “irresponsabilidade”. A líder parlamentar do PS, em conferência de imprensa, lembrou que a proposta do Governo foi apresentada depois de “meses e meses de negociações” e consagra as propostas do Bloco de Esquerda. “Por isso mesmo parece-nos irrealista, impossível e causa-nos tremenda estranheza esta posição da coordenadora do Bloco de Esquerda”, acrescentou Ana Catarina Mendes, lembrando que o Governo está “disponível” para continuar as negociações e evitar uma crise política.
A socialista usou várias vezes a palavra “estranheza” para definir a posição do Bloco de Esquerda. “Estranheza porque estamos a poucas horas de retomar as negociações. Estranheza porque ao longo dos meses houve negociações para encontramos a melhor proposta. Estranheza porque este é um orçamento forte e com um cariz social muito grande”.
Os socialistas não escondem o desagrado com o comportamento do Bloco durante as negociações. Isabel Moreira escreveu, nas redes sociais, que “a postura do BE, que foi acrescentando condições para ter palco, é lamentável”.
A esta hora já Catarina Martins tinha criticado o primeiro-ministro por ter afirmado, em entrevista à TVI, que “o Orçamento só chumba se o PCP e o Bloco de Esquerda somarem os seus votos aos votos da direita. A questão fundamental, do ponto de vista político, que se coloca ao PCP e ao BE é sempre a seguinte: se se querem juntar à direita para chumbar este Orçamentou ou se não se querem juntar à direita”.
Uma posição que a coordenadora do Bloco de Esquerda classificou como inaceitável. “Mas agora, de cada vez que o PS não negoceia, acha que a esquerda se junta à direita. O que é isto? Isto é inaceitável em democracia”. Os bloquistas deverão anunciar a posição que vão assumir em relação à votação na generalidade no próximo domingo.
O Governo voltou a sentar-se à mesa com os partidos e em relação ao PAN tudo aponta para que exista uma aproximação. Inês Sousa Real, líder parlamentar do PAN, admitiu que existe “uma maior capacidade de compromisso por parte do Governo”. Após a reunião com o executivo, a deputada do PAN disse que “foi dado um passo para existir uma maior capacidade de compromisso para que o orçamento não tenha única e exclusivamente a marca do PS” e admitiu que “ainda está tudo em cima da mesa”.
João Oliveira, líder parlamentar do PCP, reafirmou que o sentido de voto dos comunistas será determinado “em função da resposta global que seja dada aos problemas do país”. João Oliveira garantiu que “o sentido de voto do PCP não será determinado em função de chantagem nem de pressão que outros querem impor, nomeadamente, o primeiro-ministro. O Governo tem a responsabilidade de traduzir no Orçamento opções claras e inequívocas relativamente à resposta que é preciso dar ao país”.
Ana Catarina Martins usou várias vezes a palavra “estranheza” para definir a posição do BE