No rescaldo das eleições regionais dos Açores, PS e PSD desdobram-se em contactos e conversações com um só objetivo: apresentar um solução governativa, depois de os socialistas terem perdido a maioria absoluta. Ninguém tem tarefa fácil e ainda não há fumo branco para nenhum dos lados. Mas, ontem, apurou o i, decorreram conversações ao mais alto nível, na ilha Terceira, entre PS e CDS, o partido de direita que funciona como força política de charneira no quadro da política regional açoriana. Nenhum dos partidos detalha o ponto de situação das conversas, mas há um dado adquirido: do lado do PS, Vasco Cordeiro, o presidente do governo regional, já “encetou conversações com os partidos com assento parlamentar” menos o PSD e o Chega, conforme assegura ao i fonte socialista. A meta é clara: criar uma maioria estável, um acordo robusto para que não se ande a negociar orçamento a orçamento. Da lista estão, portanto, excluídos o Chega e também o PSD de José Manuel Bolieiro, uma vez que os sociais-democratas estão a tentar criar uma alternativa de poder ao PS nos Açores, depois de terem obtido 21 mandatos contra os 25 dos socialistas. O número mágico para governar será o apoio de 29 parlamentares. E é por este número que os dois maiores partidos lutam nos próximos dias.
A narrativa do lado dos socialistas é a de que o PS só precisa de negociar com três forças políticas, enquanto “o PSD tem de garantir sempre cinco partidos. Não é uma geringonça, é um molho de brócolos”, confidencia ao i uma fonte do PS. Dito de outra forma: o PS precisa de mais quatro mandatos e tenta ir buscá-los ao CDS, ao PAN e ainda ao BE, sendo certo que no PS há quem lembre que “o CDS é um aliado de velha data aqui nos Açores”. E os números dessa aliança remontam a 1996, quando os centristas deram a mão a Carlos César, com mais votos, mas com o mesmo número de mandatos do PSD, partido que governava os Açores há 20 anos. Passaram 24 anos, e, de facto, nos últimos anos, o CDS/Açores absteve-se em alguns diplomas, mesmo em cenário de maioria absoluta do PS. Ora, a nível nacional, os centristas não querem que o CDS/Açores faça qualquer acordo com o PS.
Em campanha, Artur Lima, líder do CDS/Açores, chegou a dizer que o seu objetivo era retirar a maioria absoluta ao PS, mas estaria disponível para dialogar com os dois maiores partidos, em nome do interesse dos açorianos.
Do lado do PSD há esperança de se conseguir um acordo antes de o representante da República chamar os partidos para a formação de um governo regional. Mas já é sabido que tanto a Iniciativa Liberal como o Chega recusarão um acordo escrito. Há ainda caminho aberto para CDS e PPM. Mais, André Ventura, do Chega, tal como i avançou, impõe condições para poder viabilizar um governo do PSD nos Açores: “A participação [do PSD] no processo de revisão constitucional em curso; o compromisso de redução, nos quatro anos de legislatura, para metade dos beneficiários de RSI na Região Autónoma dos Açores; o compromisso de apresentação de um plano regional de luta contra a corrupção e clientelismo na Região dos Açores no prazo de um ano”. De realçar que o Chega não aceitará integrar um governo com os chamados partidos do sistema, mas está pronto a negociar. No PSD há a perceção que os dois eleitos do Chega, no fim, irão reclamar a sua autonomia regional, caso haja dificuldades negociais a nível nacional. E darão a mão aos sociais-democratas.
Para já, fonte do PSD local diz ao i que estão a decorrer conversações com os vários partidos e nenhum fechou a porta.
Por seu turno, o presidente honorário do PSD/Açores, Mota Amaral, escreveu ontem na imprensa regional um artigo de opinião em que lembra que “o derrube de um governo minoritário é sempre possível a todo o tempo”.