A confusão instalou-se no Chega por causa das negociações para viabilizar o Governo de direita nos Açores. Depois da demissão do vice-presidente, André Ventura desautorizou o líder do Chega/Açores que deu como certo o apoio à coligação entre PSD, CDS e PPM.
Carlos Furtado, presidente do Chega na região, anunciou, umas horas depois da apresentação pública da coligação, que o Chega estava disponível para dar “apoio parlamentar” ao Governo de direita.
O dirigente do Chega revelou mesmo, em declarações à RTP Açores, que “o entendimento que se tornou público tem o contributo do Chega, que durante todo esse processo foi ouvido”.
Durou pouco tempo a certeza de que o Governo de direita podia contar com o Chega.
André Ventura apressou-se a gravar um vídeo em que desmente o que tinha acabado de transmitir o líder do partido nos Açores. “A notícia é falsa”, disse. Garantiu que “não há nenhum acordo nos Açores” e que as negociações vão continuar.
Ventura não abdica de liderar as negociações, mesmo com a turbulência que este processo está a provocar no partido. A demissão de Orlando Lima, vice-presidente do Chega/Açores, com críticas à “postura centralista” do líder, foi o primeiro sinal da existência de divergências internas.
Um dos problemas é que as exigências do Chega não se limitam à governação dos Açores. André Ventura pretendia que o PSD participasse no projeto de revisão constitucional, uma das bandeiras do partido, mas os sociais-democratas já afastaram essa possibilidade.
Adão Silva, líder parlamentar, disse que o PSD não vai “apresentar qualquer projeto de revisão constitucional agora. Vai apresentar dentro de algum tempo e não apresentará agora neste impulso dado pelo Chega”.
Chega faz cedências André Ventura prepara-se para ceder nesta exigência, apurou o i, mas em troca vai propor um compromisso sobre a redução do número de deputados na Assembleia da República, a reforma do sistema eleitoral e a reforma da justiça.
Ventura voltou a garantir ontem, nas redes sociais, que “não há acordos ou qualquer viabilização se não houver compromisso nas questões essenciais”, mas deixou cair a exigência de o PSD participar no processo desencadeado pelo Chega para mudar a Constituição. “Diminuição do rendimento social de inserção, luta contra a corrupção e diminuição no número de deputados e cargos políticos” são as novas reivindicações.
O PSD anunciou, esta segunda-feira, um acordo para governar com os centristas e o PPM. Precisa, porém, do apoio parlamentar dos pequenos partidos. OChega, que elegeu dois deputados, é indispensável, e os sociais-democratas terão ainda de contar com o deputado dos liberais ou do PAN.
PS desafia Rui Rio
O PS voltou a desafiar Rui Rio para que esclareça se existe algum acordo com o Chega. Ana Catarina Mendes disse, em declarações à Lusa, estar “seriamente preocupada” com o possível início de um caminho “de normalização política do Chega por parte do PSD”.
A líder parlamentar dos socialistas defendeu que, “perante o desafio que a extrema-direita do Chega fez a Rui Rio, o presidente do PSD tem agora a obrigação de dizer ao país se tenciona sentar-se à mesa com esse partido para fazerem uma revisão constitucional ou uma futura aliança para Portugal”.