É a terceira onda? Vários peritos alertaram que seria esperado um aumento de casos em janeiro. Chamar-lhe terceira onda não é consensual – há quem opte por ressurgimento de casos, como aconteceu em Lisboa no verão. A dimensão era outra incógnita. “Só vamos poder saber como se começa a formar no fim da primeira semana de janeiro”, disse na semana passada ao Nascer do SOL Manuel Carmo Gomes. Os dados desta semana apontam para um aumento mais rápido do que indicavam as previsões, com o país a ultrapassar a barreira dos 10 mil casos num dia, e não devem ficar por aqui. O RT, que dá uma indicação da subida ou descida da transmissão e que já não estava a baixar no Natal, tendo estabilizado próximo de 1, já está acima de 1 em todas as regiões do país. Nos últimos sete dias, já contando com o máximo de 10 mil casos reportados ontem, o país contabilizou 40 555 novas infeções, o que compara com 22 793 novos casos nos sete dias anteriores. Na segunda vaga, em outubro, antes de as infeções começarem a estabilizar, a covid-19 chegou a ter uma taxa de duplicação estimada pelo INSA em 10,6 dias – uma tendência que parece agora surgir de novo, com os casos quase a duplicar no espaço de uma semana.
Que região está pior? A diretora-geral da Saúde assinalou já que o cenário é mais homogéneo. Tanto na primeira vaga como na segunda, a região Norte foi a mais afetada, chegando a superar uma incidência de mil casos por 100 mil habitantes a 14 dias, quando na região de Lisboa andava por metade. Nos últimos dias, a incidência no Norte foi inferior ao que se registou nessa altura, mas os casos estão de novo a crescer em todo o país. Nos últimos 14 dias (23 de dezembro a 6 de janeiro), Portugal registou uma incidência cumulativa de 615 casos por 100 mil habitantes, sendo de 690 no Norte, 678 na região Centro, 579 na região de Lisboa, 662 no Alentejo e 461 no Algarve. Com o agravamento nos últimos sete dias, na região Norte passou-se de uma média diária de 1372 novos casos para 2146, no Centro de 549 para 1051, na região de Lisboa de 1056 para 1986, na região do Alentejo de 125 para 317 e no Algarve de uma média de 95 para 194 novos casos por dia. Note-se que no período das festas e feriados houve menos testes e os dados desta semana, a primeira sem feriados e pontes, darão uma melhor perceção da evolução da epidemia.
Que idades têm as pessoas infetadas? Na semana passada, 43% dos novos infetados tinham menos de 50 anos. O padrão não tem variado muito mas, em dezembro, o abrandamento foi mais expressivo nas pessoas mais novas e a incidência continuou elevada nos idosos. Na última semana, os casos aumentaram em todas as faixas etárias, com as subidas mais expressivas nas faixas dos 20 e 30 anos (+85% face à semana anterior). Segue-se o aumento no grupo entre os 10 e os 19 (+76%) e na faixa dos 50 a 59 (+72%). Nas restantes faixas etárias, o aumento foi na casa dos 60%. O número de idosos diagnosticados atingiu na semana o valor máximo desde o início da epidemia, com 5252 infeções confirmadas em pessoas com 70 ou mais anos. Esta semana, ainda só com os dados de segunda e terça-feira (conhecidos ontem), foram já reportados 14 978 casos no país, dos quais 2133 idosos com 70 anos ou mais. Para se ter uma ideia do aumento da incidência nos mais velhos, que acompanhou o aumento das mortes associadas à covid-19, em setembro foram diagnosticados 2424 casos nesta faixa etária, quase tantos como, agora, em dois dias. Em novembro foram 19 500 casos em idosos e, em dezembro, 19 787. Dezembro foi o mês com mais mortes (2395).