O último debate do espaço "A Caminho das Presidenciais", da SIC Notícias, contou com a presença de Marisa Matias – candidata do Bloco de Esquerda – e Tiago Mayan Gonçalves – candidato da Iniciativa Liberal. Mais uma vez, a jornalista Clara de Sousa desempenhou o papel de moderadora e começou por questionar a eurodeputada acerca do confinamento geral que foi confirmado, este sábado, pela ministra da Presidência, Mariana Vieira da Silva. É de recordar que a dirigente explicou, depois de terminadas todas as audições em São Bento, que o confinamento será semelhante àquele que se viveu no início da pandemia de covid-19 e que poderá implicar o encerramento da restauração e do comércio não-alimentar. Porém, os detalhes, deixou-os para depois do Conselho de Ministros. Na ótica de Marisa Matias, "há sinais preocupantes e temos de fazer o que está ao nosso alcance", sendo que o estado de emergência contribui para a diminuição dos contágios, no entanto, é necessário que existam "condições para que as pessoas possam cumprir" as medidas de segurança, pois faltam "respostas sociais e apoios económicos" governamentais.
Neste sentido, Clara de Sousa questionou Tiago Mayan Gonçalves sobre as medidas restritivas que propôs, na medida em que é de salientar que, no passado dia 3 de janeiro, Mayan Gonçalves acusou Marcelo Rebelo de Sousa pela "destruição social" que acredita que o país enfrenta, sendo que adiantou que o atual Presidente passou "um cheque em branco" ao Governo, tendo igualmente acrescentado que o líder "andou a partilhar 'minis' e bolas de Berlim e a arranjar esquemas para ir para a praia. Este sábado, o candidato que se autodenomina como o primeiro "genuinamente liberal" não se afastou dos princípios que costuma divulgar e, mais uma vez, salientou que o país não suportará um novo confinamento generalizado. "Se o primeiro-ministro está a mudar de opinião é porque algo muito grave se passa", disse, adiantando que participará na reunião do Infarmed com o objetivo de ouvir as opiniões dos especialistas. "Só vou poder perceber isso a partir de terça-feira", admitiu, não deixando de apelar a uma "indemnização imediata às atividades obrigadas a fechar".
Na entrevista ao jornalista João Adelino Faria, em dezembro, Mayan Gonçalves responsabilizou a ministra da Saúde pelas opções tomadas no contexto pandémico, afirmando que a ideologia de Marta Temido "matou gente" em Portugal devido à "cegueira ideológica anti-privados". É de referir que o antigo presidente do Conselho de Jurisdição da Iniciativa Liberal culpabilizou Temido pelas então "dez mil mortes" provocadas pelo novo coronavírus, defendendo que "uma ministra que recusa utilizar toda a capacidade instalada de saúde no país para responder à pandemia não serve". Deste modo, Matias lembrou as declarações do adversário e assumiu: "Não gosto que se façam das mortes culpas políticas". De seguida, realçou que discorda da ideia de que "conseguimos controlar esta situação sem medidas", salientando igualmente que "não se pode votar contra o estado de emergência" como o opositor tem feito. "Defendo o SNS, defendo que numa condição de pandemia se devem mobilizar os privados a preço de custo. Vejo Tiago Mayan a pedir que se mobilizem os privados, que não haja estado de emergência, que a atividade econímica continue a existir. Agora, se é para dizer ao Estado que tem de indemnizar, já não percebo porque parece uma perspetiva socialista", avançou.
Mas o político que esteve envolvido, desde o início, no movimento independente "Porto, o nosso Partido" não recuou e recordou que foi o Bloco de Esquerda que recusou o auxílio dos privados na Saúde. "Metade do excesso de mortes que está a correr em Portugal não é por causa da covid-19, esta situação é indesmentível e os políticos têm de ser responsabilizados", declarou, adicionando que "Portugal tem um valor distinto e muito superior" de óbitos pelo novo coronavírus quando comparado com outras nações europeias. "Há responsabilidades políticas que têm de ser assacadas", sublinhou, lançando farpas à oposição ao realçar que a colaboração com os privados devia ter sido preparada em março a "preços menores", sendo que, atualmente, na sua ótica, "corremos atrás do prejuízo" na medida em que "é impossível sabermos quanto vai custar neste momento".
À semelhança daquilo que ocorreu no debate com Rebelo de Sousa, em que o mesmo criticou "o sonho e a utopia" do estado liberal, afirmando que "os países que eram contra o estado de emergência acabaram todos a adotá-lo", também a autora de obras relacionadas com o ambiente e a saúde pública demarcou-se do ponto de vista de Mayan Gonçalves. Matias frisou que "há uma diferença de fundo" entre ambos, pois "Tiago Mayan acha que estaríamos melhor com uma resposta de mercado" e não está de acordo com tal ideologia, explicitando que essa resposta é espelhada através dos "privados que queriam 13 mil euros por doente na primeira fase de covid-19 e de hospitais que fecharam", referindo que o setor público pode dar respostas eficazes "se houver investimento".
Consequentemente, Clara de Sousa perguntou à investigadora do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra se os privados podem constituir um complemento e a mesma avançou que "há uma contradição entre o que Mayan disse e o que a Iniciativa Liberal diz", garantindo que "Mayan diz que quer um sistema universal, mas não é verdade". Assim, aludiu à ADSE (plano de proteção para a saúde destinado aos trabalhadores do Estado), declarando que "estender este sistema a toda a gente era estender contribuições, o que para um liberal seria um colossal aumento de impostos" e, portanto, Mayan Gonçalves pretende "pôr a ADSE a financiar o Serviço Nacional de Saúde [SNS]". É de referir que, há dois dias, no debate com o candidato João Ferreira, do PCP, Mayan Gonçalves destacou: “Isto é uma prova do falhanço do Governo na gestão desta pandemia (…) As famílias não aguentam, os jovens não aguentam, os pequenos e médios empresários não aguentam. Temos de fazer o que ainda não fizemos: usar toda a capacidade instalada do país, algo que não está a ser feito por preconceito ideológico do Governo”. Este sábado, Marisa Matias contrariou as ideias do candidato liberal, lembrando-o de que o SNS português é "Muito mais barato" do que aquele que existe noutros países da Europa que Mayan Gonçalves utiliza como exemplo.
Em novembro, entrevistado por Miguel Sousa Tavares, na TVI, Mayan Gonçalves demonstrou que uma das suas propostas é a taxa única, um imposto sobre o rendimento que não é progressivo, contrariamente ao atual IRS, realçando que a medida abrange um limiar de exceção e, por isso, "ninguém vai pagar mais (…) praticamente toda a gente vai pagar menos". No debate com a candidata do Bloco de Esquerda, justificou que Portugal é um "inferno fiscal" tanto em taxas como em burocracias, o que leva a que "não cresçamos há décadas e que estejamos a caminho de sermos um dos países mais pobres da Europa", salientando que "grande parte do problema disto são as políticas fiscais". Assim, acolhe um período de transição, mas também cortes onde o "Estado está a mais", recordando que "o esforço fiscal dos portugueses tem sido aumentado continuamente ao longo das últimas décadas, as pessoas não vivem para pagar impostos, vivem para viver a sua vida e dar a sua comparticipação”.
A 28 de dezembro, o Grupo Parlamentar do PSD entregou a lista de documentos, entidades e personalidades que almeja ouvir na comissão de inquérito ao Novo Banco, tendo solicitado audições com 76 pessoas e documentos a 13 entidades, como o Governo ou o Banco Central Europeu. O objetivo dos social-democratas é descobrir a "verdade material sobre a gestão do Novo Banco, desde o momento da sua Resolução até aos dias de hoje". Consequentemente, com o assunto em cima da mesa, Matias lembrou que a instituição bancária se converteu "num poço sem fundo". De seguida, a eurodeputada abordou o plano de reestruturação da TAP, criticando Mayan Gonçalves e dizendo que este "gosta de falências e que não se importa que milhares de pessoas vão para o desemprego", acrescentando igualmente que "é uma companhia de bandeira, a nossa maior exportadora e precisamos desse tipo de empresas", não defendendo que a mesma "seja entregue à Lufthansa". Ainda na temática do sistema financeiro, e questionado sobre as soluções que se devem aplicar aos bancos que foram resgatados, Mayan Gonçalves explicou que a moderadora está a "criar uma alternativa sobre o que é que podia ter acontecido", rematando que "entre 2008 e agora, enterrámos 21 mil milhões de euros na banca", asseverando que "significaria muito mais ajudar as empresas do que deixar cair o BES". Concluindo, o candidato liberal admitiu que "estamos num país "em que não há too big to fail", recorrendo à teoria através da qual se justifica que certas empresas, particularmente, instituições financeiras, são tão grandes e interconectadas que a sua falência seria desastrosa para o Governo e, deste modo, devem ser apoiadas pelos governos quando enfrentam a mesma. Sobre a TAP, Mayan Gonçalves explicou que, a seu ver, um processo de insolvência não significa o fim, mas sim um "processo de reabilitação se a empresa for viável". Porém, a sua afirmação seguinte pareceu não se enquadrar nesta teoria. "Eu é que não vou ser acionista da TAP", disse.
Nos minutos finais do debate, Mayan Gonçalves foi questionado acerca da confiança que tem naquele que tem vindo a ser encarado como um novo Plano Marshall da União Europeia, ou seja, a "bazuca" financeira, o pacote de recuperação de 1,8 biliões de euros – cabendo a Portugal mais de 45 mil milhões de euros -, um pacote que conjuga o orçamento plurianual para 2021-2027 e o Fundo de Recuperação. O liberal afirmou que se o plano for "Costa e Silva", com a aplicação da maquia em atividades como grandes obras públicas, não confiará, contudo, defende que esta seja aplicada em atividades como o alívio fiscal aos portugueses.