O Paquistão libertou Ahmed Omar Saeed Sheikh, de 47 anos, que fora condenado por orquestrar o sequestro e decapitação do jornalista Daniel Pearl, do Wall Street Journal, em 2002. Um tribunal paquistanês revogara a condenação à morte do jiadista em abril do ano passado, após absolver três outros homens condenados a prisão perpétua pelo crime, para desespero da família Pearl, que qualificou a decisão como “um completo travesti de justiça”, em declarações à Reuters. A justiça paquistanesa considerou que Sheikh já cumprira sete anos de prisão pelo rapto do jornalista, mas que não havia provas suficientes de que orquestrara o homicídio.
Longe vão os tempos de 2002, quando o cadáver mutilado de Pearl foi encontrado numa campa rasa em Carachi. Na altura, o mundo ainda processava a tragédia do 11 de setembro, a administração de George W. Bush avançava com a fase inicial da sua Guerra ao Terror, e a decapitação de reféns, perante as câmaras, ainda não se tornara prática corrente de jiadistas. O macabro homicídio de Pearl, cuja gravação foi enviada ao consulado americano, foi portento do que seria o uso cinematográfico da violência pelo Estado Islâmico, mais de uma década depois.
Quando foi sequestrado, Pearl, chefe da delegação do Wall Street Journal no sul da Ásia, seguia o rasto de Richard Reid, o famoso “bombista do sapato”, que tentara detonar explosivos escondidos nos seus ténis num voo da American Airlines. Mas Pearl bateu à porta errada: foi atraído para um encontro com Sheikh, um britânico nascido no Paquistão, condenado pelo sequestro de turistas ocidentais na Índia, em 1994, e solto quando jiadistas sequestraram um avião indiano, exigindo a sua libertação.
As dúvidas sobre a condenação de Sheikh enquanto cabecilha do crime já vêm pelo menos de 2007, quando Khalid Sheikh Mohammed, alegado arquiteto do 11 de setembro, confessou perante um tribunal militar americano, na prisão de Guantanamo, que fora ele que matara Pearl. Mohammed nunca foi condenado, dado a confissão ter sido extraída sob tortura, mas foi o suficiente para causar confusão – no vídeo do crime, não é visível a cara do assassino.
Seja qual for o papel que Sheikh tenham tido no homícidio de Pearl, o que não falta são avisos do risco que representa à solta. O jiadista “era visto como uma pessoa com ligações ao topo dos serviços secretos paquistaneses, bem como à Al-Qaeda, e teve um papel na fundação do grupo Jaish-e-Mohammad, responsável por ataques na Caxemira indiana durante os anos 1990”, lembrou o jornalista Ilias Khan, à BBC, o ano passado.
“A libertação destes assassinos põe em risco jornalistas por todo o mundo e o povo do Paquistão”, concordou a família do jornalista, em comunicado. “Nenhuma injustiça vai derrotar a nossa convicção em lutar por justiça para Daniel Pearl”.
Entretanto, as autoridades paquistanesas adicionaram os quatro homens libertados à sua lista de vigilância, impedindo-os de sair do país.