O processo de escolha dos candidatos do PSD às 308 câmaras do país e a outras tantas assembleias municipais, bem como às 3092 juntas de freguesia está a gerar nova guerra surda no PSD de Rui Rio. Como se já não bastasse o processo ter arrancado com a ‘trapalhada’ do anúncio da recandidatura de uma série de presidentes de câmara que se apressaram a agradecer a afirmação de confiança da direção nacional mas desmentiram terem tomado uma decisão, sucedem-se as querelas internas e os problemas que sobram para Rui Rio e sua direção nacional resolverem.
Os problemas começam logo na capital, onde, apesar da unanimidade que rodeou a escolha de Carlos Moedas, logo as hostilidades se abriram com a ‘generosidade’ que o PSD_revelou para ter o apoio do CDS e agora, chegada a fase da elaboração das listas e escolhas dos candidatos às juntas, as coisas mais azederam e as tropas pró e anti-Rio se entricheiraram. E a guerra promete.
Carlos Moedas anunciou que o acordo com o CDS foi concluído com «enorme sucesso», mas as negociações foram complexas e o desfecho está longe de conciliar as hostes desavindas.
Contas feitas, o CDS pode indicar três nomes entre os primeiros sete da lista à Câmara, o candidato à presidência da Assembleia Municipal e os candidatos à presidência de nove juntas de freguesia. O acordo foi recebido com surpresa, principalmente por o CDS ter conseguido liderar a lista em tantas freguesias.
A explicação estará na junta das freguesia das Avenidas Novas que era disputada pelos dois partidos. O CDS começou por exigir as cinco freguesias em que conseguiu melhores resultados nas últimas eleições, mas uma delas era justamente as Avenidas Novas. O_PSD não quis ceder e em troca deu mais lugares ao parceiro de coligação. Luís Newton, presidente do PSD/Lisboa, terá sido decisivo para este desfecho, com o objetivo de que Daniel Gonçalves, o seu vice-presidente na concelhia e antigo presidente da junta, voltasse a candidatar-se.
A família Gonçalves (Daniel e Ricardo Gonçalves) foi afastada por Passos Coelho nas últimas eleições autárquicas devido aos problemas com a justiça. E o seu regresso é mal visto por alguns setores do PSD, que olham para a entrada nas listas como um fator que fragiliza um dos trunfos de Carlos Moedas: a credibilidade.
O CDS acabou por ficar com juntas de freguesia que eram importantes para o PSD, como a da Misericórdia, Parque das Nações e Arroios. Moedas até já tinha candidatos para liderar as listas.
Ainda não são conhecidos os nomes dos candidatos, mas o ex-comissário europeu não abdica de ter independentes nas listas. O primeiro cartaz foi lançado esta quarta-feira, juntamente com a apresentação de Ricardo Mexia, epidemiologista e médico de Saúde Pública, como director de campanha.
Como se já não lhe bastassem os problemas com todo este processo – e a candidatura de António Oliveira a Gaia obrigou-o a explicar-se, metendo os pés pelas mãos com a tentativa de desligar a política do futebol, esquecendo-se que o seu candidato é o principal acionista individual do FC_Porto, que tem o centro de Estágio em Gaia –, eis que lhe cai na secretária a candidatura da advogada Suzana Garcia à Câmara da Amadora, já aprovada pelas estruturas locais (concelhia e distrital).
Uma candidata polémica que apoia propostas do Chega
O perfil da candidata desagrada a vários quadrantes sociais-democratas, nomeadamente por ser conotada com posições próximas do Chega. A advogada, que se tornou conhecida através dos comentários sobre justiça no programa Você na TV, da TVI, é defensora de propostas como a castração química para pedófilos. Num desses programas, a advogada criticou aqueles que classificam a castração química como um retrocesso civilizacional. «O deputado tem de perceber, de uma vez por todas, que está ao serviço da Nação e se a Nação quer discutir este assunto é para discuti-lo. Não é para mitigá-lo». Susana Garcia também deu nas vistas nos debates sobre racismo e chegou a classificar o dirigente do SOS Racismo Mamadou Ba como «um parasita da sociedade».
Ao Nascer do SOL, José Silvano, secretário-geral do PSD, diz que ainda nada está decidido em relação a esta candidatura. «Não há nada decidido ainda. Na grande maioria dos casos respeitamos as decisões das estruturas locais e esta como teve mediatização, a nacional tem de ponderar, escolher e assumir as consequências».
Oeiras é outra das decisões delicadas que estão nas mãos da direção nacional do partido. A dúvida é se o PSD está disposto a apoiar o movimento independente de Isaltino Morais, como pretende o PSD/Oeiras, ou se avança com um candidato próprio.
Armando Soares, presidente do PSD/Oeiras, argumenta que «o melhor para todos é esta solução» e defende que o PSD têm de voltar a aproximar-se do eleitorado. «Os partidos políticos têm de estar ao lado das pessoas e têm de saber ler as atitudes das pessoas. Se o PSD não conseguiu por ele cativar todas essas pessoas, é preciso percebermos afinal quem está errado», diz ao Nascer do SOL.
O candidato ex-PS que engoliu a folha de papel
Não menos polémica é a candidatura de Luís Carito à Câmara de Portimão pelo PSD. Carito fez toda a carreira política ligado ao Partido Socialista e chegou a ser deputado na Assembleia da República nos tempos de António Guterres e José Sócrates.
Foi vice-presidente da autarquia de Portimão e líder da concelhia, mas perdeu influência quando se viu envolvido no processo judicial relacionado com a construçãode uma espécie de Bollywood. Foi absolvido – o MP não chegou sequer a acusá-lo –, mas ficou para a história o episódio o relato de ter engolido uma folha de papel durante as buscas da Polícia Judiciária ao seu gabinete.
PSD espera bons resultados
Apesar de tudo, o PSD é o partido que está mais avançado na corrida autárquica. A direção nacional já aprovou 202 candidatos para as eleições previstas para setembro ou outubro.
As escolhas já estão feitas para algumas das câmaras mais importantes. Carlos Moedas, em Lisboa, Ricardo Batista Leite, em Sintra, Vladimiro Feliz, no Porto, ou José Manuel Silva, em Coimbra, foram alguns dos nomes já anunciados por Rui Rio. Falta aprovar os restantes 106 nomes: 76 do continente e 30 das regiões autónomas. «Estamos a cumprir o primeiro objetivo, temos bons candidatos para o país todo e temos esperança em conseguir resultado autárquic», disse ao Nascer do SOL José Silvano.