Eduardo Pinheiro, secretário de Estado da Mobilidade e vereador da Câmara de Matosinhos entre 2013 e 2017, foi anunciado como candidato pelo PS à Câmara do Porto na terça-feira de manhã, segundo notícia do jornal Público entretanto confirmada pelo PS. Mas em menos de 40h a candidatura de Eduardo Pinheiro foi retirada, na sequência das reações negativas das estruturas locais, e nacionais, do partido.
Em comunicado, Eduardo Pinheiro explicou ter recebido “com orgulho” o convite para assumir uma candidatura à Câmara do Porto, todavia, “após reflexão cuidada”, decidiu declinar o convite que lhe fora endereçado. Não obstante, o candidato por pouco mais de um dia demonstra “total disponibilidade para apoiar o partido em torno de uma candidatura alternativa ao actual poder autárquico”.
A principal razão que levou a esta decisão foram as críticas internas que a candidatura de Pinheiro gerou nas estruturas locais do PS, que antecipavam um “desastre total” dos resultados nas eleições autárquicas. Supostamente acordada entre António Costa e Manuel Pizarro, a escolha de Eduardo Pinheiro para candidato do PS ao Porto integrava um plano de acordo pós-eleitoral com Rui Moreira. Mas Eduardo Pinheiro é considerado uma figura de segunda linha, tanto no seio socialista como no seio portuense. E, por isso, a decisão de levá-lo a sufrágio nas autárquicas levantou fortes críticas.
O i recorda que a corrida à Câmara do Porto contava desde o início com três nomes: Manuel Pizarro, José Luis Carneiro e Tiago Barbosa Ribeiro. O primeiro, eurodeputado e presidente da distrital socialista portuense, havia já concorrido – e sido derrotado – em 2013 e 2017. O segundo, presidente da Câmara de Baião de 2005 a 2015, deputado e secretário-geral adjunto do PS. O terceiro, presidente da concelhia portuense do PS, deputado e destacado membro da ala interna do PS liderada por Pedro Nuno Santos.
Surpreendentemente, nenhum dos três acabou por ser escolhido – mas sim Eduardo Pinheiro, um quase desconhecido que parecia ter surgido como o desenlace do nó gordio em que os socialistas estavam enredados na invicta. Foi mesmo apresentado como uma solução de compromisso, que não hostilizaria as estruturais locais socialistas. Contudo, a decisão de Costa revelou-se um verdadeiro tiro no pé, incompreendida por todos.
Questionado sobre se Eduardo Pinheiro servia como uma espécie de “tampão” a esta guerra interna pela candidatura ao Porto, Tiago Mayan, em declarações ao i e minutos antes de se noticiar a retirada desta candidatura, admitia essa possibilidade. O ex-candidato a Presidente da República, membro da Iniciativa Liberal e membro do Movimento Rui Moreira, explicava que a decisão podia “ter a ver com acordos e compromissos atingidos no PS”, nomeadamente o “apaziguamento de guerras internas”. Admitia tratar-se de uma “solução de Pirro”, com o objetivo de “esvaziar a pressão” dentro da estrutura socialista no Porto. Não obstante os comentários de Mayan, a verdade é que a “solução de Pirro” não foi capaz de manter as estruturas apaziguadas, como o final do dia viria a revelar.
Em comentários sobre Pinheiro, Mayan afirmava ainda “enfrentar o que muitos cidadãos enfrentam”, ou seja, “um desconhecimento total do candidato”. Afirmava não lhe “conhecer qualquer tipo de ligação à cidade” ou “ideias” sobre a mesma. “Tirando a questão de Matosinhos” nunca o havia visto ou ouvido, rematava.
“PS e Rui Moreira estão feitos”, diz Rio Ontem, através do Twitter, Rui Rio, antigo Presidente da Câmara do Porto e Presidente do PSD, foi bastante assertivo nas críticas que fez à escolha do PS: “O PS e Rui Moreira estão feitos, mas não têm a hombridade de o assumir frontalmente”. Remata ainda que a “candidatura principal já pouco tem de independente e a acessória apenas aspira a tentar evitar que o PSD ganhe as eleições”.
Recorda ainda o i que Rio tem pressionado Moreira para que este não apresente uma recandidatura devido aos processos judiciais em que está envolvido.
Quem fica? Considerando que Eduardo Pinheiro caíra e que Rui Moreira ainda não formalizou a sua recandidatura – mas que deve acontecer a qualquer momento –, mantêm-se na corrida pela autarquia da invicta Ilda Figueiredo pela CDU, Vladimiro Feliz pelo PSD e Sérgio Aires pelo BE.
Fontes socialistas garantem ao i que, depois deste tiro de pólvora seca, António Costa deverá apresentar um nome o mais rapidamente possível.