O Banco de Portugal (BdP) reviu em alta as perspetivas da economia portuguesa e acredita que deverá crescer 4,8% em 2021. Este número fica acima das previsões anteriores, altura em que apontava para 5,6% em 2022 e de 2,4% em 2023, de acordo com o Boletim Económico divulgado esta quarta-feira.
Feitas as contas, com as novas projeções, o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) é revisto em alta em 0,9 pontos percentuais em 2021 e em 0,4 pontos percentuais em 2022, face às anteriores previsões de março, com a entidade liderada por Mário Centeno a estimar que a economia recupere o nível de 2019 na primeira metade de 2022. Ainda assim, as previsões do Governo apontam para uma expansão do PIB de 4% em 2021, seguido de crescimentos de 4,9% em 2022 e de 2,8% em 2023.
E justifica esta alteração ao defender “perspetivas mais positivas para a atividade no curto prazo, essencialmente relacionadas com a melhoria da confiança dos agentes económicos, que se traduz numa reação mais rápida do que esperado da atividade económica ao levantamento das restrições a partir de março de 2021”, acrescentando que o perfil do crescimento económico reflete uma reação mais rápida do que esperado ao levantamento das restrições a partir de março. Esta melhoria é extensível à procura externa e ao investimento.
Segundo o documento, a recuperação da economia é “impulsionada no segundo trimestre de 2021 pela procura interna, em particular pelo consumo privado”.
De acordo com as contas do regulador, o consumo privado deverá crescer 3,3% em 2021 e deverá recuperar mais marcadamente em 2022 (4,9%), ano em que retoma os níveis pré-pandémicos. “O rendimento disponível real cresce 1,3% em média em 2021-23, em resultado da recuperação do emprego e dos salários”.
Por seu lado, o investimento apresenta um crescimento médio de 7% em 2021-23. A componente empresarial deverá crescer 6,4% em média anual, suportada pelas condições financeiras favoráveis, pelos fundos europeus, pela recuperação da procura e pela gradual redução da incerteza. O investimento público apresenta um crescimento mais elevado, cerca de 20% em média, refletindo a implementação do Plano de Recuperação e Resiliência, que representa cerca de 30% do investimento público previsto em 2022-23.
No entanto, no segundo semestre de 2021 e em 2022, “o contributo das exportações é mais significativo”, refletindo a recuperação na componente dos serviços. Mas ainda assim deixa um alerta: “A recuperação das exportações de serviços será mais lenta, ficando mesmo abaixo do nível de 2019 no final do horizonte de projeção”, revela o documento.
Já em 2023, a procura interna e as exportações apresentam contributos semelhantes para o crescimento da atividade, acentua o BdP que espera que o consumo privado retome em 2022 os níveis registados antes da pandemia.
Ancora assente no emprego Para Mário Centeno a recuperação do indicador de confiança assenta, em grande parte, no mercado de trabalho que, no seu entender, “tem sido a ancora visível da recuperação económica”.
A instituição prevê que a taxa de desemprego atinja 7,2% em 2021, recuando para 7,1% em 2022 e 6,8% em 2023, e espera que o emprego cresça 1,3% este ano.
“O mercado de trabalho tem sido um sinal muito visível da resiliência da economia portuguesa neste muito difícil contexto que estamos a viver. E tem sido a ancora visível da recuperação económica”, acrescentou Mário Centeno, na conferência de imprensa.
No Boletim Económico de junho, o Banco de Portugal assinala que os 7,2% de taxa de desemprego que projeta para este ano traduz um aumento face ao valor observado em 2020 (7,0%), referindo, contudo, tratar-se de um “valor bastante inferior ao observado durante as duas recessões anteriores”. Mas deixa um alerta: as “alterações” à lei laboral “não beneficiarão a recuperação”, defendendo que o foco deve estar na criação de emprego e na “transição segura” entre postos de trabalho.
E vai mais longe: “Em maio de 2021, o indicador de confiança dos consumidores, naquilo que são as suas expectativas face à situação económica nos próximos 12 meses, revela que recuperamos em 14 meses o nível que o indicador tinha em fevereiro de 2020. Ou seja, apenas 14 meses para recuperar níveis de confiança face à atividade económica futura que existiam antes da crise eclodir”, disse o governador do BdP.
O ex-ministro das Finanças disse ainda que, por comparação com a crise anterior, o indicador de confiança demorou menos tempo a recuperar nesta crise gerada pela pandemia do novo coronavírus. “Na crise pandémica, esta recuperação é muitíssimo mais rápida do que aquilo que aconteceu na crise das dívidas soberanas. Então, levámos 61 meses até em outubro de 2014 atingir níveis de confiança neste indicador que registávamos em setembro de 2009”.
Supervisão mais exigente Mário Centeno defendeu também que a “credibilidade e a estabilidade financeira” é uma “condição necessária para que a recuperação aconteça” e que para tal é preciso “cumprir compromissos”.
No entanto, reconheceu que a supervisão tem de ser “mais exigente” e que os riscos têm de ser reduzidos do balanço dos bancos, nomeadamente através da redução do crédito malparado, sendo que acredita haver instituições capitalizadas e com liquidez e rentabilidades suficientes para fazer esse processo. Além disso, Centeno notou a importância da “previsibilidade no enquadramento da atividade financeira” – e não “alterações constantes”, vincou – e da “eficiência crescente do mercado financeiro”.
“Europa tem um desafio pela frente” O governador do Banco de Portugal defendeu ainda que o crescimento económico e o regresso à trajetória de crescimento existente na Europa antes da pandemia deve ser “centrado” no incremento do papel do euro a nível internacional. “Os cidadãos esperam que voltemos a ter a trajetória de crescimento que tínhamos antes da pandemia”, disse no II Fórum Económico Internacional do Jornal espanhol Expansión realizado em Madrid, sublinhando que, segundo ele, o crescimento económico nos próximos anos vai ser centrado no euro.
O ex-ministro e antigo presidente do Eurogrupo recordou que o euro é “o símbolo mais tangível da Europa” e que atualmente a moeda única tem a sua maior taxa de apoio por parte dos europeus, segundo um inquérito feito pelo Eurobarómetro. E classificou 2020 como tendo sido “um ano extraordinário em termos de política e política económica”, porque, entre outras coisas, a União Europeia decidiu emitir dívida conjuntamente, o que poderá levar à criação da primeira verdadeira capacidade orçamental.