1.Portugal está em grande! No Euro da bola deu 3-0 à Hungria e no Euro das Finanças vai receber a muito curto prazo uns Eur 2,12 MM como primeira tranche de um ‘totoloto’ de Eur 16,6 MM designado popularmente como a ‘bazuca’. Não admira que Marcelo tenha sorrido em Budapeste depois do ‘bate-papo’ com Costa sobre retrocessos e confinamentos e Costa tenha recebido von der Leyen de sorriso aberto e enlevado.
Mas se no futebol falta agora a Alemanha e a França, qual deles o ‘osso mais duro de roer’, no ‘totoloto’ faltará demonstrar à Europa que iremos cumprir as 341 metas e objetivos a que nos comprometemos e fazer as 32 reformas e 83 investimentos até agosto de 2026 e vertidos em mais de 200 páginas do PRR.
Dirão os otimistas que iremos ganhar em todos os campos! Na bola, com CR e mais 10. Nas Finanças, com Costa e com Leão, mais Centeno. Os mais pessimistas, dizem que no futebol ‘já fomos’ e que no Euro financeiro, para fazer essas reformas, será preciso mais um milagre de Costa, dado que muitas delas irão depender de aprovações da Assembleia da República.
Na bola, não tenho dúvidas que seremos CR e mais 10, mas qualquer das outras seleções tem categoria para nos ganhar, como a vice-versa é igualmente verdadeira. Assim, acho que tudo é possível, desde sermos apurados diretamente como desejo e espero ou até repescados, graças à ampla vitória contra a Hungria, tendo lugar entre os melhores quatro dos terceiros lugares.
Mas, no Euro da Finanças, a coisa fia mais fino, porque se há partido avesso a reformas é o PS (como muito bem salientou recentemente Passos Coelho) e, se precisar dos seus parceiros da ‘geringonça’ II para obter as necessárias aprovações, bem podemos ‘esperar sentados’ e lá terá Costa de apelar a Rio, ‘em nome de Portugal’ para conseguir o apoio mínimo indispensável para receber os milhões.
Sinceramente, se com a bola tenho esperanças porque realmente temos uma das melhores seleções de sempre, com estes políticos que nos governam, sou pouco crente e tenho razões de sobra. Os exemplos de reverter as medidas do tempo da troika sucedem-se e, assim de repente, para lá da reposição de salários e pensões (uma medida socialmente compreensível), relembro a reabertura de tribunais pela província que tinham sido encerrados por escassa utilização, a redução de horários na Função Pública para 35 horas e a recente aprovação na Assembleia da República que possibilita a reintrodução de freguesias que foram extintas.
Realmente, será que podemos acreditar que o PS irá ser o motor das reformas, sobretudo das que impliquem redução de custos estruturais? A resposta para mim é simples: só se existir muita capacidade de ‘persuasão’ por parte da Europa para que esses milhões realmente cheguem a Portugal.
2.Centeno, agora Governador do Banco de Portugal, deu esta semana uma conferência com diversos alertas e que a imprensa apressadamente classificou de ‘recados ao Governo’. Tenho uma leitura completamente distinta e entendo que finalmente ‘vestiu o fato’ de governador, abordando de forma judiciosa e pertinente todos os diversos temas que entendeu aflorar.
Salientando como objetivo principal da sua intervenção a «preocupação em garantir a solidez da recuperação» mencionou certeiramente, entre outras ideias, que «as alterações da lei laboral não beneficiarão a recuperação», claramente em confronto com as exigências da esquerda desde 2016. Sobre as moratórias, alertou com acuidade para «os riscos de aumentar a dívida ou criar pressão na despesa no futuro».
Sobre a gestão do SNS que teoricamente até estaria fora do âmbito das suas funções, aflorou um dos grandes problemas que muitos sustentam ao requerer uma maior eficiência na gestão (de alguma forma complementando as críticas muito recentes de Passos Coelho sobre a ineficácia do SNS, como resultado das políticas da esquerda). Finalmente, enquadrando a importância do investimento público no PRR, soube reconhecer a sua escassez nos últimos anos, inclusive com valores inferiores aos tempos da troika.
Em suma, será que Centeno passou a ser de direita? Ou apenas disse o que é evidente sobre estas matérias, demonstrando que, afinal, com exceção das franjas esquerdistas, até todos estamos de acordo quando os (bons) técnicos despem o fato de político?
P.S. 1 – Cabrita disse há dias na Assembleia da República que utilizar o Estabelecimento Prisional de Caxias como Centro de Alojamento de imigrantes retidos pelo SEF era uma possibilidade, entre outras. Soube-se agora que, em 1 de fevereiro, foi assinado um protocolo nesse sentido. Só pergunto: não sabia?
P.S. 2 – Segundo previsões do Banco de Portugal, o PIB em 2021 irá crescer 4,8% (e 5,6% em 2022). Assim os deuses ouçam estes economistas e esperemos que não se venham a repercutir significativamente na Economia os efeitos nefastos deste novo acréscimo da pandemia, aparentemente resultante da variante ‘delta’ e que os ingleses tão bem souberam antecipar (enquanto os nossos responsáveis só se preocuparam em desvalorizar).