Rui Rio admite “cair” caso tenha piores resultados autárquicos do que os obtidos por Pedro Passos Coelho em 2017. Em Vila Real, após ter apresentado os candidatos autárquicos às concelhias daquele distrito, o líder dos social-democratas admitiu que esse cenário significaria um “encontrão para cair” e “não para ir em frente”, sendo isto “lógico”. Lógico, pois, há quatro anos “correu mal” – afirmou, criticando os resultados do seu antecessor.
Vincou ainda assumir responsabilidades sobre um eventual mau resultado logo após as eleições: “há um dia, que é uma segunda-feira, que vamos ter os resultados todos das autárquicas e aí eu assumo a responsabilidade por inteiro“.
O líder do PSD explica que estas autárquicas assumem importância “extraordinária” após os fracos resultados de 2013 e 2017, em que o partido desempossou “muitos eleitos”: “Com a descida que tivemos à escala nacional, estas eleições para o PSD, em 2021, assumem uma importância extraordinária”, declarou à Lusa.
Atacou também o Governo – que “a cada dia que passa está mais desgastado” – e defendeu que o país tem de mudar de rumo: “Eu acredito que os resultados que vamos ter nas eleições autárquicas (…) vão ser o início para que isto aconteça, ou seja, para que nós possamos mudar de rumo em Portugal depois, a seguir, nas eleições legislativas”.
O antigo autarca do Porto defendeu ainda que o “número de autarcas eleitos” é que deve ser o barómetro determinante da “grandeza de um partido”, ao invés “do número de deputados que tem na Assembleia da República”.
Uma posição que – somada à de querer comparar resultados a 2017 – revela que “Rui Rio continua a ter forma mentis de um autarca”, analisa ao i o politólogo João Pereira Coutinho.
Segundo Pereira Coutinho, o facto de Rio “só conceber demitir-se se tiver um resultado autárquico inferior ao de Passos em 2017” demonstra que este “pensa como um presidente de câmara”. Se “tivesse uma vocação de estadista”, a comparação que lhe interessaria seria entre os resultados de 2019 e 2015 – “ano em que Passos Coelho venceu, ao contrário de Rio”. O politólogo afia a língua e acusa de “imensa cobardia política” as declarações de Rio, explicando ser “evidente” este saber da facilidade que será ter um resultado autárquico superior ao de Passos em 2017. Para o professor e colunista, trata-se de uma “tentativa de preparar a narrativa de sobrevivência política” pelo facto de Rui Rio “não ter mais nada a que se agarrar”.
Pereira Coutinho recorre a uma analogia futebolística para melhor se explicar: “no fundo, é o mesmo que a seleção nacional, que perdeu 4-2 com a Alemanha, no próximo jogo só perder por 4-3 e considerar isso uma vitória. Continua a perder, mas como já perdeu por menos festeja a derrota como se fosse uma vitória”. Classifica tal de “malabarismo” e coloca o ónus nos militantes sociais-democratas: “que podem ou não engolir isto”.
Por fim, afirma que a estratégia de Rio nunca foi “vencer eleições ou ser alternativa ao PS”. Ao invés, quis ser seu “parceiro” – o que, por corporizar um vácuo a uma eventual “alternativa” aos socialistas, torna evidente que a fasquia “desça dramaticamente”. Fá-lo por “falta de inteligência política” – remata.
Vladimiro Feliz, no Porto, e Carlos Moedas, em Lisboa, são as principais armas de Rio para as próximas eleições.