Dia 26 de setembro os portugueses irão às urnas para escolher os seus representantes autárquicos para os próximos quatro anos. Geralmente, uma eleição difícil para o partido que está no governo, sendo que, esta terá a particularidade de ser a primeira eleição em que o PS será avaliado após mais de um ano e meio de gestão da pandemia.
Teremos aqui o primeiro momento em que poderemos ter uma noção dos impactos eleitorais que tiveram os atropelos à constituição, da gestão política que, passou por estar constantemente a correr atrás do prejuízo, para não falar dos sucessivos casos polémicos que assombraram o executivo.
No entanto, não deixa de ser impressionante ver a aura de impunidade nos corredores socialistas e prova disso foi António Costa ter afastado, neste mês de agosto, qualquer hipótese de uma remodelação de governo, algo que todos deram como certa depois da Presidência Portuguesa do Conselho da União Europeia.
Há quem ache que existe um problema com o escrutínio em Portugal. Cada vez mais discordo dessa visão. O escrutínio até vamos tendo, o problema está na falta de consequências políticas perante os sucessivos casos de incompetência e de falta de seriedade. Francisca Van Dunem, Graça Fonseca, Marta Temido, Mariana Vieira da Silva, Pedro Nuno Santos, Tiago Brandão Rodrigues e até o incontornável Eduardo Cabrita.
Qualquer um deles já não deveria estar em exercício de funções, no entanto, parece que estão todos para durar. Quase sempre é mau sinal quando um político se sente muito confortável, até porque é do desconforto da sua posição que este poderá procurar ir ao encontro das necessidades do seu povo. Mas como é que alguém se pode sentir confortável em governar ao lado de todos eles?
A hipótese será ser pior do que eles, mas isso seriam contas de outro rosário. Porém, as contas deste são simples de fazer: António Costa sente-se demasiado confortável e isso pode ser bom para ele, é seguramente ótimo para o seu partido, mas é péssimo para o país.
O PS parte para as eleições de setembro com o maior resultado alcançado em autárquicas, suplantando o excelente resultado que já tinha obtido em 2013. A perspetiva socialista será manter tantas câmaras quanto possível e ir a jogo no estritamente necessário, evitando todos os combates que puder. Nesse campo tudo parece muito bem encaminhado. Se é possível que o PSD venha a recuperar algumas das câmaras que perdeu, não é de esperar um resultado substancialmente diferente daquele que tivemos há 4 anos.
Por instantes, ainda se sonhou com aquilo que aconteceu em Madrid protagonizado por Isabel Ayuso, mas, percebe-se que tal não irá acontecer na Lisboa de Fernando Medina. Infelizmente, se a direita quisesse ganhar o país, tinha obrigatoriamente que ganhar a capital. Se os espanhóis tiveram de escolher entre o socialismo e a liberdade, os portugueses terão de escolher entre a relevância e a irrelevância.
Aliás, é esse o triste traço comum entre o mapa cor-de-rosa (socialista) que manteremos e o episódio do mapa cor-de-rosa do século XIX. Ambos foram caminhos para a irrelevância, a pior delas todas, a irrelevância nacional.
Havendo números para todos os gostos, deixaria apenas estes: sabemos que o PS está no poder em 11 dos 18 concelhos no distrito do Porto e que o PSD tem apenas cinco Câmaras. No total dos 16 concelhos do distrito de Lisboa, temos 10 que são socialistas e apenas três que são geridos pelo PSD, sabendo ainda que a CDU tem dois municípios. A culpa de um possível mau resultado do PSD não será exclusivamente de Rui Rio, até porque, não foi com ele que o PSD passou de um grande partido nos centros urbanos para um partido médio. Também não será por culpa de um desvio de eleitorado para o Chega, uma vez que este nem existia há quatro anos.
Apesar do cenário ser desolador para uma alternativa de direita, o país político que sairá no final do próximo mês não será exatamente o mesmo daquele que tínhamos até agora. Seria importante perceber isso, pois existe um sério risco para as instituições políticas que, embora muito poucos o digam, têm sido severamente danificadas.
O triste destas autárquicas será ver que enquanto grande parte da direita se discute a si própria, o partido socialista arrisca-se a permanecer como o único partido de poder. A lição de 2017 não foi aprendida e ainda não se compreendeu que o combate ao PS tem de ser feito no ringue, sem medo e a querer disputar palmo a palmo cada município e cada freguesia. Neste particular, honra seja feita a André Ventura, pois mal ou bem, será dos poucos, ou talvez o único líder político a ter percebido isto.