Tirando a ‘espuma mediática’ – como diz ao Nascer do SOL o politólogo António Costa e Pinto – o Congresso do PS que decorre este fim de semana em Portimão será pouco mais do que a consagração de António Costa. Que é como quem diz: One Man Show.
Costa não tem oposição externa nem interna e a sua liderança é incontestada e incontestável nos próximos tempos, tanto no Governo como no Governo. O resto são especulações.
Por isso, António Costa não vai desperdiçar a oportunidade para lançar o apelo à mobilização dos socialistas para o próximo embate eleitoral – já daqui a menos de um mês (a 26 de setembro) – que assinalará a entrada para um novo ciclo político, que culminará na sua recandidatura a líder do partido e do Governo em 2023.
Tal como anunciou no último Congresso dos socialistas, Costa ainda está muito longe de preencher os papéis para a reforma. Além de se manter confortavelmente animado com as sondagens – que colocam o PS no limiar da maioria absoluta e lhe dão indíces de popularidade claramente acima de todos os demais líderes partidários –, Costa quer liderar o processo de execução do Plano de Recuperação e Resiliência pós-pandemia da covid-19 e os milhares de milhões da ‘bazuca’ europeia. Aliás, não deverá deixar de fazer a exaltação do povo português pela forma como soube responder à crise pandémica (tanto de saúde pública como na economia). A capacidade de resistência dos portugueses e de reação perante a adversidade ou a manifestação de maturidade cívica no processo de vacinação deverão também ser enfatizadas nos discursos galvanizadores do líder socialista.
Os outros ‘recados’, para dentro e para fora do partido, Costa deverá deixar a cargo do presidente do partido, Carlos César, que presidirá à mesa do Congresso – sendo que esta, ao contrário do que foi veiculado por diferentes órgãos de comunicação social – estará organizada «por ordem alfabética», como confirmou ao Nascer do SOL uma fonte da mesa.
Mais do que sobre os líderes dos partidos da Oposição, César deverá assestar baterias sobre o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa. Principalmente depois de Belém ter vetado a lei – aprovada no Parlamento com os votos do PS e do PCP – que perdoava as Câmaras, e seus respectivos presidentes, do incumprimento das regras de Apoio à Economia Local.
O PS tem mantido uma reação muito reservada sobre o veto presidencial, mas Carlos César não deverá deixar passar em claro em pleno conclave dos socialistas, até porque um dos visados é dirigente do partido Eduardo Vítor Rodrigues, que recuperou a Cãmara de Gaia do sobreendividamento mas, não obstante, tem um processo de perda de mandato por incumprimento do PAEL (Programa de Apoio à Economia Local). Recorde-se que, além de Eduardo Vítor Rodrigues, há outros quatro presidentes de câmara socialistas em causa e um outro do PCP.
Pedro Nuno em silêncio
Neste cenário, e apesar de todas as especulações mediáticas, os putativos candidatos à sucessão de António Costa, já meteram a viola no saco e ficarão a aguardar por novas e futuras (depois de 2023) oportunidades.
Assim, Pedro Nuno Santos, o hoje ministro das Infraestruturas que levantou o último Congresso, em Guimarães, em 2018, e obrigou António Costa a declarar em público que «ainda não» tinha posta «os papéis para a reforma», remeter-se-á a ruidoso silêncio durante este Congresso – como já fez saber.
Fernando Medima, pelo contrário, vai falar, mas para se recolher a Lisboa, cidade que as sondagens garantem que continuará a presidir. Ora, Medina escolheu para sua número dois uma independente, excluindo diretamente a hipótese de poder abandonar a presidência da Câmara antes de 2025. Quer isto dizer que está fora da corrida à sucessão de António Costa? De modo nenhum, se esta, como se prevê, só se vier a colocar em… 2025 e não em 2023.
Não é, portanto, com muita expetativa que os congressistas aguardam pela «surpresa» que Medina prometeu revelar em Portimão.
Quem também intervirá, mas como presidente da bancada parlamentar, é Ana Catarina Mendes, cuja entrada na lista dos potenciais sucessores de Costa vai ganhando adeptos e fazendo caminho.
Muito mais do que Mariana Vieira da Silva, a ministra de Estado e da Presidência que António Costa quis deixar no lugar de primeira-ministra interina em vez de Pedro Siza Vieira ou Augusto Santos Silva e que quis colocar entre os nomes de possíveis futuros líderes do partido, mas que tem mais tropas herdadas do pai – o antigo ministro da Segurança Social e homem forte do aparelho socialista, José António Vieira da Silva – do que propriamente seguidores seus.
‘Consagrar António Costa’
Esta mesma leitura tem António Costa Pinto, investigador coordenador do ICSUL e professor do ISCTE, que resumiu ao Nascer do SOL que este congresso irá, sobretudo, «consagrar António Costa», tendo em vista que «se aproxima em primeiro lugar das autárquicas». Depois, «como se realiza nas vésperas» destas, será um congresso «para fundamentalmente consolidar as candidaturas autárquicas do PS». Serve, então, para «realizar algumas tarefas que no geral estão mais fora da agenda mediática», como as «relações entre o partido e o aparelho partidário», que incluem a «mobilização da estruturas partidárias das distritais e concelhias» – um conjunto de assuntos a que António Costa Pinto chama «condições consecratórias», comparando o atual momento de Costa com as maiorias absolutas de Cavaco. Conclui, dizendo que, sobretudo, «não é de esperar nada, pois tratar-se-á de uma manutenção do status quo».
Também por isso, António Costa Pinto é perentório a afirmar que, «ao contrário de alguma espuma mediática», este «não será o congresso onde se poderá justamente salientar algumas dessas dimensões: não será o congresso para medir forças à sucessão do líder».
Apesar de admitir que «internamente será interessante observar nos corredores o peso relativo de alguns dirigentes», adianta que este Congresso não será o momento adequado para se discutir uma sucessão. Especialmente porque o «secretário-geral apontou para uma permanência no poder e provavelmente será primeiro-ministro num terceiro mandato».