Porto. Inabalável como granito, Rui Moreira volta a vencer

Rui Moreira foi reeleito para o seu terceiro e último mandato com 40,55%. Perde a maioria absoluta, mas revalida o poder.

O Porto repetiu-se: elegeu, com 40,55% e para os próximos quatro anos, Rui Moreira como presidente da câmara. Inabalável como granito – como o próprio se descreveu em maio -, Moreira, não obstante as Selminhos a ensarilhar-lhe os pés, viu a sua confiança ser renovada pelos portuenses. Completará, então, o seu terceiro e último mandato. Este, todavia, sem maioria absoluta.

A vitória, que era por todos esperada, foi, como também esperado, esmagadora. ‘O Movimento Aqui há Porto’ tornou-se, então, no grande vencedor da cidade invicta. Bastante abaixo – com 18,3% – ficou o PS de Tiago Barbosa Ribeiro. Seguiu-se-lhe, com 17%, Vladimiro Feliz, que, aumentando dos 10% de 2017, corporizou uma vitória para o PSD na cidade. Espaço ainda para a CDU e o BE: a primeira, liderada por Ilda Figueiredo, com 7,4%; já o BE, de Sérgio Aires, 6,3%. Quanto aos partidos mais pequenos, PAN e CHEGA rondaram os 3% e nenhum outro (Livre, Volt, PPM ou Ergue-te) ultrapassou os 1%. De notar que o IL e o CDS apoiavam o Movimento de Rui Moreira.

“Os portuenses não desiludem” Rui Moreira, por volta das 02.30 da manhã, hora em que se confirmou a sua não maioria absoluta, foi recebido com aplausos pelos seus apoiantes e garantiu que “os portuenses não desiludem”. “O partido que mais ganhou foi o Porto. O Porto vai continuar a ser forte e independente, com caráter granítico, que nunca esquece o seu papel na História de Portugal. Foi a vontade do Porto. Saberemos interpretar a vontade dos portuenses e tenho plena convicção neste projeto político independente”, afirmou.

O independente revelou que recebeu telefonemas dos adversários Vladimiro Feliz e Tiago Barbosa Ribeiro e declarou que das 6 juntas de freguesia às quais apresentou candidatos ganhou 5.

Se tranquilo já estava, mais tranquilo ficou Rui Moreira votou, às 11h30, em Nevogilde. O presidente portuense, que rejeitava qualquer stress e mostrava-se relaxado – tanto que até usou a tarde para tirar uma “soneca” -, aproveitou o momento para, diante os jornalistas, apelar ao dever cívico do sentido de voto: “Ninguém tem desculpa para não votar. Eu fiz 18 anos no 25 de Abril, lembro-me que antes os meus pais e os meus avós não podiam votar, e é bom que se retome o princípio de que as pessoas deveriam votar. É um direito, é uma obrigação. O voto é, de facto, a arma do povo – como se dizia nessa altura. Era importante que as pessoas votassem para não se queixarem que as escolhas que os outros fizeram não lhes agradam”.

Mayan a Presidente de Junta Tolstói dizia: “Se queres ser Universal, começa por pintar a tua aldeia”. Tiago Mayan levou a máximo do escritor russo ao limite e, após se ter candidato a Presidente da República, decidiu concorrer à da União de Freguesias de Aldoar, Foz do Douro e Nevogilde. Foi, ontem, eleito através do Movimento Rui Moreira. O velejador, que, no Porto, em janeiro, conseguira 8,12% das votações (quase mais 5% do que a sua média nacional), dará início então a uma viagem ao leme das freguesias costeiras do concelho portuense.

Ao i, confessa-se “muito contente” com a eleição. “Acima de tudo, o que isto representa para mim é a oportunidade de, além de pensar e dizer, fazer. É o que eu pretendia do percurso político que tenho feito”. Nota, também, ter beneficiado da rampa que o Movimento de Rui Moreira – “que demonstrou ter a aceitação geral dos eleitores” – lhe estendeu, encarando a perda da maioria como um “desafio a enfrentar e a resolver”. Por fim, relativamente a ter passado de candidato a Presidente da República para presidente de junta, Mayan nota ver os cargos com “igual dignidade”. “Vejo o mesmo num presidente de junta, de Câmara, da República: um vínculo direto em relação ao eleitorado. Vejo uma dignidade igual e mais do que num deputado ou num membro do Governo. Estou orgulhoso de ter recebido esse vínculo direto dos portugueses”.

Socialistas dominam a Norte, em torno do Porto Apesar de terem passado 24 anos desde a última vez que o PS venceu umas eleições autárquicas no Porto, os concelhos vizinhos da segunda cidade mais importante do país são ávidos adeptos dos socialistas, e pintam o mapa em torno da cidade Invicta, quase de forma geral, de cor-de-rosa.

Em Matosinhos, por exemplo, os socialistas dominam desde que há eleições autárquicas, com um breve intervalo entre 2013 e 2017, quando a autarquia foi presidida pelo independente Guilherme Pinto, oriundo dos quadros do PS. Em 2021, Luísa Salgueiro conquistou o segundo mandato seguido à frente da autarquia, e reforçou o poder socialista neste município.

Quem também solidificou a sua posição foi Eduardo Vítor Rodrigues, presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia e recandidato, que alcançou a maioria absoluta neste concelho na margem sul do rio Douro. O terceiro maior concelho do país é socialista desde 2013, e Eduardo Vítor Rodrigues não teve dificuldade em conquistar o seu terceiro mandato consecutivo neste município. O socialista, no entanto, não foi capaz de igualar ou melhorar os imponentes 61,68% atingidos em 2017, tendo de se contentar com uns 57,79% dos votos.

A sina do PS em torno do Porto continua quando se vira para Gondomar, a este da cidade Invicta, onde Marco Martins conquistou o terceiro mandato consecutivo à frente da autarquia, com as cores do PS. Todas as juntas de freguesia deste concelho elegeram Marco Martins, naquele que, segundo defendeu o mesmo, foi “o maior resultado de sempre para o PS de Gondomar”.

Maia ‘laranja’ Nem tudo à volta do Porto é socialista, no entanto. Na Maia, o PSD, em coligação com o CDS-PP, reforçou a liderança da autarquia, conquistando 9 das 10 freguesias deste município a norte do Porto, e, pelo caminho, reelegeu António Silva Tiago como presidente da câmara da Maia.