Não sou daqueles que procuram apoucar o resultado do PSD.
A noite eleitoral autárquica, mesmo com o Partido Socialista com resultados globais superiores, teve o PSD como claro vencedor. Foi esse o sentimento dos comentadores e foi essa a convicção dos portugueses.
O PSD alcançou todos os objetivos que fixou e ainda conseguiu mesmo vencer em autarquias muito importantes em termos simbólicos ou com peso eleitoral significativo. O PSD alcançou um resultado melhor do que em 2017, mas também superior a 2013. Não foi um resultado ‘poucochinho’.
A perceção de início de mudança de ciclo político no país assenta na leitura dos resultados globais obtidos pelo PSD. O significado matemático de ponto de inflexão aplica-se exatamente à evolução dos resultados autárquicos ao longo dos últimos atos eleitorais. A trajetória descendente foi invertida passando a ascendente. Esta circunstância perspetiva a possibilidade de mudança de ciclo político.
Vejamos os resultados para as Câmaras Municipais. Desde as eleições de 2009 e até ao ciclo que agora termina, o PSD perdeu sucessivamente peso eleitoral e influência, dito de outro modo, diminuiu o número de presidentes de câmara e perdeu votos. Nestas eleições inverteu essa tendência e aumentou os resultados, tendo registado mais do que em 2017 e mais do que em 2013.
A evolução no número de presidentes de câmara do PSD foi a seguinte: 139 (2009); 106 (2013); 98 (2017); 114 (2021). O mesmo sucedeu com os vereadores eleitos. A evolução de votantes no PSD foi a seguinte, respetivamente: 2.142.566; 1.570.601; 1.569.424 e 1.598.755. Os resultados para os restantes órgãos autárquicos – Assembleias Municipais e Assembleias de Freguesia –, com algumas variações, seguem a mesma tendência.
Em sentido inverso, nos atos eleitorais anteriores ao deste ano, o PS foi aumentando o seu resultado. No entanto, em 2021 verificou-se uma quebra significativa nos resultados obtidos: diminuiu em 13 o número de presidentes de câmara, perdeu vereadores e teve menos 171.000 votos do que em 2017. Para o PS, os resultados nas eleições autárquicas podem significar também um ponto de inflexão, mas em sentido negativo. Até agora aumentou e desta vez diminuiu.
Os resultados verificados nas eleições autárquicas, embora com valores ainda superiores do PS em relação ao PSD, perspetivam uma tendência clara de crescimento social-democrata e de diminuição socialista. Se considerarmos que à direita do PSD existem partidos em crescimento e que à esquerda do PS os partidos diminuíram os resultados, a tendência de crescimento social-democrata torna-se ainda mais relevante.
Os resultados do PSD, para além de numericamente relevantes, foram também significativos nas vitórias alcançadas: O reforço nos Açores em linha com o sucesso nas últimas eleições regionais, o aumento da implantação no Alentejo, o reforço em zonas urbanas contrariando a diminuição de influência em áreas de elevada concentração populacional, a conquista da maioria das capitais de distrito e, o mais significativo pela importância e pelo inesperado, a vitória em Lisboa.
Em relação ao resultado eleitoral em Lisboa, não pretendendo desenvolver as circunstâncias, há dois aspectos que merecem atenção. Por um lado, o facto de ter ficado demonstrado o cansaço dos lisboetas em relação à gestão socialista da câmara da capital e às suas consequências para a vida da cidade; por outro lado, a inequívoca a diferença de atitude entre os dois principais candidatos.
Em Lisboa ganhou uma atitude humilde, sincera e séria de fazer política, com atenção às pessoas, sem encenações, sem rajadas de promessas, com verdade. Também no país as pessoas começam a ficar cansadas desta forma de governar. A mesma atitude que venceu em Lisboa pode ganhar o país. Esse deve ser o caminho.