O xadrez político à direita começou esta semana a ganhar contornos de clarificação tanto no PSD como no CDS, mas de forma bem mais acelerada entre os centristas. Tal como o Nascer do SOL noticiou na semana passada, o CDS fará o seu congresso no fim de novembro (nos dias 27 e 28) e frente a frente estarão Francisco Rodrigues dos Santos e Nuno Melo.
Já o PSD definirá o seu calendário no conselho nacional da próxima quinta-feira, sendo que, na melhor das hipóteses, as diretas poderão ser ainda antes do natal e o congresso no início de janeiro. Na corrida estarão Rui Rio e Paulo Rangel. Jorge Moreira da Silva continua uma incógnita e Luís Montenegro veio assumir publicamente, esta semana, que não tenciona «protagonizar nenhuma candidatura ao PSD». Já Miguel Pinto Luz, que concorreu nas últimas diretas do partido contra Montenegro e Rio, desta vez estará ao lado de Paulo Rangel, sendo que se espera um comunicado a anunciar que está fora de jogo na próxima terça-feira.
Quanto a Rio e a Rangel, ao que o Nascer do SOL apurou, não devem fazer qualquer anúncio formal antes da reunião do conselho nacional. Por um lado, esse deverá ser o palco para o líder antecipar o que vai fazer e, segundo fontes sociais-democratas, Rangel só deverá anunciar a sua candidatura à liderança do partido depois de Rio esclarecer a sua posição.
Quanto às disputas no CDS e no PSD, as batalhas não são tão avulsas como poderia pensar-se: em ambos os casos, as investidas para a tomada de assalto da São Caetano à Lapa e do Largo do Caldas partem de Bruxelas e têm outras orquestrações associadas. Os eurodeputados Rangel e Melo, colegas no Partido Popular Europeu e antigos camaradas nas eleições às europeias, estão ambos associados a um grupo de influência à direita intitulado Nova Vaga.
Num cenário ideal para o candidato social-democrata que vem do Porto é que o seu colega bracarense consiga derrotar Francisco Rorigues dos Santos. E o inverso tem se aplica, com Melo a desejar que Rangel derrube Rui Rio.
Não há uma frente de ataque unida, mas há pontes em comum.
Assim como do lado das atuais lideranças de ambos os partidos, se houve uma convergência que deu frutos nas autárquicas, permitindo tanto a Rio como a Rodrigues dos Santos cantar vitória na noite eleitoral do passado dia 26 de setembro, não é certo que esse entendimento pré-eleitoral seja reeditado nas próximas legislativas.
Ao que o Nascer do SOL apurou, Rio não tem interesse em vincular-se a qualquer compromisso de coligação pré-eleitoral com o CDS-PP, seja Francisco Rodrigues dos Santos líder ou Nuno Melo. A estratégia do PSD de Rio, à partida, é de o PSD se apresentar às urnas sozinho e não em coligação.
Já Francisco Rodrigues dos Santos tem vindo a repetir publicamente que não só admite como deseja uma coligação com o PSD, seja quem for o líder do PSD, Rio ou Rangel.
‘Agora o Congresso’
Certo é, porém, que a prioridade para Rodrigues dos Santos, agora, é vencer o congresso do seu partido. «A partir deste momento acabou o país, o que interessa é ganhar o congresso», frisou o líder centrista na última reunião da sua direção, esta semana, conforme relatou ao Nascer do SOL quem assistiu.
Na ocasião, o presidente do partido justificou a antecipação da reunião magna dos centristas para o mais breve possível: «Não podíamos ter quatro meses de guerra. Seria um desgaste enorme para o partido e para mim em particular, atendendo ao estado periclitante em que se encontra o partido na opinião pública», disse.
Nova vaga
Como é natural em política, a história não é feita de linhas retas, com princípio, meio e fim.
E nem sempre os aparelhos partidários ditam todas as regras. Há influências externas que podem condicionar ou contribuir para mudar o rumo das coisas.
O grupo Nova Vaga, por exemplo, junta nomes do centro-direita e da direita que se movem nos dois partidos. A ele pertencem nomes como Carlos Moedas – cujo peso político saiu reforçadíssimo com a recente vitória em Lisboa –, Sofia Galvão – que foi a «estratega política mais próxima» de Moedas (como ele a apresentou no discurso de vitória) e uma das vice-presidentes de Passos Coelho – e Paulo Rangel.
Este grupo, que se reúne mensalmente para analisar a vida económica e política do país, de momento, não tem influência direta nas cúpulas do PSD e do CDS – mas isso é algo que se pode inverter neste novo ciclo político.
Nuno Melo não faz parte da Nova Vaga, mas é bem visto pelos seus membros.
Críticas a Melo e Rangel
Ao que o Nascer do SOL apurou, Rangel e Melo mantêm uma relação política bastante próxima, tendo o primeiro algum ascendente político sobre o segundo.
Há, contudo, quem defenda que Rangel não quererá dar qualquer protagonismo aos centristas e ao CDS, nem com Nuno Melo nem com Francisco Rodrigues dos Santos, caso seja eleito presidente dos sociais-democratas.
Já no CDS, e tal como Francisco Rodrigues dos Santos, também Nuno Melo vê com bons olhos uma relação de estreita proximidade com o PSD, seja de Rangel, preferencialmente, seja de Rio.
Há, contudo, críticas apontadas aos dois candidatos centristas: quadros próximos da ala da bancada parlamentar criticam o facto de Nuno Melo apresentar «as velhas caras de sempre», ou seja, os portistas, «que perderam o emprego» e que «procuram recuperá-lo».