Decorreu, ontem, ao final da tarde, a tomada de posse dos novos órgãos municipais de Lisboa. Entre estes, tomou posse o novo presidente da câmara, de seu nome Carlos Moedas. A cerimónia decorreu diante dos Paços do Concelho de Lisboa, estando presentes Cavaco Silva, Pinto Balsemão, Passos Coelho, Rui Moreira, Carlos Carreiras, Isaltino Morais, Santana Lopes, José Luis Martínez-Almeida (Alcalde de Madrid), Rui Rio, Francisco Rodrigues dos Santos, Mário Centeno, Luís Montenegro, Paulo Portas, Marques Mendes e outros. Todos eles sem máscara: no mínimo, uma mensagem política de que a pandemia foi ultrapassada.
Antes de discursar, Moedas foi chamado a palco para receber o colar que simboliza o poder executivo. Pelo caminho, cumprimenta Fernando Medina. De colar ao pescoço, e voltando à plateia, cumprimenta – por ordem de importância na coligação que o levou a celebrar esta cerimónia – Rio e Rodrigues dos Santos. Seguiu-se música para inspiração antes do discurso: João Leote interpreta a “Canção de Lisboa”. Rodrigues dos Santos, sentado na primeira fila, murmura a canção: afinal, tem motivos para cantar. Canção finda. Moedas começa: é tempo de uma nova “Canção de Lisboa” – a sua.
Sob uma luz crepuscular, Moedas deu início ao discurso de tomada de posse da cidade da luz boa. Quase não olhou para o papel. O discurso, naturalmente, começou pelos agradecimentos e saudações protocolares, começando por Cavaco Silva e acabando nos trabalhadores da Câmara Municipal de Lisboa. Seguiu-se a primeira de inúmeras citações. Munido de Saint-Exupéry, o novo ‘principezinho’ de Lisboa começou por explicar a importâncias dos “rituais” na sua vida. Estes, por exemplo, existiam em Bruxelas, onde, explicou, pediu para colocar no corredor para o seu gabinete uma fotografia de cada antecessor seu: porque o “o cargo está sempre acima da pessoa” e porque “outros passaram pelo mesmo, tiveram os mesmos anseios e as mesmas angústias”. Daqui, viajou para o ritual agora vivenciado nos Paços do Concelho: de Aquilino Ribeiro a Fernando Medina, muitos foram aqueles que já marcaram presença em momentos como aquele. Importantes – embora “desvalorizados pela modernidade” – por serem “passagens de testemunhos”. Quais testemunhos? A “comunidade, os lisboetas, o espaço, o território e os seus recursos, e as regras”. Regras essas que levam, claro está, à “harmonia entre cidade espaço”. Afinal, para se poder “combater a tragédia dos comuns”, a “comunidade tem de estar sempre acima de todos”.
E como se faz isso? Segundo o seu discurso, os “Novos Tempos” distinguem-se por os “políticos confiarem e envolverem mais os cidadãos” – a sua maior prioridade enquanto presidente da Câmara de Lisboa: “Fui criticado por usar a palavra pessoas em demasia, mas fi-lo por estar profundamente convicto de que a comunidade tem de estar no centro de tudo. Se os políticos confiarem mais e envolverem mais os cidadãos, serão surpreendidos pela capacidade da comunidade”. Além disso, Moedas prometeu reduzir os impostos municipais, tornando Lisboa uma “cidade fiscalmente amigável”, e afirmou que procuraria tornar Lisboa uma “fábrica de empresas” e o “centro mundial do mar”. Tal, contudo, não impedirá que “a cidade cuide dos lisboetas” (e, como que propositadamente, neste preciso momento, ouviam-se ambulâncias nos Paços do Concelho).
Voltando à luz, Moedas considerou-a, agora citando Louis Brandeis, como “o melhor desinfetante”: “Pois só através da transparência podemos curar as nossas feridas” – feridas essas que serão precisas admitir para depois cicatrizar. Sem recorrer ao papel, Moedas continuou para tocar na ‘ferida mobilidade’: quer “reduzir preços, reduzir tempos, reduzir emissões, tornar o estacionamento mais acessível e redesenhar a rede de ciclovias”. Nota até, querer “aumentar a circulação de bicicletas: mas de forma mais segura e equilibrada”. No público, Fernando Medina deixava escapar um sorriso simpático. Moedas frisava ainda a já conhecida proposta de transportes gratuitos para “os mais velhos e mais novos”.
Na cultura, apelou a que não houvesse “tribos ou fações”. Algo, aliás, que estendeu ao seu executivo: “Todos os que hoje tomaram posse têm direito a lutar pelas suas convicções: mas também exijo que se respeite a legitimidade do nosso executivo”. Afirmou que “trabalhará de forma incansável para gerar consensos”, garantindo ser “preciso acabar com a política de fricção”.
Ainda, espaço para a dignidade: no seu discurso, Moedas deixou um rasgado elogio a Fernando Medina e à maneira como este lhe passou a pasta: “Tão digna, tão democrática”. Através do seu antecessor fez a ponte para os trabalhadores da Câmara Municipal de Lisboa, que paravam as suas vassouras para ouvir o seu novo edil. “Trabalhadores da Câmara, quero ouvir-vos. As melhores soluções vêm sempre de baixo para cima e não de cima para baixo. Trabalhamos para lisboetas, trabalhamos para Lisboa. Não serei um presidente de gabinete”.
O ‘novo principezinho’ volta ao ritual para terminar onde começara. Notando ser o “fim de um ciclo” e o “início de outro”, evocando os antigos adversários, Moedas conclui: “Recai sobre nós, a partir de hoje, o espaço dos lisboetas. O poder local é mais pesado porque é mais próximo e muda a vida das pessoas todos os dias. Darei tudo como presidente”. E os vivas, claro: “Viva Lisboa, viva Portugal”.
Corrida ao PSD De notar ainda que, tanto Rangel como Rio, ambos presentes na cerimónia, rejeitaram comentar a corrida à liderança do PSD.